quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Homem-pássaro

Em dia típico de balanços do ano e da vida, e de resoluções para o próximo ano e resto da vida, nada como deparar com novas realidades para desafiar os nossos paradigmas.



Obrigado The Science of Sport


Será que é a este tipo de actividades que o meu pai se refere quando diz "Tu vê lá, não te estiques!"? Pode ficar descansado que não estou a pensar meter-me em cenas destas! Desportivamente, em 2010 tenciono ficar-me pelos habituais pentatlos, triatlos e maratonas.

Interessante como este tipo de vídeos ou reportagens nunca referem taxas de mortalidade, ou pelo menos horas de treino e energia gasta para chegar ao nível de terminar ileso um salto destes. De qualquer forma, estas "maluquices" podem sempre despoletar pensamentos úteis e aplicáveis a todos:

  • Será que sofro de excessiva sanidade mental, auto-limitando-me ao acreditar que determinadas actividades ou objectivos na vida são demasiado difíceis ou mesmo impossíveis e assim criando profecias auto-realizadoras negativas?

  • Estarei a investir o meu ser, a minha existência (o tempo, energias, disponibilidade mental, etc.) de forma adequada para atingir os meus objectivos na vida?

  • Sou capaz de discernir quais são os saltos que devo dar e aqueles que devo evitar?

  • Tenho tido a coragem e a confiança para avançar quando estou à beira do abismo e o caminho certo é em frente?

  • Quando voo a 200 à hora na vida, sei quando tenho de virar à esquerda ou à direita para continuar no bom caminho, ou quando tenho de abrir o pára-quedas e fazer uma pausa?


O que é que me impede de voar, de ser homem-pássaro na minha vocação?

Feliz 2010, com muitos voos de sucesso! Ou pelo menos muitos "treinos" em direcção a grandes voos!



Quem quiser saber mais sobre estes homens-pássaro e/ou começar a voar:



foto: Raise the Sky (recorde dos EUA de formação de homens-pássaro: 68)

domingo, 20 de dezembro de 2009

Buli vice-campeão de pentatlo!

Fiquei em segundo lugar no campeonato nacional de pentatlo moderno! (resultados completos aqui)



Foi o meu melhor resultado no campeonato desde 1998, quando fui campeão nacional. Devo muito deste segundo lugar ao desempenho no hipismo e na esgrima: fiquei em primeiro lugar nos dois eventos, em ambos ex aequo com o campeão nacional.

A excelente prova de hipismo, sem penalizações, aconteceu graças à espectacular colaboração da minha equina companheira de equipa, Panema. Tivemos alguns desentendimentos iniciais nos 20 minutos de aquecimento, com ela a expressar com algumas cangochas que não estava a gostar de me levar em cima. Mas lá nos conseguimos entender melhor e encontrar sintonia para uma prova razoável, em que ela se portou melhor que eu, safando-nos de um par de situações em que eu não preparei a abordagem aos obstáculos da melhor forma. Felizmente, quando teve opção de escolher saltar ou não saltar, a Panema escolheu o salto. Obrigado, Panema!

Campeonato Nacional Absoluto 2008



O resultado na esgrima foi muito bom, mas não livre de deslizes. Fiquei muito satisfeito por conseguir colocar-me num espírito guerreiro, assertivo e confiante, e também pelos momentos de inspiração em que saíram toques automáticos, produto de lições de esgrima feitas no século passado. Há coisas que ficam registadas no nosso corpo e cérebro e se revelam nos momentos mais oportunos!

Mas pentatlo são cinco disciplinas - não basta montar a cavalo e esgrimir, há que nadar, atirar e correr também!

A natação (200 metros livres) foi melhor do que esperava dado o reduzido treino dos últimos meses: 2'37". Mais 20" que o meu melhor tempo de sempre (feito há 10 anos) e menos 14" que o pior tempo dos últimos anos.

O combinado de tiro e corrida é um novo formato de competição no pentatlo desde o início deste ano. Consiste em correr cerca de 20 metros, disparar 5 tiros, correr 1 km, 5 tiros, 1 km, 5 tiros, 1 km e acabou. Total de 3 kms corridos e 15 tiros. Este novo formato exige um tiro o mais rápido possível, menos preciso que anteriormente. Treinei um par de vezes e esta foi a minha segunda prova. Verifiquei rapidamente que não é fácil ser rápido e preciso, especialmente com o coração acelerado após 1000 metros corridos em pouco mais de 3 minutos. Acho o novo formato divertido e parece que é apreciado pelo público. Não posso deixar de sentir que se perde bastante do tiro de precisão a que me habituei nos últimos... 15 anos de pentatlo, mas vejo que existe um bom novo desafio para os pentatletas de todo o mundo. A prova de combinado correu razoavelmente e consegui ser o segundo atleta mais rápido (com um tempo bastante lento, consequência especialmente do duríssimo percurso de corrida, com subidas brutais).



Não posso dizer que tudo isto tenha sido resultado de treinos intensivos. Desde que me "reformei" do pentatlo competitivo há 10 anos tenho corrido bastante (mas mais distâncias longas, em preparação para maratonas e triatlos, por isso tenho perdido velocidade) e nadado de vez em quando. Disparei muito pouco e desde 2003 só faço esgrima e hipismo em provas (menos de 10). É interessante ver como as disciplinas técnicas não se esquecem tanto assim e como são as disciplinas físicas que requerem maior disciplina para me manter em forma.

Estes resultados deixam-me sempre a pensar que deveria concentrar-me mais no treino para o pentatlo, correndo e nadando mais rápido (em vez de mais longe, como nas maratonas e triatlos), e treinando mais esgrima e tiro (o hipismo está bom assim), para ser mais competitivo. Mas rapidamente surgem tentações de triatlos, maratonas, corridas de aventura e orientação... que me desviam por outros caminhos. O meu problema é que sou demasiado ecléctico mesmo e não me consigo especializar. Nem num desporto já por si tão ecléctico como o pentatlo!


Gostaria de agradecer ao Alex a amizade e o apoio de sempre, incluindo transportes, treinos, inscrições e equipamentos diversos. Sem a tua ajuda não seria possível aparecer de repente nestas provas, por vezes directo do aeroporto, e conseguir entrar em acção imediatamente! E muito obrigado pelos fantásticos duelos de combinado, que temos de continuar a fazer!

Obrigado também aos organizadores e árbitros, por continuarem a pôr provas de pé, para nós, atletas, disfrutarmos e nos superarmos.

Parabéns a todos os atletas por terem dado o seu melhor neste campeonato, e ao Afonso por nos ter batido a todos! Continuem a treinar, que para o ano há mais... e no seguinte, e no outro e no outro... Contem com o Buli em acção por muitos e bons anos!

domingo, 6 de dezembro de 2009

Tralhas da Vida

Tenho o privilégio de ver frequentemente caírem na inbox mensagens novas da minha prima Xica, que ela envia para a mailing list da família. Assunto invariavelmente estranho, como por exemplo "Socorro: piropo em vias de extinção" ou "Se não fossem os telegramas eu não era nascida", obrigando a urgente leitura.

No corpo do e-mail, fantásticas crónicas, textos, cenas, tralhas - o que lhes queiramos chamar. Partilhas, memórias, sentimentos, histórias de amigos e familiares, observações sobre a sociedade, a natureza humana, xicosofias... Tudo condimentado com fina perspicácia, umas pitadas de humor aqui e ali, e emoção a gosto.

Apesar de muitos textos parecerem à partida interessar mais a quem trata a Xica por tu, os 549... perdão, 550 fãs (and counting!) no Facebook atestam o interesse geral que as crónicas de Francisca Prieto despertam. A tal ponto que uma editora decidiu compilar num livro as tralhas publicadas de Março a Outubro.



Podes e deves comprar o livro "Tralhas da Vida" online no site da editora e/ou seguir as frequentes novidades nas "Tralhas da Vida" no Facebook. Se quiseres receber tralhas por e-mail, vais ter de pertencer à família... Se não é o caso mas estiveres disponível, talvez sobre por aí alguém solteiro que se candidate a dar-te entrada?

Xica: livra-te de deixares de precisar de terapia da escrita! Conto com mais tralhas a caírem de vez em quando no e-mail por muitos anos!


[Actualização a 11/Jan: artigo no i sobre as Tralhas. E já são 743 fãs... and counting...
Actualização a 28/Jan: 1056 fãs... qualquer dia é declarada epidemia pela Organização Mundial da Saúde!]

foto com a autora no lançamento oficial (atrás, montra decorada de "Tralhas")

sábado, 5 de dezembro de 2009

Natal - marca registada

“O papa entrou no escritório da organização mundial da propriedade intelectual, preencheu o formulário e tirou uma senha. Quando chegou a sua vez dirigiu-se ao balcão sete, Quero registar o natal, por favor, Como, perguntou o funcionário, Registar o natal, insistiu o papa...”

(Talvez o Saramago queira começar assim um livro um destes dias? Já estou a imaginá-lo a descrever as sempre incrivelmente verosímeis reacções humanas a acontecimentos improváveis. Ups... Saramago e Natal na mesma bulicena... já começamos mal :) )

Como é que as igrejas cristãs ainda não se lembraram desta: registar a marca Natal®! Em todo o mundo e em todas as línguas!





Para quê registar o Natal®?

Primeiro que tudo, para proteger o Natal® de apropriações nefastas, controlando o uso da palavra e do conceito. Nesta altura do ano é impossível não ser bombardeado por todas as direcções e sentidos com invasiva publicidade a dizer “Campanha de Natal”, “Catálogo de Natal”, “Promoção de Natal”... Mas quem deu o direito a estas empresas todas, de telecomunicações, electrónicos, roupa, supermercados, etc., etc., de fazerem o que quer que seja “de Natal”?? Por quê deixar estas empresas abusarem de um conceito de origem claramente imputável ao nascimento de Jesus Cristo, e portanto, penso eu de que, passível de registo de propriedade por quem consiga argumentar que é “herdeiro” de tal acontecimento? E parece-me que os herdeiros naturais serão as igrejas cristãs. (Há certamente seguidores de Cristo não associados a estruturas organizadas, mas acredito que não ficariam muito incomodados se as igrejas se apropriassem do conceito. Ou talvez gerasse bastante polémica especialmente se desse origem a astronómicas receitas para os donos da marca.)

Segundo, se assim for decidido, para lucrar (sim, financeiramente) com tão poderosa marca! Registar o Natal® poderia abrir incríveis oportunidades de financiamento para as igrejas, talvez permitindo dar uma nova escala às obras realizadas e ao impacto no mundo. Imaginem se houvesse um royalty a ser pago aos donos da marca de cada vez que lêssemos ou ouvíssemos Natal® (e suas derivações: natalício, natalino...) utilizado para fins comerciais .





A gestão que o Comité Olímpico Internacional (COI) faz da marca olímpica (uso das palavras, dos anéis olímpicos, etc.) pode servir de inspiração. Os objectivos do marketing olímpico (página 5 do último relatório de marketing do COI, publicado na semana passada) podem ser facilmente adaptados e adoptados como objectivos do marketing natalício:
  • Garantir a estabilidade financeira independente da igreja, e promover a religião e o Natal® globalmente

  • Criar e manter programas de marketing de longo prazo para assegurar o futuro da igreja e do Natal® e outras iniciativas

  • Aproveitar as actividades de sucesso desenvolvidas ao longo do tempo e evitar recriar a estrutura de marketing em cada novo Natal®

  • Assegurar uma distribuição equitativa das receitas por toda a igreja em todo o mundo e apoiar financeiramente a religião em países emergentes

  • Assegurar que o Natal® pode ser vivido pelo máximo número de pessoas por todo o mundo

  • Controlar e limitar a comercialização do Natal®

  • Proteger o valor inerente à imagem e ideal do Natal®

  • Recrutar o apoio de parceiros de marketing do Natal® na promoção dos valores natalícios


Segundo o mesmo relatório de marketing, o COI teve receitas de marketing de 5,45 mil milhões de dólares no quadriénio 2005-2008. Uma ninharia para as grandes igrejas (parece-me, já que estive à procura de informações e parece bem difícil encontrar o Relatório e Contas da Igreja Católica, por exemplo). Mas as iniciativas (Jogos Olímpicos) e fontes de receitas do COI poderiam inspirar as igrejas: direitos televisivos (47% da receita), patrocínios (44%), bilheteira (5%), licenciamento (3%).

Assim de repente não me ocorre um mega-evento natalício que justifique direitos televisivos milionários, como acontece com os Jogos Olímpicos. Mas consigo imaginar uns bons milhares de milhões a serem pagos por empresas que se queiram tornar “parceiras do Natal®” ou licenciar o Natal® para poderem usar nas suas campanhas nesta época do ano. E receita de bilheteira? Na maior parte das igrejas em que tenho entrado aí pelo mundo não é cobrada entrada. Parece-me bem que não se cobre entrada a quem vai rezar ou participar numa cerimónia religiosa. Mas por que não cobrar aos turistas? Há duas semanas estive na Catalunha onde detectei uma tendência a cobrar por entrar em igrejas. Por exemplo, para visitar a catedral de Girona (que como o próprio nome indica é uma cidade muito gira) e o seu museu pagavam-se 5 Euros. Parece-me muito bem.

Com tudo isto, o uso consumista do Natal® provavelmente seria reduzido, visto que as empresas teriam de começar a pagar por ele. Provavelmente recorreriam ao truque de mudar o foco para a secular Passagem de Ano ou de começar a chamar outra coisa ao Natal® (em inglês usa-se o ridículo “happy holiday season” quando se quer ser “religiosamente correcto”; acho que em português ainda não se inventaram mariquices dessas – ou sou eu que ando muito distraído? ... Sou realmente distraído: claro que temos a mariquice das "Boas Festas"!).


Riscos

Claro que há sempre o risco de as igrejas cristãs, ao se enfiarem em terrenos sujos, se sujarem. Já estou a imaginar o Bento XVI a ocupar 99% do seu tempo a tomar decisões financeiras, a aprovar contratos de licenciamento, a passar tempo com patrocinadores... Pior que gastar o tempo com temas tão mundanos poderá ser a tentação de aproveitar um pouco de tal fartura – em vez de escândalos de padres pedófilos passaríamos talvez a ouvir falar de padres corruptos. E mesmo que os religiosos não se deixem corromper, existe o sério risco de as igrejas se venderem, deixando não só que o Natal se torne (ainda mais) um evento tremendamente comercial, como também que outras partes das igrejas e das suas actividades se deixem infectar por essa comercialização. (O COI ainda vai mantendo os espaços desportivos dos Jogos Olímpicos limpos de publicidade... mas é difícil concordar que os Jogos Olímpicos não estão profundamente comercializados.)


Dificuldades

Se as igrejas cristãs decidirem que as vantagens compensam os riscos, não será fácil registar a marca Natal® e geri-la adequadamente. Além da tradicional, milenar inércia da Igreja Católica e suas primas, a principal dificuldade é que as igrejas cristãs terão de entrar em acordo! Talvez uma boa oportunidade para reverter os cismas que foram fragmentando a igreja ao longo dos últimos 2000 anos? Ainda mais difícil do que um entendimento entre as grandes igrejas (Católica, Protestantes, Ortodoxa) será chegar a acordo com organizações não tão grandes como os Mórmon, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), a Maná, entre outras.

No cenário improvável em que as várias igrejas cheguem a um acordo, não será tarefa simples convencer a Organização Mundial da Propriedade Intelectual da legitimidade do registo da marca.

No cenário ainda menos provável de se conseguir registar a marca Natal®, a sua gestão não será nada fácil. Não só devido às prováveis diferenças de interesses e preferências entre as várias igrejas gestoras, mas especialmente porque elas não são propriamente reconhecidas internacionalmente pelas capacidades de marketing do seu pessoal (com a excepção da IURD e concorrentes com posicionamento e estratégia semelhantes). O Vaticano devia era mandar alguns padres fazer MBAs. Já tentei convencer o meu irmão, mas ele não parece entusiasmado com a ideia.

Talvez ele me consiga ao menos arranjar o e-mail de Bento XVI, para ver se partilho estas consultorias?

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Sufocado por saco de plástico

Nos últimos anos, alguns governos baniram ou aplicaram impostos sobre sacos de plástico (bom artigo sobre a tendência aqui). Por que não todos?

Eu evito trazer sacos do supermercado, mas às vezes passo lá despreparado e, apesar de doer um pouco trazer mais um saco, ainda não dói o suficiente para não o trazer. Se o supermercado não tivesse sacos ficava o problema resolvido: ou voltava noutra altura ou levava as coisas na mão se fosse urgente.

Há dias reparei que o Carrefour em Espanha (perdão, na Catalunha!) deixou de ter sacos de plástico (e tem um site todo ecológico). Nem oferecidos, nem à venda. Até ao fim do ano ainda oferece sacos biodegradáveis, para ajudar os clientes mais distraídos na transição. Em 2010 ou o cliente leva um saco de casa ou leva as compras na mão.




Mas não deveria ser preciso o governo ou o supermercado tomar a iniciativa. Como é possível que eu seja incapaz de abolir os sacos de plástico?? Será preciso morrer sufocado por um saco de plástico (por exemplo, durante a prova de natação de um triatlo)?


Para quem se pergunta por quê acabar com os sacos de plástico, talvez (re)ver esta bulicena ou ler esta ajude a sensibilizar.