O plano era completar o meu segundo 1/2 Ironman (1.9 km de natação, 90 km de ciclismo e 21 km de corrida), depois de Porto Santo no ano passado. Mas o triatlo de Desaru era uma prova bem relaxada em muitos aspectos e acabou por ter distâncias algo diferentes, ainda assim a merecer o nome de "triatlo longo": aproximadamente 2.2 km de natação, 85 km de ciclismo e 19 km de corrida (tendo em conta o calor infernal, aqueles 2 km a menos na corrida não souberam nada mal!).
Foi o meu primeiro triatlo com o Banana Prata Triathlon Club, o grupo de loucos Ironmen e candidatos com quem tenho treinado nos últimos dois meses (tema para uma bulicena um dia). Espero que o primeiro de muitos triatlos! Este grupo é "péssima" companhia e arrisco seriamente uma infecção com o vírus do Ironman...
Fiquei muito satisfeito com o resultado desportivo e com o excelente fim-de-semana passado em Desaru (a um ferry + 80 km pedaláveis desde casa)! No espírito relaxado da prova, não registei os tempos na prova e só soube o meu tempo e classificação final duas semanas depois (não havia chip para registo automático dos tempos). Fiz: . 38'35" na natação (13º melhor tempo) . 3h11'11" no ciclismo, incluindo transições (247º tempo). Ia com uma média de uns 30 km/h, mas tive um furo a 20 km do final e devo ter perdido 10 a 15' na troca de câmara de ar (eu sei, tenho de praticar mais...) . 1h26'06" na corrida (3º melhor tempo, que me levou do 181º para o 47º lugar final!). Ao contrário do meu costume de passar a todo o gás, parei em cada um dos postos de abastecimento de água, para aí a cada 2 km, onde tentava arrefecer o corpo o máximo possível despejando água - felizmente bem fresca - na cabeça e pelas goelas abaixo. O efeito era espectacular... durante 2 ou 3 minutos sentia-me muito melhor!
Tempo final: 5h15'52" (resultados completos aqui).
O maior acontecimento do fim-de-semana foi certamente a Sílvia ter feito o seu primeiro triatlo!!
Clicar na foto para ver a reportagem fotográfica da Sílvia, incluindo fotos dos companheiros Banana Pratas:
Após sensata paragem de 6 semanas (prescrita pelo Dr. Google) devido a fractura do mindinho do pé esquerdo (obrigado por todos os conselhos e mensagens de apoio!), celebrei o regresso à acção este fim-de-semana, no triatlo internacional de Singapura! Terminei em 8º lugar no escalão 30-34 anos (hei! não era 20-24??), com um tempo de 2h27'58" (próximo dos meus tempos habituais). Prova muito internacional, com 12 nacionalidades nos 14 primeiros lugares. Resultados completos aqui.
Com apenas 2 semanas de treinos de corrida e pouco mais de ciclismo, o objectivo principal era o habitual: curtir a prova... e terminá-la o mais rapidamente possível :)
Na natação, acostumado à falta de nadadores rápidos, lancei-me para a frente do grupo (havia uns 10 grupos a partirem a horas diferentes) logo nos primeiros dos 1500 metros. Acabei por andar em segundo praticamente o tempo todo, terminando a 15 segundos do primeiro (5º no grupo 30-34, que estava dividido em duas partidas). (Deve ser engraçado para os meus amigos do desporto verem-me como grande nadador nos triatlos singapurenses, já que nem nos meus tempos áureos no pentatlo fui conhecido propriamente como bom nadador... e certamente não melhorei nos últimos 10 anos!)
Na bicicleta mantive durante os 40 km um ritmo próximo dos 30 km/h e não notei ter sido passado por muitos atletas do meu escalão. Analisando a prova, fiquei com a sensação de que talvez pudesse ter pedalado um pouco mais rápido, mas dada a falta de forma, em especial na corrida, não queria chegar totalmente destruído ao início dos 10 km finais. O ciclismo é sem dúvida a minha disciplina mais fraca: fui 29º entre os 134 atletas do grupo.
Comecei a corrida com as pernas "presas", como habitual, mas o pior foi a dor abdominal (mais conhecida por "dor-de-burro") que me acompanhou durante os 10 km e perante a qual não consegui permanecer equânime... Além disso, estava um dia normal e já era quase meio-dia: sol intenso e muito calor. Tinha a sensação de que ia muuuuito devagar. Mas como já tinha sentido isso em triatlos anteriores, observei que (a) só estava a ultrapassar atletas, (b) ninguém me passava, e (c) os atletas com quem me cruzava não pareciam ir muito depressa. O pensamento mais positivo para ajudar a manter o ritmo e suportar a dor foi "Ao menos vou avançando... em algum momento terei percorrido 10 km!" As passagens aos 2,5 e 5 km pareceram razoáveis, dando algum ânimo. O tempo final de 43'58" é respeitável (só uns 3' pior do que o meu melhor num triatlo) e foi o 3º melhor no meu escalão.
Bom sinal ter conseguido aparecer ligeiramente sorridente em algumas fotos! (Mas não tive a clareza de mente para experimentar sorrir para ver se me fazia sentir melhor.)
Balanço final: óptimo regresso à acção, mindinho não se queixou e a forma física nem está tão má assim. Vamos ver como consigo aumentar os km de corrida nas próximas semanas para decidir se vou ou não a Timor-Leste correr a primeira maratona de Dili (20/Junho).
Como o leitor mais atento pode ter notado, ando a aprender a ser público. É fascinante e altamente enriquecedor!
Um par de conhecidos iam fazer a prova. O plano era dar-lhes apoio mas também incentivar as outras centenas de "loucos" anónimos. Os atletas de elite não importavam demasiado. Interessante vê-los fazer a prova a alta velocidade (menos de 4 horas), mas nem sequer os vimos cruzar a meta, de tão ocupados a ver e apoiar os atletas amadores.
Muitíssimo mais interessante é ver pessoas normais alcançando feitos excepcionais: - Vários senhores e senhoras acima dos 60 (i.e., com idade para ter juízo, diria o meu pai) sem parar até ao fim - Um par que parecia pai (de 50+ anos) e filha, pedalando um atrás da outra (na verdade, contra os regulamentos que não permitem pedalar "na roda", i.e., no túnel de vento do atleta da frente - mas quem os iria desclassificar?) - O senhor Endicott, de 65 anos, com boa pedalada e impressionante passada, que completou a prova em 7h09min - um minuto menos que um amigo meu 30 anos mais novo... - O senhor Peñaloza, 51 anos, de Hong Kong, que caminhava determinado depois de 7 horas de prova (faltavam-lhe ainda 2 horas para chegar à meta!) - O meu amigo Nick, que, seguindo a filosofia da Sílvia, decidiu fazer a prova praticamente sem ter treinado (e terminou 1 minuto depois do senhor Endicott) - Um rapaz derretido em suor, a passo, provavelmente no 7º de 21 km de corrida, que olhou para mim e partilhou, meio incrédulo, meio jocoso, "E paguei eu para fazer isto!!" - Um par de quarentões que caminhavam e conversavam com ar relativamente descansado e perguntaram "Tens cerveja?" - E outras centenas de pessoas normais que decidiram acreditar que conseguiam fazer um meio Ironman
Cinco horas em pé a aplaudir e gritar palavras de apoio: "Boa!", "Força!", "Até ao fim!", "Vamos lá!", "Muito bem!", "Bom ritmo!", "Não pares!", "Tu consegues!" (algumas em português mesmo - naquele contexto qualquer grito serve para animar).
A certa altura, pernas cansadas, sentei-me ao lado do percurso e continuei a aplaudir e a gritar. Mas dois minutos depois senti que aquilo poderia ser ofensivo: passavam por mim atletas que já tinham feito 1,9 km de natação, 90 km de ciclismo e metade da meia-maratona final... e eu é que estava cansado?? Levantei-me e rapidamente deixei de me sentir cansado.
Interessante exercício de, nos poucos segundos em que cada atleta passava ali à frente, tentar injectar-lhes um shot de energia instantânea. Passavam muitos hipnotizados pela missão de chegar ao fim, possivelmente com princípios de hipoglicemia, aparentando não perceber que existia mundo à sua volta para além de alguns metros de percurso. Passavam outros mais lúcidos e/ou menos focados que agradeciam o apoio e batiam palmas de volta. Vários reagiam claramente aos aplausos e gritos, enchiam-se de determinação e recomeçavam a correr mesmo ali à frente. Um, provavelmente depois de nos ter visto três ou quatro vezes, gritou sorridente "Vocês estão em todo o lado!", outro "Óptimo apoio!", e ainda outro deu-nos o prémio de melhor público: "You're the best!"
Mas, sem lugar para dúvidas, os atletas é que eram simply the best!
Acabámos o dia com um escaldão, pernas cansadas, braços doridos de tanto bater palmas, mas com excelentes energias, apesar de termos passado horas a tentar transmiti-las aos atletas! A energia humana será talvez a única que não segue as leis da física e pode ser gerada do nada? E que sendo transmitida é ao mesmo tempo recebida? Cada vez mais acredito que sim!
Tenho de passar a ser público de outro tipo de iniciativas, não só desportivas, e apoiar mais pessoas normais a realizarem feitos excepcionais no seu dia-a-dia: Força aí! É isso mesmo! Tu consegues! Vamos lá! Sem parar! Até ao fim!! Tu és simplesmente o melhor!!!!
Completei o meu primeiro triatlo longo, na distância “1/2 Ironman”! (Isso deve fazer de mim um homem de... ferrugem, talvez?)
Foram 1,9 km de natação (31min), 90 km de ciclismo (3h11min) e uma meia-maratona (21,1 km em 1h33min), totalizando 113 km em 5h16min. Fui 24º entre 65 atletas que iniciaram o I Triatlo Longo do Porto Santo (resultados completos aqui).
Tinha esperança de completar a prova em menos de 5h e 1/2, mas não estava seguro de o conseguir, dada a novidade da distância – o objectivo básico era conseguir chegar ao fim. Claro que foi duro, mas não tanto quanto esperava (claramente menos agressivo que uma maratona). Surpreendentemente, mantive quase sempre óptimos níveis de energia e muito boa disposição (evidente nas fotos). Poucos estragos, recuperação rápida. Experiência certamente a repetir.
Para os mais distraídos, chamo a atenção para o facto de esta prova ser “apenas” 50% do famoso Ironman. O completo e verdadeiro Ironman (3,8 km natação + 180 km ciclismo + maratona), esse sim, é uma insanidade completa. Por isso, pais, estejam descansados: não será ainda em 2009.
A prova (campeonato nacional de triatlo longo e primeira etapa da taça ibérica de triatlo longo) foi ganha pelo Bruno Pais (17º nos Jogos Olímpicos de Pequim) em masculinos e pela Maria Areosa em femininos. Para mais informações, vejam a notícia no site da Associação Regional de Triatlo da Madeira e o vídeo da RTP Madeira.
Preparação
Tenho de admitir que abordei este desafio com alguma leviandade. Só decidi participar na prova um mês antes. Tendo em conta que estava em boa forma na corrida (tinha feito uma meia-maratona no Central Park no dia 25/Jan em 1h25min, cujo maior desafio tinham sido os -10ºC, e estava capaz de correr mais de 2 horas sem dificuldade) mas que não estava a treinar natação nem ciclismo, havia muito a fazer para chegar ao dia 1 de Março capaz de completar o triatlo.
Já a pensar em futuros desafios, decidi comprar uma bicicleta de estrada. Acabei por comprar uma óptima bicicleta num leilão do eBay, em segunda mão mas em muito bom estado. Espero que dure por muitos anos. O exagerado frio nova-iorquino obrigou-me a esperar chegar a Portugal para poder começar a usá-la. Nos EUA comecei a fazer treinos de 30 a 60min em bicicleta estática no ginásio e quando cheguei a Portugal faltavam três semanas para a prova, o que me dava duas semanas para treinar e uma para descansar. Nessas duas semanas dei prioridade total ao treino de ciclismo, fazendo um treino longo (2 a 3,5 horas, 50 a 90 km) cada dois dias. Fiz em duas semanas os treinos longos que idealmente teria feito em oito semanas! O dia de descanso entre treinos permitiu-me recuperar bem e senti a forma física e a auto-confiança a aumentar. Uma semana antes da prova estava confiante de que chegaria ao fim, sem importar o tempo final.
A natação é um passeio para quem, como eu, sabe nadar e não tem pretensões de vencer triatlos. Ainda nos EUA treinei durante uma semana, aproveitando um “free trial” de uma semana num ginásio que tinha piscina, e em Portugal fiz mais sete treinos até à prova.
Entretanto, o cansaço nas pernas e a falta de tempo produzidas pelos treinos de ciclismo levaram-me a treinar muito pouca corrida, o que se revelou uma boa estratégia visto que fiz um bom tempo na corrida deste triatlo (12º melhor tempo).
No total, ignorando a corrida (que tenho treinado em continuidade há vários meses), em um mês investi cerca de 30 horas (uns 750 km) de ciclismo e umas 12 horas (35 km) de natação para preparar este triatlo. Até foi uma preparação económica, mas deu para perceber o grande desafio de encontrar tempo para treinar para um Ironman – um desafio diferente mas talvez superior ao de completar o Ironman.
Véspera
Na semana antes da prova fiz treinos bastante leves (mais curtos, com alguns exercícios de velocidade) e não treinei na véspera e antevéspera. Ainda ponderei ir fazer o reconhecimento do percurso de ciclismo no sábado, mas acabei por optar pelo descanso e pela surpresa de descobrir o percurso durante a prova. Também ponderei ir dar umas braçadas no mar, no percurso de natação, até para experimentar o fato isotérmico (emprestado, que só tinha vestido em casa), mas concluí que era indiferente se me adaptava bem ao fato ou não, já que a água estava fria e não tinha alternativa.
Entretanto, à minha volta via muitos triatletas hiperactivos, entre ajustes nas bicicletas, volta ao percurso de ciclismo, braçadas no mar, treinos leves de corrida... Fiquei a pensar se me estava a falhar alguma coisa que deveria estar a fazer! Acabei por não ficar totalmente parado porque fui passear de bicicleta com os meus amigos, para ver um bocado da ilha.
Dia da prova
Acordei pelas cinco da manhã com barulho de vozes altas e risadas junto à piscina do hotel. “Estes triatletas são loucos! Já estão acordados e hiperactivos a esta hora?? Mas o pequeno-almoço só começa às seis!” Tapei os ouvidos com a almofada e dormi até perto das seis. Afinal fui um dos primeiros a descer para o pequeno-almoço. Um grupo de ébrios não-atletas entrou para o pequeno-almoço e fiquei mais descansado ao perceber que tinham sido eles os responsáveis pelo barulho de madrugada. Segundo outros atletas, o barulho tinha começado antes das duas da manhã!
Até à prova dediquei-me a garantir que a barriga e intestinos estavam vazios. Pelas 8h30 tomei um PowerGel e um café e fiz a última visita à casa de banho. Fiz um curto aquecimento em corrida lenta e dei umas braçadas já dentro do fato isotérmico. Senti-me flutuar bastante – parecia que ia em cima de uma prancha de surf e que só precisava de remar para avançar. A temperatura da água do mar rondava os 18ºC – fresquinha mas suportável com o fato.
foto: Pedro Monteiro
Enquanto esperávamos o sinal de partida na praia sentia-me descontraído, bem disposto, com energia. O cenário estava bonito: tinha caído uma triste chuva fria que teve a decência de parar para o início da prova, e havia agora um contraste espectacular entre as nuvens cinzentas e os raios de sol matinais projectados sobre os 65 loucos que se preparavam para percorrer 1,9 km a nado, 90 km a pedalar e 21,1 km a correr.
Natação
Tiro de partida! Corremos para o mar e saltamos a pequena rebentação para começar a nadar. Eu parti um pouco à direita e logo nas primeiras braçadas reparei em algo estranho: não ia ninguém à minha frente, só via um atleta à minha direita.
foto: Miguel Carvalho
Rapidamente descartei a possibilidade de ser o líder da prova. Respirei para o lado esquerdo (costumo respirar para o lado direito e não tenho a respiração bilateral bem treinada) e vi que o pelotão estava uns bons metros à minha esquerda, com alguns atletas bastante mais avançados. Comecei a chegar-me para a esquerda, reparando que eles estavam a seguir um trajecto mais curto e pensando que era boa ideia encontrar um grupo onde pudesse aproveitar o “vácuo” de outros atletas. Já só me juntei a outros atletas na bóia em que virávamos à direita, a 350 metros da praia (o percurso era marcado por quatro bóias formando um quadrado de 200 metros de lado, a primeira situada a 150 metros da praia, portanto os 1.900 metros de prova eram formados por 150 metros da praia ao quadrado + 2 voltas ao quadrado de 4x200 metros + 150 metros de volta à praia).
A minha respiração estabilizou, tinha entrado num ritmo potente mas que sentia que poderia manter por bastante tempo (idealmente durante 1.900 metros). Não me sentia muito eficiente e achava que o fato isotérmico prendia um pouco a rotação dos ombros e por isso alterava o meu estilo, que normalmente já não é o mais económico. Mas sentia-me a avançar bem, ajudado pela flutuação extra proporcionada pelo fato. Fui tentando seguir atletas próximos mas por vezes avançava sozinho, quando me parecia que eles andavam aos ziguezagues em vez de seguirem em linha recta para a bóia seguinte.
As bóias, que marcavam mais 200 metros percorridos, vinham bastante depressa. Ao iniciar a segunda volta ao quadrado de 4x200 metros senti que a prova estava sob controlo, que ia em bom ritmo que conseguiria manter até ao fim. Não me pareceu que valesse a pena acelerar – poderia ter feito talvez um minuto menos, mas começaria o ciclismo mais cansado e facilmente perderia esse minuto.
Deixei de reparar tanto no esforço e na navegação e comecei a apreciar mais a situação. O céu estava cinzento mas bonito. Por vezes atingiam-me agradáveis raios de sol vindos do horizonte. O mar estava calmíssimo, quase uma piscina. Não se sentiam correntes. A água parecia limpíssima, transparente. O único sabor era a sal. A temperatura ameaçava congelar as mãos e os pés, mas não passava da ameaça. Os sons eram os do impacto de braços e pernas na água.
Nos 200 metros antes de virar para a praia pensei no que se seguiria: transição, tirar o fato, pôr o capacete, sapatos de ciclismo e luvas e iniciar os 90 km de bicicleta. Ao virar para os últimos 150 metros até à praia os atletas que iam comigo aceleraram. Eu achei que não valia a pena terminar com o coração mais acelerado para poupar uns segundos e mantive o ritmo.
foto: Miguel Carvalho
Ao levantar-me já na areia e começar a correr em direcção ao parque de transição olhei para o relógio e vi 31 minutos! Natação super-rápida, provavelmente graças ao fato (esperava fazer 35 ou 36min). Óptimo! Passei então à tarefa de tentar abrir o fecho do fato enquanto corria. A transição acabou por ser relativamente lenta, mas tinha decidido que não me ia preocupar demasiado com as transições: que importa mais um minuto numa prova de mais de cinco horas?
Ciclismo
A principal sensação no início do ciclismo foi de frio! Tinha recomeçado a chuviscar, o sol estava coberto, e a diminuta roupa não me protegia do vento frio, inevitável ao deslocar-me a 30 km/h na bicicleta. Arrependi-me de não ter levado roupa mais quente para o ciclismo e pensei que iria sofrer bastante nas três horas seguintes. Mas não havia nada a fazer.
A primeira das quatro voltas de 22,5 km (4x22,5 = 90 km) foi marcada pelo frio. Fiquei feliz com o ritmo: mantive uma média próxima dos 30 km/h (45min por volta), coerente com o meu objectivo de cumprir os 90 km/h em cerca de três horas. Fui passado por alguns atletas e só passei um ou dois. Reparei que os 65 participantes iam bastante espaçados no percurso, o que facilitava o cumprimento da regra de fazermos uma prova individual, sendo proibido aproveitar o vácuo de outro atleta.
O percurso não era plano mas era, de acordo com os triatletas mais experientes, bastante rápido. Havia algum vento, mas não muito forte. A minha velocidade instantânea variava entre uns 18 km/h nas subidas mais íngremes e 58 km/h na descida mais rápida. Era uma descida longa que terminava numa rotunda. A rotunda era pequena, por isso dava para não travar ao entrar nela, fazer uma tangente ao círculo central e sair disparado em frente. Como o trânsito nas estradas da prova não estava sob controlo, ao descer olhava sempre com atenção para verificar que não apareceria nenhum carro à minha frente – àquela velocidade seria impossível parar. O trânsito era bastante intenso, ao contrário do que a organização tinha anunciado e seria desejável. Só fui obrigado a travar uma vez, num cruzamento mais complicado, mas várias vezes tive de respirar gases de tubos de escape e senti alguma insegurança. Fiquei a pensar se este tipo de situação seria normal em provas de triatlo, mas pela reacção indignada de vários atletas percebi que não.
Senti algumas oscilações de energia ao longo do ciclismo, mas pareceu-me que o meu plano de alimentação funcionou bem: um PowerGel na segunda metade de cada volta e uma barra de amendoins no início de cada volta após a primeira. Cerca de 1.000 kcal ingeridas durante o ciclismo. Os amigos por quem passava três ou quatro vezes em cada volta ajudavam a distrair-me e a manter-me animado.
foto: Miguel Carvalho
Mantive o ritmo próximo dos 30 km/h nas primeiras duas voltas. Na terceira, sentindo uma pressão cada vez maior na bexiga, decidi encostar às boxes por volta do km 48 (num espaço entre dois arbustos, mais isolado) e despejar bastante água, talvez meio litro (suspeito que consequência do café e de alguma cafeína presente em alguns dos PowerGel que tomei). Peço desculpa por eventuais ofensas às duas senhoras que passaram do outro lado da estrada nesse momento delicado. Que alívio! Que bem-estar! Não tenho dúvidas de que o investimento de tempo valeu a pena. Nessa paragem fui passado por um atleta que rapidamente ultrapassei ao voltar à prova com novas energias. A terceira volta acabou por ser uns dois minutos mais lenta, não só pela paragem mas provavelmente também por algum cansaço.
Entretanto, fui passando por vários atletas parados com pneus furados (provavelmente consequência dos buracos na estrada em parte do percurso). Vi alguns a trocar o pneu mas reparei em muitos a desistir. Pensei na frustração que estariam a sentir e agradeci não me ter acontecido nada. Também passei por um atleta ferido que estava a ser tratado após uma queda - soube depois que tinha sido numa interacção infeliz com um carro.
Na última volta voltei a sentir a bexiga cheia. “Será possível??” Considerei a possibilidade de me aguentar até ao fim da prova, mas correr uma meia-maratona com a bexiga cheia não me pareceu viável e acabei por fazer uma nova paragem nas boxes. Desta vez passaram dois miúdos por mim – desculpem lá o mau exemplo! De novo um grande alívio e novas energias para os últimos 18 km. (Não sei se é normal em provas deste tipo, mas parece-me básico disponibilizar umas casas-de-banho portáteis em algum ponto – por exemplo ali perto do início de cada volta do ciclismo e da corrida – para os atletas se poderem aliviar em condições menos chocantes para a população.) Decidi relaxar ligeiramente nos últimos quilómetros, para chegar à corrida o menos cansado possível. Acabei por terminar o ciclismo em um pouco mais de 3 horas (3h11min, incluindo os tempos nas duas transições), a uma média de 29 km/h. Óptimo!
Corrida
Tinham passado 3h43min de prova quando iniciei a meia-maratona. Mesmo que fizesse uma corrida lenta, a 12 km/h (1h45min), conseguiria terminar em menos de 5h30min! Fiquei animado, mas sabia que poderia acontecer muita coisa naqueles 21 km e nada era garantido.
Como de costume depois de pedalar, comecei a correr sem sentir as pernas. Entrei em “piloto automático”, sem noção nem controlo sobre a velocidade a que ia, esperando que fosse a habitual, próxima dos 4min15s por km. Cruzei-me com o Bruno Pais, o vencedor, que vinha provavelmente na sua volta final, com ar bastante relaxado, e com outros atletas da frente da prova.
O percurso de corrida era, tal como o de ciclismo, um pouco monótono: quatro voltas de ida-e-volta (cada uma de 5,25 km) entre o centro do Porto Santo e o porto de abrigo, significando que passávamos oito vezes por cada ponto. As vantagens de um percurso deste tipo são que é mais simples colocar pontos de abastecimento frequentes (a cada 2,6 km, nesta prova), passamos mais vezes pelo mesmo público (além de familiares e amigos, não havia muito mais gente a assistir à prova) e é mais fácil notar o progresso no percurso. Outra consequência é que nos cruzamos um monte de vezes com os outros atletas em prova. Eu ia olhando para eles e dizia “Força” e outras palavras de incentivo, ou simplesmente levantava o polegar. Parecia que estava a tentar ganhar o Prémio Simpatia da prova. Alguns respondiam, outros não (é mais simpático quando respondem, mas entendo perfeitamente quem não responde!). Alguns pareciam autênticos zombies, alheios ao que se passava à volta deles, fazendo-me sentir ainda mais agradecido pelo meu estado lúcido.
foto: Miguel Carvalho
Completei a primeira volta em 22min30s – exactamente o meu ritmo mais optimista (daria 1h30min na meia-maratona). Na segunda volta comecei a sentir as pernas. Sentia-me cansado, mas começava a conseguir correr mais solto, mais relaxado. Ia passando bastantes atletas, o que é sempre animador (mesmo que eles já me levassem uma volta de avanço ou uma volta de atraso e portanto não afectassem a minha classificação final). De novo comecei a sentir a bexiga, mas fui atrasando nova paragem nas boxes até concluir que conseguiria esperar pelo fim da prova. Mantive o ritmo e passei em um pouco mais de 45min aos 10,5 km.
Segundo amigos e outros atletas, nesse momento, a meio da corrida, aumentei a velocidade. O meu relógio diz que não, que mantive sempre mais ou menos o mesmo ritmo. Mas notei altos e baixos de energia que provavelmente se traduziam em oscilações na velocidade. Pelo menos senti-me a correr melhor, mais solto. Nas últimas duas voltas, com medo de que me faltasse o combustível, decidi tomar mais um gel em cada uma. Sentia-me forte, em bom estado, mas sabia que em poucos minutos poderia apagar-me. Nada estava garantido.
Balanço
Ao fazer o último retorno no porto de abrigo observei que faltavam pouco mais de 10 minutos para completar a prova e finalmente senti confiança em que conseguiria chegar ao fim em bom ritmo. As pernas estavam cansadas e começava a sentir alguma dificuldade nas ligeiras subidas do percurso, mas eram só mais 10 minutos! Comecei a avaliar a experiência. Afinal, 1/2 Ironman é duro mas não tão louco assim (pelo menos para insanos como eu e os outros participantes). Talvez pudesse ter apertado um pouco mais na natação (para ganhar 1 minuto e ficar bastante mais cansado?) e no ciclismo (para ganhar 5 ou 10min e depois não conseguir correr?) – é muito fácil dizer “se” depois das coisas acontecerem. Com certeza repetirei a experiência, mas pensarei duas vezes antes de o fazer. Com a experiência vem uma melhor noção das minhas capacidades, dos meus limites, das estratégias que funcionam melhor (treinar mais, por exemplo, não deve ser má ideia), e com certeza poderei baixar uns minutos. E o Ironman completo? Claramente uma loucura... preciso de mais uns meses para passar a outro patamar de insanidade. A companhia dos outros insanos nesta prova ajudou (ou não, diriam os meus pais): começou a parecer-me que fazer um Ironman até é uma coisa relativamente normal...
Agradecimentos
Nos 500 metros finais, já na última recta antes de virar para a meta, tornei-me um receptor de energia cósmica. Convergiam em mim boas energias de todo o universo, provocando descargas eléctricas pela espinha dorsal. Agradeci ao Todo e a todos pela fantástica experiência daquelas 5 horas e tal:
Adelino: por ter lançado o desafio, pelo apoio logístico, pelas aulas de manutenção de bicicleta, pelos passeios na Madeira e Porto Santo
Alda, Miguel, Carolina e Eunice: pelo apoio, pelas reportagens fotográficas e vídeo, por me terem adoptado como mais um sobrinho/primo
Ana e Pedro: pelo estímulo para que me animasse a participar, pela organização, companhia, apoio ao vivo, reportagem fotográfica
João: pelas exaustivas consultorias ciclísticas e generosos patrocínios de equipamento
Triatletas insanos: pela companhia nesta maluquice, incentivo e inspiração (especialmente os mais “experientes” na vida - quem me dera estar nessa forma daqui a 20 ou 30 anos!)
Público: por terem aparecido e por se terem manifestado, com palavras e aplausos
Organizadores: por porem a prova de pé, pelo apoio na logística
Todos os que enviaram apoio e boas energias
Meta
Ao aproximar-me da meta passei pelo Artur Parreira, da Federação de Triatlo, que se pôs a procurar o meu nome na lista de participantes, para poder anunciar a chegada. Eu ia tão lúcido e com tanta energia que lhe gritei o meu nome enquanto iniciava a ligeira subida para a meta. Até fechei o fato como os pros, para ficar mais apresentável para as fotos finais. Cruzei a meta cansado mas a sentir-me fresquíssimo, aparentemente capaz de correr mais uns quilómetros! Super bem disposto, a radiar energia. E também muito feliz por poder comer qualquer coisinha sólida!
Tal como é típico em outras provas desportivas, a minha velocidade média foi praticamente nula (na definição das aulas de física do secundário), já que a partida e a chegada estavam muito próximas uma da outra (uns 200 metros em 2h32min, dá cerca de 80 metros por hora). Portanto o objectivo de percorrer o mais rapidamente possível 1,5 km a nadar, 40 km a pedalar e 10 km a correr não era certamente deslocar-me o mais longe possível, mas sim... hmmm... ahn... lá estou eu de novo a tentar explicar maluquices desportivas.
Tinha como objectivo melhorar o meu recorde em triatlos desta distância, que era, e ainda é, de 2h27min. Treinei bem, especialmente natação, que já não praticava há alguns anos, e ciclismo+corrida, essencial para sofrer menos na sempre traumática transição entre essas duas actividades (quem já experimentou sabe do que falo!).
Natação
A natação foi boa. Eu sentia-me em boa forma, com um estilo razoavelmente eficiente, a deslizar bem sem gastar demasiadas energias. Sentia-me tão bem que até fiz um aquecimento pré-prova (nas ocasiões anteriores achava que já bastavam os 1,5 km de prova e que não valia a pena cansar-me antes).
Havia partidas diferentes cada 10 minutos (já que uma partida única com cerca de mil atletas seria demasiado confusa), e eu ia partir com metade dos atletas do meu escalão etário. Os meus colegas pareciam algo “tímidos”: poucos fizeram aquecimento, e poucos se chegaram à frente na linha de partida, preferindo ficar para trás, ao contrário do que costumo ver em triatlos.
Foi dada a partida e corri para a água, onde fui um dos primeiros a mergulhar. Senti-me potente e satisfeito de não conseguir ver toucas laranjas (a cor da minha partida) à minha volta. Parecia ir rápido e num dos lugares da frente.
Mas quando completei a primeira volta de 750 metros fiquei muito desiludido com o tempo: 15 minutos! Esperava passar, no máximo, em 13 minutos. Enquanto pensava que já não daria para bater o meu recorde ouvi alguém exclamar: “Vais em primeiro!” E aí começou uma nova prova: em vez de correr pelo recorde absoluto, fiquei motivadíssimo para correr pela posição relativa.
Mantive o ritmo na segunda volta e terminei em 31 minutos, 8 minutos mais lento que em 2003, quando fiz este mesmo triatlo (mas com certeza o percurso de natação não tinha a mesma distância nem as mesmas correntes contra).
Fui o primeiro atleta a sair da água, entre o grupo que partiu comigo, o que não era garantia de ir em primeiro no meu escalão etário, já que tinha havido uma partida anterior com pessoal do mesmo escalão. Entrei na área de transição, onde esperavam as bicicletas e reparei que a minha fila estava ainda cheia de bicicletas, sinal de que ia mesmo num dos primeiros lugares. Adrenalina em cima!
Ciclismo
Os minutos iniciais na bicicleta foram de adaptação ao novo tipo de esforço, mas rapidamente entrei no que me pareceu um bom ritmo (difícil de verificar por falta de um velocímetro). Passei na primeira volta de 10 km no tempo ambicionado, perto de 18 (uns 33 km/h), sentindo um esforço reduzido. Uma bicicleta boa faz maravilhas: depois de ter treinado numa bicicleta de montanha de 50 Euros, uma bicicleta de estrada, avaliada pelo dono que me emprestou em 50 vezes mais, é como um Formula1 para quem costuma andar de Carocha.
Concentrei-me em manter o ritmo mas sem cansar as pernas, que ainda teriam de correr 10 km a boa velocidade (queria ser o mais rápido na corrida, como tinha sido em 2003!).
Reparei que a prova era realmente muito singapurense: um monte de bicicletas carérrimas, de aspecto altamente profissional (a minha não era das melhores!!), montadas por atletas em forma média, mas não tão treinados assim, até algo lentos.
Ao contrário de provas anteriores, em que costumava ser ultrapassado por um monte de gente no ciclismo, vi poucos atletas do meu escalão passar por mim. Portanto continuava numa boa posição!
A boa posição confirmou-se quando voltei a entrar na área de transição, para deixar a bicicleta e iniciar a corrida, e vi só duas bicicletas perto da minha!
Corrida
Iniciei a corrida, determinado a correr forte e ser o mais rápido, fazendo um tempo próximo de 2003: 41min. Até ali tudo tinha sido razoavelmente fácil, mas agora começava o verdadeiro sofrimento - foi-se o sorriso da minha cara.
Ao fim de pouco tempo de corrida comecei a sentir uma forte dor de burro e não consegui ir rápido. Sentia-me muito muito lento. Duas vezes tive de caminhar por alguns segundos para tentar aliviar a dor e pensava “Vou ser passado por toda a gente!”. Mas passei aos 2,5 km num tempo não tão péssimo que me animou a tentar manter o ritmo. E começou a cair uma daquelas chuvas tropicais singapurenses que aliviou o calor.
Nem tudo era mau, mas a dor de burro não passava e pensei como seria bom parar e andar, mas esses pensamentos comodistas não duraram muito tempo: não ia desperdiçar as semanas de treino, nem o esforço na natação e ciclismo, e muito menos desiludir a minha torcida que nesse momento estava a apanhar uma carga de água para me apoiar!
Passei aos 5 km em cerca de 23min, dois ou três minutos mais lento que o meu objectivo inicial, mas já me tinha resignado a aceitar o que viesse. Felizmente, a dor de burro suavizou ao começar a segunda volta de 5 km.
Ia olhando o tempo todo para os números dos atletas que eu passava (bastantes) ou que me passavam (nem tantos), para tentar identificar pessoal do meu escalão. Por volta do km 6 fui passado pelo 4220, claramente meu concorrente directo. Pensei acompanhá-lo mas era impossível aumentar o ritmo. Ao ver os resultados finais, descobri que nesse momento eu tinha perdido o segundo lugar. Mas mesmo que tivesse sabido durante a prova, não havia forças escondidas que me pudessem ter assistido. Estava destruído e só queria acabar a prova!
Mantive o ritmo e finalmente cheguei ao fim: 46min nos 10 km, ainda assim o quarto melhor tempo na corrida no meu escalão.
Balanço final: muito feliz, especialmente com o terceiro lugar no meu escalão, apesar do tempo final de 2h32min ter ficado longe do meu recorde.
Obrigado a quem apoiou, ao vivo e telepaticamente!
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