sábado, 7 de janeiro de 2012

Buli no Twitter

Depois de um ano bastante pobre em bulicenas, decidi experimentar uma nova forma de comunicação eletrónica. Nunca percebi para que serve o twitter mas pensei que me pode servir para:
. Obrigar a sintetizar ideias na sua essência
. Escrever pouco (prometo não mais de 140 caracteres), poupando os leitores a bulicenas-maratona, deixando poucos textos a meio e nunca publicados
. Provavelmente aumentar a frequência de publicação
. Eventualmente chatear mais gente

A linha editorial não está definida - se hace el camino al andar.

Podem encontrar-me aqui, ou simplesmente ler os últimos tweets aqui à direita na barra lateral do blog.

Quer dizer que as bulicenas acabaram? Não. Quando houver algum texto ou outra partilha a precisar de sair urgentemente das entranhas, aqui virei ahn... escrevê-lo.

Também é possível que escreva de vez em quando (mas a julgar pelo histórico será mesmo só de veeeeeeeez eeeemmmmm quaaaaaando) no blog da minha empresa.

Até breve - por e-mail, blog, twitter, telepatia, postal, ao vivo!


PS: Não, (ainda?) não estou no facebook :)

domingo, 1 de janeiro de 2012

Flecha kamikaze

Competição anual de pentatlo moderno. Na minha pior forma de sempre (depois de dois meses sem correr – paragem mais longa em 18 anos – em recuperação de entorse grave), ainda mais que habitualmente, o objetivo era passar excelentes momentos com os meus amigos pentatletas – os de sempre e os mais recentes.

Na esgrima, a falta de treino não poderia ser desculpa para um mau resultado. Não treino esgrima regularmente desde 2002, portanto se precisasse de treino para fazer alguma coisa estaria tramado. E verifiquei em anos anteriores que é possível chegar à prova, colocar-me no estado mental certo e fazer um ótimo resultado. A única diferença era a incerteza sobre quanto o meu tornozelo iria aguentar e alguma rigidez muscular devido a uma queda do cavalo (ou melhor, uma queda minha, do cavalo para o chão) um par de horas antes.

Começou a prova e... de repente, sem aviso prévio, uma flecha kamikaze. E outra. E outra! Outra, outra, outra! Quando o ombro desabituado do esforço começava a doer, uma flecha para resolver o assunto. Quando não sabia o que fazer, uma flecha. Por razão nenhuma, uma flecha. Uma chuva de flechas kamikaze!

Mas o que são flechas kamikaze e porquê escrever sobre elas durante a passagem de ano??

A flecha é um movimento de esgrima em que o esgrimista sai disparado em direção ao outro para lhe tocar (quem gosta de ler pode aprender mais aqui e recomendo este vídeo para um monte de exemplos, nem sempre tecnicamente perfeitos). Uma boa flecha é realizada no momento certo (apanhando o adversário desprevenido), da distância certa, com preparação (p. ex., uma finta) e velocidade.

Foto copiada daqui, espero que sem infringir direitos de autor (quando encontrar uma minha substituo...)


A flecha kamikaze, como o nome indica, é uma versão mais suicida do movimento, que aprendi com o Stascio (um treinador polaco que treinou a seleção nacional entre 1997 e 1998). Se bem recordo, a diferença era a menor (mas não nula!) preparação, para aumentar a velocidade e o efeito surpresa.

E só quase 15 anos depois reparo como a flecha kamikaze oferece lições bem para além da esgrima e do desporto. Tal como na flecha kamikaze, há muitos momentos na vida em que posso ser:

. Mais assertivo, determinado, focado e confiante: A flecha não sai se eu estiver num estado passivo, conformado, desanimado, ou simplesmente distraído. Quando saio em flecha, na verdade eu já ganhei o toque: já o senti, já o visualizei, na minha cabeça ele já aconteceu – só falta o corpo recuperar o atraso e consumar o que já aconteceu. Fora do desporto é a mesma coisa: quando estou todo ali, a viver o presente, quando acredito, visualizo o meu objetivo e o faço acontecer na minha cabeça, parece que depois tudo é simples, mesmo se complexo, e “basta” executar.

. Mais rápido e orientado para a ação: A flecha não é consequência de uma cuidadosa ponderação de prós e contras, de uma análise exaustiva da situação, mas sim de um momento inspirado em que o subconsciente diz que faz sentido avançar. Não advogo seguir cegamente o instinto: as minhas flechas são reflexos surgidos de imensas horas de treino que ficaram codificadas no meu corpo e me permitem tomar decisões sem as tomar, de forma automática, com o subconsciente. A experiência pode ajudar a agir da mesma forma em muitas áreas da vida. Mas, mesmo sem experiência, muitas vezes uma ação rápida tira-me com pouco ou nenhum risco da paralisia devida à indecisão ou à busca pela perfeição inexistente – o que posso perder se não sair perfeita? (Nesta competição muitas flechas saíram particularmente imperfeitas, ainda assim com ótimos resultados!)

. Mais em “fluxo”: As flechas não costumam acontecer sozinhas, como estrelas cadentes isoladas. Quando estou no estado mental certo elas simplesmente vão acontecendo, uma atrás da outra. Em 1997, uma chuva mágica de flechas kamikaze no Europeu de juniores de pentatlo levou-me ao melhor resultado internacional de sempre (15o). Fora do desporto também tenho vivido alguns períodos de fluxo, em que tudo faz sentido, em que sinto todo o meu ser (corpo, mente, coração e alma) alinhado, alegre, feliz, motivado, e tudo é bom e tudo sai bem, geralmente com muito trabalho mas sem esforço. Como se fosse magia. Como seria bom viver o tempo todo assim!


Quando sabemos e quando não sabemos bem o que fazer, o caminho é o mesmo: em frente!

Força aí! Muitas flechas kamikaze para todos em 2012!