terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Obamamania

“Bush terminou o seu mandato. Viva Obama!” – parece ter sido o grito do dia à volta do planeta. Não é claro se toda esta obamamania deriva (1) dos anticorpos gerados nos últimos oito anos contra Bush, (2) da cor da pele de Obama, ou (3) de méritos demonstrados do novo presidente. Se tivesse de apostar, diria que 60% vem de (1), 30% de (2) e 10% de (3). Afinal, além de ser muito bom discursador, falando de modo claro, poderoso e inspirador, não sei muito mais sobre ele.




Imagem: gawker.com



Rapidamente Bush será esquecido, o bronzeado de Obama deixará de ser novidade e os discursos terão de passar a acções. As revistas que têm censurado a criatividade dedicando repetidas capas ao messias Obama finalmente destacarão outros temas. Inevitavelmente, as decisões do novo presidente, boas ou más, incomodarão sempre alguém. Por muito competente e bem intencionado que possa ser, Obama não cumprirá as exageradas expectativas que todo o mundo parece ter gerado. Afinal, onde é que já se ouviu um povo falar bem dos seus dirigentes? Espontaneamente, em poucos lugares.

De qualquer modo, desejo o maior sucesso ao novo presidente da nação mais poderosa (e, por isso, mais perigosa) do mundo. Sei que é utópico, mas que fantástico seria se as acções dele seguissem o espírito das palavras (“walk the talk”, como se diz por aqui) que hoje partilhou no discurso de tomada de posse. Palavras cheias de bons sentimentos, bons valores, uma visão abrangente do mundo, pacifista, justa e em algum ponto até ecológica. Que tenha a coragem de tomar decisões difíceis (em que talvez alguns tenham de perder para muitos ganharem, ou todos tenham de perder hoje para todos ganharem no futuro), desafiando lobbies, grupos de interesse, financiadores de campanhas, preconceitos, de modo a gerar o máximo de felicidade no mundo. Que tenha humildade para lidar com a imperfeição, dele, dos amigos e dos menos amigos, e para não seguir os impulsos agressivos e belicistas a que os EUA têm habituado o mundo. Que tenha a sabedoria para decidir onde e como deve intervir. Que seja um agente do bem e não ceda ao “lado negro da força”.

Não existem salvadores do mundo, nem da nação. Foi sobre isso que Obama falou hoje, responsabilidade: “O que nos é pedido agora é uma nova era de responsabilidade – o reconhecimento, por cada americano, de que temos deveres para com nós próprios, a nossa nação e o mundo (...)”.

Se o povo estado-unidense acreditar, pode ser que se gere uma profecia auto-realizadora positiva, de responsabilização individual, de optimismo, de mudança para melhor. E quem sabe povos de outros pontos do globo não se inspirarão na mesma onda? Bem precisamos.

Responsabilidade



Com os meus limitados conhecimentos de hindi: "Tum chalo" = Tu, bora lá, butes nessa; "Hindustan chale" = Índia, bora lá, butes nessa. Ou como diria o mais famoso indiano: sê a mudança que queres ver no mundo. Vais ficar aí a olhar?

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Bulinovas online!

Está finalmente disponível o arquivo de bulinovas: as aventuras vividas no ano 2003, no Reino Unido/Irlanda, Timor-Leste e Afeganistão.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Entrevista

Caros leitores, podem ler a entrevista que dei ao conceituado blog Ver para além do olhar, do famoso jesuíta João Delicado.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Profecias auto-realizadoras

Cinco dias antes da Páscoa, as multidões, “ao ouvirem que Jesus vinha a Jerusalém, pegaram em ramos de palmeiras e saíram-lhe ao encontro, clamando: «Hossana! Bendito o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel!» E Jesus encontrou um jumentinho e montou nele, conforme está escrito: Não temas, Filha de Sião, olha o teu Rei que chega sentado na cria de uma jumenta".[João 12.12-15]

Em várias passagens do Novo Testamento encontramos situações em que Cristo cumpre algo que estava escrito no Antigo Testamento. Em algumas, como esta, Jesus tem a capacidade de influenciar de forma muito directa os acontecimentos e realizar as profecias.

Uma profecia auto-realizadora é uma previsão sobre o futuro que influencia o futuro de forma a que a previsão se cumpra. O mundo está cheio delas a todos os níveis. Podem ser uma excelente ferramenta para construir um mundo melhor ou uma sentença para o condenar à desgraça. Será que podemos ser melhores profetas?

Se me convenço ou me convencem de que vou correr uma maratona em menos de três horas é provável que escolha uma maratona adequada, treine com disciplina e empenho, inicie a corrida no ritmo certo, procure combater as dores e o cansaço e alcance o meu objetivo. Se acho que não sou capaz, talvez nem chegue a inscrever-me na prova, não treine adequadamente, não corra no ritmo necessário, ou desista quando o corpo começar a doer.

Se me classifico ou me classificam como forte, “virtuoso”, é mais provável que desenvolva as minhas capacidades e as aproveite para ter sucesso na vida. Se sei que sou fraco, “pecador”, é mais provável que ceda à mais pequena tentação e não seja capaz de deixar de “pecar”. Se me considero sortudo é mais provável que assuma riscos e que me permita ter sorte. Se sei que sou azarado é mais provável que não arrisque e não petisque. Se confio que vou tirar boas notas e entrar naquele curso é mais provável que me aplique nos estudos e tenha sucesso. Se sei que sou preguiçoso e que não me consigo levantar quando toca o despertador é mais provável que fique deitado até tarde.

O professor/treinador/chefe/pai que acredita nos seus alunos/atletas/empregados/filhos investe neles e ajuda-os a melhorar e terem sucesso, a serem campeões da vida. O que não acredita tende a deixá-los penar e possivelmente fracassar. Se não acredito que o meu amigo/filho/pai/irmão/cônjuge seja capaz de fazer dieta e perder os 5 kgs é mais provável que ele não consiga emagrecer. Se sei que o meu amigo chega sempre atrasado e até já combino as coisas a contar com isso é mais provável que ele chegue atrasado. Se duvido que o meu amigo consiga deixar de fumar é mais provável que ele rapidamente desista de deixar o vício.


Nestes últimos dias vieram até mim, clamando por serem partilhados, quatro textos que descrevem profecias auto-realizadoras em diferentes contextos:

Disbicicléticos” (que encontrei no blog dos Pais21), num exemplo sobre crianças com síndrome de Down, discute como ao catalogar uma criança com algum tipo de limitação nos desresponsabilizamos da sua educação e desenvolvimento e a condenamos a viver limitada.

The Matthew Effect” descreve o “efeito Mateus” aplicado ao desporto e à detecção de talentos desportivos: como a vantagem dos jovens atletas nascidos nos primeiros meses do ano (por serem significativamente mais desenvolvidos que os colegas nascidos no final do ano) lhes traz maior apoio nos primeiros anos de actividade física e como isso determina carreiras desportivas completas.

The Give and the Take” explica como a crença de que o álcool era necessário para uma vida feliz alimentou o vício do autor durante muitos anos, até que finalmente ele percebeu a espiral de morte em que se encontrava e mudou de “profecia”.

Afinal 2009 vai ser um grande ano!” propõe uma abordagem positiva ao novo ano, responsabilizando-nos por intervir na realidade, e especificamente propõe um foco no bem que a Igreja faz no mundo, que certamente ajudará a realizar essa “profecia” bem mais positiva que a alternativa de focar nas “asneiras”.


Aquilo em que acreditamos influencia terrivelmente aquilo que somos e em que nos tornamos, e aquilo que são e se tornam aqueles que nos rodeiam. Se podemos acreditar num mundo positivo e assim fazê-lo melhor, porquê acreditar num mundo negativo?

Quais são as tuas profecias para 2009?

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

The Twilight Zone

Uma hora de corrida no primeiro dia do ano, em Jersey City. Enquanto batia o meu recorde de temperaturas negativas a correr (–5ºC!), por alguma razão que não consigo recordar (nem poderia?) lembrei-me da Twilight Zone. Tentei lembrar a musiquinha da série. Só me vinha à cabeça a de uma outra série que nunca cheguei a ver (X-Files). Pensei que com certeza a encontraria no Youtube, mas rapidamente esqueci o assunto e voltei a sentir as pontas dos pés a congelar.

Apesar de praticamente nunca ver televisão (é como com o tabaco: só passivamente), à noite vi fazer zapping pelos infinitos canais disponíveis e uma imagem a preto-e-branco chamou-me a atenção. Recordei o episódio durante a corrida e senti-me exactamente num episódio da Twilight Zone: durante todo o dia tinha estado a dar um compacto de episódios da série!





Vi os últimos seis minutos do episódio “Time Enough at Last”. Suficiente para captar a espectacular ironia final, mostrando como vivemos tão apegados a coisas que acabam por manter a nossa felicidade refém. Falta-nos equanimidade para aceitar com serenidade o “bom” e “mau” que nos acontece.

Quem quiser ver ou rever episódios completos da Twilight Zone pode procurar em Fancast ou em IMDb.

Na minha memória, todos são espectaculares e fazem pensar um pouco. Por exemplo, “To Serve Man” obriga-nos a olhar para a humanidade de um ponto de vista externo. E não sei se gosto muito do que vejo. Aqui fica uma versão resumida: