sábado, 2 de fevereiro de 2008

Homem invisível

Após o almoço (um thali e um lassi doce, para variar) voltei para casa caminhando pela berma da estrada (pelo lado direito, como manda o bom senso num país que conduz – aproximadamente – à esquerda).

À minha direita o terreno afunda-se um pouco e lá está o omnipresente monte de lixo. E navegando no lixo, claro, duas vacas tentam encontrar alimento. Junto às vacas, três ou quatro porcos na mesma empreitada. Até aí nada de novo... Só então reparo no homem! Junto às duas vacas, três ou quatro porcos, e mais dois cães que entretanto detectei, um homem vasculha também. Vacas, porcos, cães e homem competem pelos restos que algumas pessoas – para mim javardas (sem ofensa aos três ou quatro porcos), para o homem talvez generosas – ali deitaram.

No chão, junto à estrada, está a bicicleta enferrujada em que ele se transporta, já carregada com dois sacos de "objectos de valor" que tentará trocar por umas rupias. Passo a dois metros, mas o homem nem dá por mim. Estamos em dimensões diferentes: eu não existo para ele... será que ele existe para mim?

Continuo a andar, pensando que cada vez me impressiono menos com estas visões, infelizmente tão frequentes. Tão frequentes que, nesse instante, vejo dois miúdos de cócoras entre os arbustos, num acto tão natural como descarregar os intestinos. Uma miúda de talvez uns oito anos e um miúdo um pouco mais velho. Também eles noutra dimensão.

Dois minutos depois regresso à matrix ao cruzar o portão do meu condomínio.




Em Ahmedabad, outra dimensão, à beira do rio Sbarmati





E, ali a 200 metros, o hotel Le Méridien

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