“Bush terminou o seu mandato. Viva Obama!” – parece ter sido o grito do dia à volta do planeta. Não é claro se toda esta obamamania deriva (1) dos anticorpos gerados nos últimos oito anos contra Bush, (2) da cor da pele de Obama, ou (3) de méritos demonstrados do novo presidente. Se tivesse de apostar, diria que 60% vem de (1), 30% de (2) e 10% de (3). Afinal, além de ser muito bom discursador, falando de modo claro, poderoso e inspirador, não sei muito mais sobre ele.
Imagem: gawker.com
Rapidamente Bush será esquecido, o bronzeado de Obama deixará de ser novidade e os discursos terão de passar a acções. As revistas que têm censurado a criatividade dedicando repetidas capas ao messias Obama finalmente destacarão outros temas. Inevitavelmente, as decisões do novo presidente, boas ou más, incomodarão sempre alguém. Por muito competente e bem intencionado que possa ser, Obama não cumprirá as exageradas expectativas que todo o mundo parece ter gerado. Afinal, onde é que já se ouviu um povo falar bem dos seus dirigentes? Espontaneamente, em poucos lugares.
De qualquer modo, desejo o maior sucesso ao novo presidente da nação mais poderosa (e, por isso, mais perigosa) do mundo. Sei que é utópico, mas que fantástico seria se as acções dele seguissem o espírito das palavras (“walk the talk”, como se diz por aqui) que hoje partilhou no discurso de tomada de posse. Palavras cheias de bons sentimentos, bons valores, uma visão abrangente do mundo, pacifista, justa e em algum ponto até ecológica. Que tenha a coragem de tomar decisões difíceis (em que talvez alguns tenham de perder para muitos ganharem, ou todos tenham de perder hoje para todos ganharem no futuro), desafiando lobbies, grupos de interesse, financiadores de campanhas, preconceitos, de modo a gerar o máximo de felicidade no mundo. Que tenha humildade para lidar com a imperfeição, dele, dos amigos e dos menos amigos, e para não seguir os impulsos agressivos e belicistas a que os EUA têm habituado o mundo. Que tenha a sabedoria para decidir onde e como deve intervir. Que seja um agente do bem e não ceda ao “lado negro da força”.
Não existem salvadores do mundo, nem da nação. Foi sobre isso que Obama falou hoje, responsabilidade: “O que nos é pedido agora é uma nova era de responsabilidade – o reconhecimento, por cada americano, de que temos deveres para com nós próprios, a nossa nação e o mundo (...)”.
Se o povo estado-unidense acreditar, pode ser que se gere uma profecia auto-realizadora positiva, de responsabilização individual, de optimismo, de mudança para melhor. E quem sabe povos de outros pontos do globo não se inspirarão na mesma onda? Bem precisamos.