Há alguns anos que tenho o privilégio de responder "Nada" quando alguém próximo pergunta o que é que preciso (para o Natal, aniversário, ou alguma outra ocasião em que se convencionou oferecer coisas). Agradeço a recorrente pergunta, apesar de por vezes demasiado insistente, porque me faz sempre ficar consciente da minha privilegiada situação num mundo em que tanta gente vive com tantas dificuldades.
Na verdade, a minha resposta não pode ser tomada de forma absoluta: tenho de admitir que preciso de oxigénio, água e alimentos para viver. E não sei o que é viver sem uma casa, um abrigo. Nem sem uma razoável liberdade. E saúde também dá muito jeito. Ou os respectivos cuidados na falta dela. Pensar como não me posso queixar da falta de nada disto (nem alguma vez pude em 33 anos de vida) aviva a noção de vida privilegiada. E faz-me pensar em quem não tem a mesma sorte. Sorte mesmo: não posso reclamar qualquer mérito por ter nascido nesta família, onde e quando nasci, por ter estudado onde estudei, trabalhado onde trabalhei... Claro que tive de fazer algumas opções ao longo da vida, mas tive a sorte de as poder fazer.
Tudo isto para, saindo um pouco da linha positiva e amigável que espero que as bulicenas costumem seguir*, declarar
morte ao Pai Natal! :)
quadro: Robert Cenedella
O Pai Natal é a metáfora para esse estranho costume das prendas natalícias materiais e materialistas. A grande maioria das pessoas a quem damos alguma coisa não precisa de coisa (material) nenhuma. A maioria das coisas que damos (excepto os mais criativos!) provavelmente não tem significado especial para quem recebe. (Nem para quem dá?) Muitas vezes são até opressivas, gerando um incómodo sentimento de reciprocidade "se ele me deu isto, agora tenho de retribuir". "Alimentam a economia", justificam alguns. Que raios é suposto isso querer dizer?? Qualquer compra, por mais estúpida que seja, "alimenta a economia". Isso faz dela uma compra boa?? Não, antes pelo contrário: uma compra estúpida alimenta estupidamente a economia. Gera desperdício, abuso desnecessário dos recursos do planeta.
imagem: Urban Army
Por solidariedade pelos desprivilegiados, por ecologia, por vergonha na cara, proponho aniquilar o Pai Natal. Ou simplesmente esquecê-lo. Ou transformá-lo? Por quê pedir-lhe egoisticamente coisas para mim? Por que não pedir a mim próprio para ajudar a quem precisa? E responder ao pedido.
Como de costume, nenhum leitor das bulicenas conte com prendas materiais da minha parte neste Natal (nem em qualquer outro). Espero que possam contar com a minha amizade e boas energias. E vou tentar dar prendas a quem precise mais, por exemplo fazendo um donativo a organizações que andam a ajudar as vítimas das recentes catástrofes naturais por estes lados: terramoto em Padang, inundações em Manila, maremoto em Samoa. Se alguém tiver uma vontade incontrolável de me oferecer alguma coisa, ofereçam-me por favor uma ajuda a quem precisa!
Feliz Natal!
*Na verdade não é uma declaração tão agressiva assim, pois consta que o senhor das barbas brancas vestido de vermelho não existe. Para quem acredita, as boas notícias são que o Pai Natal foi preso no ano passado. Talvez este ano me safe finalmente de receber prendas?
Nem tudo no Natal é sobre consumo excessivo... É também uma altura do ano em andamos um pouco mais felizes, passamos mais tempo com a família, lembramo-nos dos amigos (mesmo que seja para lhes comprar um presente pateta de que não precisam), e deixamos de andar tão obececados com o trabalho para apreciar as coisas boas e simples à nossa volta. Até o friozinho da época sabe bem! Mas concordo contigo que é melhor dar a quem precisa em vez de gastar desnecessariamente. Beijinhos, Nuno, e espero que nos venhas fazer uma visita no Natal :)
ResponderExcluirOu entao facam como as senhoras do Down to Earth, que costuram aventais para oferecer como presentes...
ResponderExcluirPodemos dar menos presentes, menos consumistas, so' a pessoas muito proximas, como filhos e pais.
Isso ja reduzia imenso o desperdicio.
Beijinhos
Nuno, tenho andado mesmo a pensar nisto para este Natal, mas não queria voltar a fazer os mesmo donativos para as mesmas pessoas. Podes dar-me uma indicação CONCRETA de alguma organização QUE CONHEÇAS aí para os teus lados e a quem os donativos seriam bem entregues? Assim, também nós podemos seguir o exemplo e dar o NIB dessa organização aos nossos familiares e amigos.
ResponderExcluirOlá,
ResponderExcluirSabes que ja toda a gente debateu este tema infindavelmente e todos nós concordamos (inumeras vezes em inumeras conversas, que o espirito de Natal ja nao tem mto de sagrado e tem mto de consumista) MAS isso nao quer dizer que o Natal de todos nós tenha que se reger por esses padroes: eu escolho as pessoas a quem dou algo, o que dou e porque dou.
'A maioria das coisas que damos (excepto os mais criativos!) provavelmente não tem significado especial para quem recebe. (Nem para quem dá?) Muitas vezes são até opressivas, gerando um incómodo sentimento de reciprocidade'
Sobre este teu pensamento extremista... acredito que isto aconteca, mais uma vez, quando de facto a pessoa liga ás aparencias e ao politicamente correcto desta sociedade.
No Natal:
- eu ja recebi prendas sem dar nada em troca
- eu ja ofereci prendas que me fizeram sentir super contente por dar aquilo áquela pessoa amada e essa pessoas ficou mtooo contente com a prenda que eu dei
- eu nao dou prendas que EU gosto, mas sim algo que ouvi a pessoa dizer que gostava de ter, que faz sentido para ela
e por ultimo, eu nao espero pelo Natal para ajudar associacoes de caridade e outras nobres causas, nem espero pelo Natal para dar prendas a quem mais me é proximo (que no Natal contam-se pelos dedos de uma mao as pessoas a quem dou algo).
Resumindo, concordo, o Natal é consumista, mas podemos vive-lo, tirando o espirito positivo dessa epoca, sem o anular por completo e queimar na fogueira.
Nao é com pensamentos e accoes extremistas que se constroi um mundo melhor (realisticamente), mas sim com transformacao de cada coisa em algo melhor.
Abraco
Vanessa.
Olá primo
ResponderExcluirAcho que tens toda a razão!
Mas tem cuidado.
Tanto o titulo "morte ao pai natal" como a primeira imagem em que se pode ver o pai natal crucificado apontam para a Páscoa.
Ora na pascoa havia, quando eu era "pikeno", as amêndoas, os ovos de Páscoa, o folar etc... e hoje em dia já se começam a ver nas superfícies comerciais apelos a outro tipo de consumo relacionado com a Páscoa, nomeadamente brinquedos para a pequenada.
Se no natal começou por se festejar o nascimento de Cristo e com o tempo e a sociedade de consumo sobrepôs também a festa do... ... (qualquer coisa) do pai natal...
Não dês ideias ao pessoal do marketing.
Porque assim como tu queres que o pai natal morra há de haver quem o queira morto e ressuscitado ao fim de três dias.
Aí teríamos:
1 - A festa que comemora o ... (aniversário?) do pai natal.
2 - Carnaval para entrar na quaresma do pai natal.
3 - Domingo dos ramos da árvore de natal.
4 - Semana do santo natal
5 - E, last but not least: a ressurreição do pai natal.
No que toca a consumismo isso era uma festa.
... continuação ...
ResponderExcluirPois é: eu também me considero um afortunado pelo que acima enunciaste.
Lá em casa nunca se pediu nada ao pai natal. Os meus pais sempre me ensinaram que se queres ver as coisas resolvidas não fales com intermediários. Vai directo ao boss. De maneira que lá em casa se querias pedir alguma coisa tinhas que escrever ao menino Jesus.
Felizmente já lá vão muitos anos desde o meu último pedido material quando era criança. Não me envergonho de os ter feito, talvez sinta um pouco de embaraço mas não vergonha. Éramos todos crianças, muito gulosos, sedentos de brincadeiras e brinquedos. E lembro-me muito bem de alguns brinquedos que os meus pais me deram e o muito que me fizeram feliz.
Desde há muito tempo que para mim o momento mais especial do Natal é a noite de Natal em si e o convívio que nela acontece.
Vamos à missa do galo, pela questão da falta de estacionamento só vai um carro para os meus pais, depois vimos os que “sobram” a descer a ladeira e a cantar músicas de natal. Em chegando a casa faz-se um chocolate quente “dose familiar” fazem-se torradas com manteiga e há queijo e fiambre também. Alguns doces da época mas tudo sem grandes exageros.
Mas, sendo uma mesa simples, é muito farta em presenças.
É delas que sinto falta e são elas que desejo. E sem brigas, que são coisas quase inevitáveis quando 7 adultos que não se vêem há muito tempo e cada um com a sua forma de pensar se encontram de repente alguns dias sob o mesmo tecto.
Resumindo, e voltando ao que estávamos a falar:
ResponderExcluirNão sou contra as prendas por si só.
Sou contra a associação das prendas ao natal ou a qualquer outra data: Páscoa, dia dos namorados, dia de Portugal de Camões e das comunidades portuguesas :) ou qualquer outro.
Sou a favor que se dê prendas em datas ou ocasiões relacionadas com a pessoa que queremos presentear. Ou então sem data ou ocasião especial. Apenas porque queremos e nos lembrámos.
Sou a favor do Pai Natal, sempre que há eleições ando sempre à procura dele para pôr a cruzinha. Infelizmente ele nunca se candidata. (costuma-se dizer que os verdadeiramente bons ganham mais no privado, e se calhar é verdade…)
Sou a favor que se ajude os outros, não só materialmente. Há muita gente só para quem esta época de união familiar é especialmente acutilante. Não é preciso chamar um estranho, alguém que não conhecemos para passar o natal connosco. (pois ainda que morno, seria para ele um Natal sempre frio) Basta que não deixemos que os nossos se nos tornem estranhos. E se todos o fizerem não haverá mais estranhos no mundo.
Sou a favor que no Natal se comemore o nascimento de Jesus.
Sou a favor que se componha o Presépio como presença e lembrança do porquê da época.
Há quem pense que a presença de estátuas representa por si só a adoração de objectos - isto não se me apresenta como óbvio mas… - por isso também não me oponho a quem se queira abster do presépio. (façam como entenderem e não briguem por causa disso.
Sou a favor que todos se dêem bem e promovam a paz dentro e fora da época natalícia.
Sou contra que se festeje o Pai Natal (por motivos de consumismo material e ecológicos).
Sou contra a árvore de Natal (pelos mesmos motivos)
Oponho-me á ideia da economia como um ser vivo, pelo que:
Sou contra que se ande a alimentar a economia (fausta, gorda e gulosa), com tanta gente a viver de fome de fome no mundo, e a morrer também.
Sou a favor que a economia nos alimente a todos nós no mundo por igual, que tem lá quanto é preciso. E que se apresse que a urgência é já antiga.
Sou a favor das anedotas com o pai natal. Só pela piada…
Sou a favor e contra muitas outras coisas, algumas não vêem ao caso… outras não me “alembra” agora.
Desejo a todos os co-leitores e aos não leitores das bulicenas (por opção própria ou limitação do meio :() bem como ao meu primo Nuno que aqui deixou o mote:
Um Santo e Feliz Natal.
Paulo Fonseca
Pois é! eu sabia que algum dia ia apanhar o Nuno! ninguém poderia ser tao perfeito... algures existe sempre um tendão de aquiles....
ResponderExcluirVejam o que andava a fazer o nosso Nuno em 2004... a estudar um MBA?? nada disso.... correndo pelas ruas de Singapura com o Homem Bala, motards sem mota e jogadores de hoquei no gelo em terra firme... se vc é uma pessoa impressionavel por favor nao veja o seguinte video: http://www.youtube.com/watch?v=VTMgVBkwLKM
J. Feijoo
JR, dá uma olhada no KIVA.org, que é um portal de microcrédito no qual podes financiar empreendedores à tua escolha!
ResponderExcluirAbraço
André
Ê pá, também embirro solenemente com o Pai Natal. Mas achas que dá para manter a chama do Menino Jesus e o Ratón Perez??
ResponderExcluirNão estou preparada para me desfazer assim dos meus mitos!
Prima Xica