Concordo que as preocupações "ambientalistas" são antes de mais preocupações com o nosso ambiente: aquele que é confortável para mim, para os humanos. Bom ar para respirarmos, água para bebermos, chuvas não tóxicas para a nossa agricultura, biodiversidade para continuarmos a ter acesso a variados recursos em complexo equilíbrio, condições atmosféricas razoavelmente agradáveis...
Mas é incrível a capacidade do ser humano de descontar o futuro e pensar "Ah, mas isso será só daqui a não-sei-quantos anos!" Vivemos como aqueles fumadores que já sabem há muito tempo que fumar não é saudável, aumenta brutalmente a probabilidade de cancro do pulmão (além de gerar péssimo hálito e dentes pretos) e leva a muito provável sofrimento futuro. Para quê stressar? Vou mas é curtir a vida! É amanhã? Então não importa.
O famoso problema do free rider (passageiro clandestino?) só piora as coisas: eu sou apenas um entre mais de 6 mil milhões. Se o vizinho do lado deita lixo para o chão, desperdiça energia, anda de carro o tempo todo, etc. etc., por que tenho de ser eu a poupar os recursos do mundo? Vou mas é curtir a vida! Sou uma gota no oceano? Então não importa.
As boas notícias são que o universo, a Terra, a vida e outras tantas coisas fantásticas já estavam cá milhares de milhões de anos antes do ser humano e cá continuarão depois do ser humano. Desaparece uma parte simpática desta obra espectacular, mas ficam 99,9999999999...%. Nada mais natural (a história da vida está cheia de extinções!), apesar da nossa mania de que somos especiais e merecedores de um bail out divino que nos mantenha infinitamente no "poder", com o "estatuto" que julgamos ter.
Então, para quê mudar o nosso comportamento?
Por egoísmo: cuidar do ambiente é exactamente cuidar do ambiente em que vivo... se o mantiver num estado mais estável, limpo, funcional, é provável que eu viva uma vida mais confortável, com menos percalços, mantendo acesso aos recursos a que estou habituado (ar, água, alimentos, fontes energéticas, matérias primas...).
Por nepotismo, nacionalismo, antropocentrismo: se preservar o ambiente, pessoas perto de mim (família, amigos, conterrâneos, outros humanos...) viverão uma vida mais confortável.
Por animalismo, plantismo ou vidismo (preferência pela vida) em geral: se preservar o ambiente em que os seres vivos vivem, é mais provável que eles continuem a viver. Eu gosto de seres vivos (pelo menos grande parte deles - tenho alguma dificuldade com as baratas, mas estou a melhorar).
Por equilíbrio: se eu impactar menos o ambiente vivo em maior equilíbrio com ele. Em geral gosto de equilíbrio (com uns abanões de vez em quando, sempre para alcançar algo melhor).
Por estética: talvez um mundo menos cinzento e menos poluído, com mais variedade de seres vivos seja mais bonito?
Por outras razões que agora não me ocorrem. Propõe as tuas nos comentários! E se tiveres razões para destruir o ambiente, também gostaria de as ouvir - serão certamente uma excelente fonte de reflexão.
Sou certamente um dos humanos com maior impacte ambiental e não é fácil definir onde estão os limites... Vou continuar a trabalhar para melhorar na protecção do meu ambiente. Seria masoquismo fazer outra coisa.
PS: Obrigado, João, por teres provocado esta reflexão!
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
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Ontem fiquei arrepiada, vi um comentário em que explicavam que as lampadas de baixo consumo são feitas à base de mercúrio e que ainda não há forma de serem tratadas com elemento contaminante quando vão para o lixo, já temos formas de recolha de pilhas, de plásticos, etc, porque não de lampadas também!!!! Começo a achar que a melhor forma de poupar o ambiente é pormos a tecnologia poluente de lado e voltar a trás enquanto se pesquisa uma solução saudável...
ResponderExcluirDe nada! :)
ResponderExcluirFico à espera de um relato do triatlo!
ABRAÇO!
João.
Eu ja' tinha percebido que as preocupacoes ambientalistas sao antes de mais preocupacoes egoistas, e por isso me faz tanta, mas tanta confusao as pessoas deste mundo, egoistas como sao andarem tao em negacao em relacao ao facto de que estamos a arruinar a hipotese das geracoes vindouras poderem viver neste mundo.
ResponderExcluirCaramba, se nao se mexem por eles, ao menos pelos filhos?
Misterios humanos...
Ou Burros humanos?
O conceito de free rider é muito interessante. Todos os dias passo por "free riders" (literalmente) no comboio da linha de Cascais. Como será que justificam mentalmente a sua atitude?
ResponderExcluirÉ de notar que a CP não só é uma empresa do estado, como está cronicamente falida, ou seja, todos pagamos pelos free riders, de mais de uma maneira.
Voltando ao ambiente, acho que as pessoas simplesmente não pensam nesses assuntos. Apesar de saberem que não é verdade, a maioria imagina o mundo como infinitamente grande e infinitamente dotado de recursos. Para quê preocupar-se se o frigorífico está cheio?
Abraço!
Bessa
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirHá tempos deparei com este artigo "Porque digo não à reciclagem!" é claro que a curiosidade me levou a lê-lo e deixa, de facto, algumas ideias que, embora supreficiais, podem dar que pensar relativamente à nossa consciência de ambientalista. Isto porque muitos de nós vêem as atitudes ambientalistas como "reciclar".
ResponderExcluirA reciclagem parece, cada vez mais, desculpar as nossas atitudes menos ambientalmente amigáveis. Ou seja, se "eu separo as embalagens/plásticos para reciclar, posso trazer do supermercado, mais sacos, mais produtos embalados". O ambientalismo tem sido visto como "eu continuo a ter direito a comprar mais e a querer mais desde que recicle..."
Já alguém pensou o que é ser ambientalista? o que é necessário para (citando o Nuno) termos "Bom ar para respirarmos, água para bebermos, chuvas não tóxicas para a nossa agricultura, biodiversidade para continuarmos a ter acesso a variados recursos em complexo equilíbrio, condições atmosféricas razoavelmente agradáveis..."?
De certa forma concordo com o moço do artigo no sentido de que reciclar, só, se calhar não chega...
http://www.cenedcursos.com.br/porque-digo-nao-reciclagem.html
Se calhar é realmente como dizes Bessa e "Para quê preocupar-se se o frigorífico está cheio?" e a casa aquecida/arrefecida...
Bjs Rita
(Nota- não sou assim tão negativista, mas acho que na sociedade de consumo desenfreado em que vivemos e que alimentamos, só há lugar para "aspirinas" ambientais como a reciclagem...)
Por falar em ambiente, eis o último acidente de que há cinhecimento público...
ResponderExcluirhttp://www.bbc.co.uk/news/world-europe-11491412
Rita
Foi bom ver-te de volta à escrita (até já te tinha provocado chamando-te preguiçoso).
ResponderExcluirTenho pensado nesses assuntos, auto-suficiência, agricultura biológica e sobretudo na necessidade de nos despojarmos um bocadinho.
bjs caçula
por amor :-), que sintetiza isso tudo.
ResponderExcluire se formos muito, mesmo muito egoístas e começassemos a ver o é o melhor que podemos ter para nos, nem sequer íamos preocupar-nos com o que faz o vizinho. Porque ele ia ser tão ispirado para o nosso comportamento (lê as nossas energias, que são mais efficazes de qualquer campanha de sensibilização) que iria começar também a cuidar de si, das pessoas e do ambiente a sua volta.
beijinhos!