Durante o curso no Técnico, há uns 16 anos (glp!), entrei uma tarde na cafetaria da cantina e encontrei um monte de alunos hipnotizados pela TV. Descobri que estavam a ver um tal de "Dragonball" (série de desenhos animados japoneses, ou anime). Fiquei realmente espantado ao ver malta de 20 anos tão fanática por desenhos animados, a ponto de tornar uma prioridade assistir aos episódios diários (enquanto as minhas prioridades passavam por correr, esgrimir, etc., publicar uma revista, ou talvez fazer algum trabalho da faculdade). Em conversa com um amigo, aprendi que era uma série de artes marciais, em que os combates por vezes duravam vários episódios (???). Nunca assisti a nenhum, mas fiquei a pensar "como é que isso pode ser interessante??"
...
15 anos depois...
Na minha primeira viagem ao Japão, uns dias depois da maratona de Tóquio e uns dias antes do famoso tsunami (que me deixou sem grande inspiração para escrever sobre a viagem, por achá-la tão... leviana face ao sofrimento de quem levou com o tsunami em cima)... numa pequena pousada em Nara, perto de Quioto, havia uma estante com alguns livros que os hóspedes podiam ler. Numa olhada rápida, três lombadas vermelhas saltaram à vista.
Eram três dos primeiros volumes da série original de banda desenhada japonesa (ou manga) "do" Dragon Ball (na qual a série de anime se baseou). Recordando os meus amigos fanáticos de anos atrás, peguei no primeiro volume e decidi dar uma olhada, curioso por finalmente perceber qual a piada daquilo!
Não consegui parar de ler.
Li o primeiro volume de uma vez, e no dia seguinte li os outros dois (com o brutal custo de oportunidade de dormir, ou ir passear em Nara! mas o frio exterior ajudava a motivar para aquela hora no quentinho dentro de casa).
Há dias comprei 8 volumes da série em saldos numa livraria que ia fechar e tenho lido um por semana. É sempre tempo bem passado: não só é divertido como transmite boas lições, boas energias e me faz refletir sobre mim mesmo.
Dragon Ball é simplesmente espetacular.
O autor, Akira Toriyama é brilhante. Excelente criador de histórias: épicas, cheias de aventuras, emoção, habilidades e poderes incríveis, muito muito humor, personagens carismáticas e coerentes, caricaturadas, muitas vezes ridículas, muitas vezes admiráveis e inspiradoras... Mas também excelente desenhador: traços simples mas incrivelmente comunicadores, quadrinhos dramáticos, estáticos mas cheios de movimento, de energia, de som, de impacto... Sou grande fã das bocas: algo tão simples como uma elipse deformada dando tanta alma e emoção às personagens.
Son Goku, o simpático puto protagonista (que há 16 anos eu pensava ser o "Dragonball", e com quem algumas crianças naquela altura me confundiam quando o meu cabelo estava mais comprido), desenhado na capa do livro acima, é particularmente espetacular e inspirador:
. Imaculadamente bom, com zero maldade
. Super-hiper-honesto, muitas vezes ingénuo, nunca aplicador de truques menos limpos, muitas vezes alvo deles
. Sempre sempre bem disposto, a emanar infinitas energias positivas, cheio de alegria de viver (e de lutar), mesmo - ou especialmente - quando embrenhado na mais épica final do maior torneio de artes marciais do mundo (O Mais Forte Debaixo dos Céus)
. Grande amigo, leal, companheiro, em especial quando em combate (Son Goku para Kuririn, o melhor amigo, quando se defrontaram pela primeira vez num torneio, nas meias-finais da 22a edição d'O Mais Forte Debaixo dos Céus: "Estou tão entusiasmado! Vou dar o meu melhor!! Tu também, OK, Kuririn?")
. O maior respeitador dos adversários: quando vitorioso ("Talvez ele estivesse num mau dia hoje...") e quando derrotado ("Que grande combate! Ele é mesmo muito bom!! Que privilégio poder aprender com ele!")
. Incansável trabalhador, aplicado, com a melhor ética de trabalho alguma vez vista, infinita força de vontade, sempre preocupado em desenvolver-se mais e mais e mais (por exemplo, passando 3 anos a treinar a cauda - o seu "calcanhar de Aquiles"), para ficar mais forte, mais rápido, sempre melhor
Quando for grande quero ser como o Son Goku!
domingo, 11 de março de 2012
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Eu também tive essa surpresa e esses pensamentos um dia em que entrei na fa-utl! E desse dia em diante, todos os cromos, melhores alunos, etc., paravam por volta das 11h da manhã (passou a ser normal simplesmente interromper a aula prática de Arquitectura) e ficavam vidrados na TV do átrio. E depois à tarde nas aulas teóricas, como esta malta até tinha jeito para o desenho, era ver aviõezinhos a passar com reproduções dos bonequinhos guerreiros, em voos acompanhados de gritinhos cortantes (uma pessoa normal *eu* nem conseguia dormir!). Mas será que eu era normal? Olhando para esse ano, lembro-me de estar numa aula de ballet, código, ou à espera do auto-carro, a colar maquetas, ou no cinema (actividades normais que me enchiam o tempo nessa idade) e pensar que devia inteirar-me do que tratava aquele sucesso... E agora, tendo surgido num ano-chave na formação de toda uma geração de arquitectos, quê influências terá tido na Arquitectura Portuguesa : ) ? Bom...
ResponderExcluirQuerido Buli, queria acrescentar que, caso não tenhas reparado, tu já és grande. És enorme, só falta mesmo o cabelo.
Patrícia: sim, também me lembro desses aglomerados de gente ali na zona da Associação de Estudantes da FAUTL!!! Sou mais um que passou completamente ao lado do fenómeno.
ResponderExcluirBuli: definitivamente conseguiste surpreender-me! Tenho para mim que é importante na minha vida de teólogo ter na prateleira a Bíblia, o Catecismo da Igreja Católica, algum livro de espiritualidade... e uma Mafaldinha, ou um Calvin, ou um Patinhas! Com esta publicidade ao Dragon Ball, acho que vou ter que analisar a possibilidade de inclusão na minha biblioteca essencial! Hehe.
A malta já tinha saudades de umas "bulicenas"!!!
ABRAÇO!