segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Direitos Não-humanos

Num quente fim de tarde em Maio, enquanto deambulava pelas ruas de Paris em busca de alojamento barato para uma noite, passei pela porta de um café onde estava afixado um cartaz parecido com este (mas em francês):



Fascinante! Ali estava um conceito deveras avançado! Muito à frente mesmo!! Claro que existe a protecção animal, ecologistas, etc., mas nunca tinha ouvido falar de alguém defender os direitos "não-humanos" sugerindo que eles merecem ser tratados com IGUALDADE!! O café estava fechado e o cartaz não continha mais informação. Assim que pude, claro que fui perguntar ao google o que seria aquilo. Talvez um grupo com quem pudesse partilhar ideias anantropocêntricas?

Rapidamente me desiludi ao descobrir que era parte da estratégia de marketing viral de um novo filme: District 9. Mas não pude deixar de achar inteligente e despertadora de curiosidade a forma como tinham sido produzidos sites razoavelmente realistas para a empresa privada MNU em destaque no filme, para um blog de extraterrestres a favor da igualdade de direitos, um site com ar antiquado com referências a extraterrestres...

Encontrei o trailer do filme, que me deu uma ideia do enredo:



Não vi o filme. Mas provavelmente apreciaria, porque facilmente gosto de mundos de ficção científica que despoletam a minha imaginação, especialmente se estimularem a introspecção, se incluírem alguma autocrítica ou crítica social.

Fiquei a pensar qual seria afinal o tema do filme. Discriminação? Os extraterrestres seriam talvez uma metáfora não tão subtil para povos e seres refugiados, oprimidos, subjugados? Será que o Distrito 9 é muito diferente da Faixa de Gaza? Ou dos múltiplos campos de refugiados à volta do mundo - gente em fuga de conflitos genocidas, inocentes prisioneiros em países vizinhos, não aceites pelos locais, privados de liberdade de movimentos, de contacto com familiares, de trabalho? Ou, mais profundamente ainda, como aquele cartaz no café parisino tinha sugerido, os extraterrestres representam os seres vivos com quem partilhamos o planeta e a quem não respeitamos demasiado.

O que nós, humanidade, merecíamos era mesmo que aparecessem por cá uns extraterrestres super-avançados. O suficiente para nos ignorarem e nos tratarem, com toda a justiça, como nós tratamos os outros seres. Mas não tão avançados que nos tratassem com respeito e quem sabe até igualdade.

Um comentário:

  1. Ainda ontem dava na TV um programa sobre os direitos dos animais e, perguntando-nos lá em casa sobre como era possível tamanho grau de atrocidades sobre os mesmos, acrescentávamos uma pergunta adicional: se as pessoas se tratam tantas vezes como tratam, o que não fazem aos animais ou, acrescento agora, a qualquer ser não humano...
    Um abraço!
    P

    ResponderExcluir