No ano passado fui uns dias até Phuket - famosa ilha tailandesa, supostamente um paraíso de praias imaculadamente brancas, águas quentes, mar azul transparente. E talvez seja assim na época alta. Mas estávamos em época de monções: dias a tender para o triste, chuvas intermitentes, ventos fortes, praias desertas. E sem turistas ninguém se dava ao trabalho de limpar a areia do lixo orgânico e sintético trazido pelas marés vivas. Além dos cocos, troncos e ramos de árvores, conchas e outros restos de origem não humana, o areal da praia de Karon encontrava-se generosamente adornado por (em ordem de maior a menor frequência) palhinhas, tampas de garrafas, garrafas de plástico, garrafas de vidro, embalagens e sacos de plástico, escovas de dentes, lâmpadas eléctricas, chinelos... Uma beleza!
Na mesma onda (não literalmente), bastantes quilómetros a leste de Phuket, flutuavam e flutuam cada vez mais restos plásticos não biodegradáveis: a maior lixeira do mundo.
Encontrado nos blogs do sempre pertinente Worldwatch Institute
(Faz lembrar aquela campanha dos free range studios contra os sacos de plástico.)
Mas tudo isto se passa lá longe na Ásia, ou nos Estados Unidos, ou no meio do Pacífico (nem sequer é no Atlântico!). Coisas dos consumistas e poluidores americanos e chineses. Por isso nao é nada com os europeus, certo?
É com certeza comigo. Fico horrorizado com a quantidade de lixo que produzo. Certamente posso esforçar-me mais por reduzi-lo. Habituei-me a dizer "Não preciso de saco, obrigado" quando compro alguma coisa. Tento ir ao supermercado sempre com uma mochila, para não trazer de lá mais embalagens (para além dos produtos excessivamente embalados que não consigo evitar comprar). Mas de vez em quando passo por lá sem mochila e trago mais uns sacos que vou acumulando sem lhes conseguir dar uso. Apesar da fantástica Singapura não parecer estar muito avançada em recolha selectiva de lixo (o que se reflecte nas reduzidas taxas de reciclagem de lixo tipicamente doméstico), consegui descobrir onde deixar o meu lixo separado em papel, plástico, latas e vidros. Assim ganhei maior consciência da brutal quantidade de papel e plástico que deito fora diariamente. É terrível. Onde vai parar tudo isto?? Parece que aqui em Singapura o lixo é incinerado e mandado para uma ilha-aterro. A propaganda oficial é tão potente, que só encontro referências bastante positivas sobre este sistema - será mesmo assim tão bom?
O lixo desaparece facilmente dos meus olhos... mas algo me diz que ele anda por aí, e que deve ser cada vez mais difícil escondê-lo. A habitual miopia adulta leva-nos a acreditar que sempre foi e tem de ser mesmo assim, que é inevitável, é a vida!
Talvez precisemos de voltar a ser crianças, como o Gui, irmãozinho da Mafalda, e voltar a fazer perguntas: Puquê?? Mas puquê?!?! Por que será que tivemos de criar esta sociedade brutalmente lixógena? Como podemos torná-la mais limpa? Ou acabar com ela? Ou sair dela?
A incineração de lixo não é das melhores maneiras de o fazer voltar à "natureza", mas se com isso produzirem energia, como fazem no Japão, do mal o menos...
ResponderExcluirPois eu fico chocada quando em Portugal se recicla e conheço um monte de gente inteligente e urbana que é capaz de dizer que não separa lixo porque o ecoponto fica a 100 metros ou porque vive sozinho e faz pouco lixo. E quando fazem festas, normalmente bem regadas com algumas dezenas de garrafas de cereja (às vezes por pessoa), não compram garrafas reutilizáveis - sim, ainda existem, são lavadas e voltam a ser enchidas - e ainda deitam as outras para o lixo normal, em vez de no vidrão. Vidrão é coisa que em Portugal há pelo menos há 25 anos!
Há anos que me habituei a reciclar vidro, plástico e embalagens. Não me preocupo em rejeitar sacos de plástico, porque os reutilizo e no fim mando para a reciclagem. Ou acabam a servir de sacos do lixo, mas esse problema não sei como se resolve...
ResponderExcluirMas sim, o problema é monumental e poucos parecem ter consciência disso. Parece um problema distante, mas não é. Nos devolvemos estes produtos não degradáveis para a natureza e inevitavelmente vivemos com eles. Respiramos o ar que poluímos, comemos o peixe que veio do mar onde largamos o esgoto da fábrica, etc...
Espero que não acabe como no WALL-E...
Mónica ou Mafaldinha?
ResponderExcluirDe resto, concordo com tudo... =P
Ooops... que gaffe!! Claro que o Gui é irmão da Mafalda! Está corrigido, obrigado! Acho que passei tempo a mais no Brasil e de menos na Argentina... :)
ResponderExcluirObrigado pelos comentários! Acho que o pior da reciclagem até talvez seja que a sua existência nos leva a ficar com a consciência tranquila ("estou a fazer a minha parte... separo o lixo e mando para reciclar") e não nos leva a ser mais radicais na redução do lixo. Como se lixo que é separado para reciclar não fosse lixo! Eu pelo menos acho que às vezes fico demasiado descansado com o assunto...
caramba que assunto incomodativo este o da reciclagem, incomodam-me as quantidades de lixo que vamos produzindo, incomodam-me os que tanto falam de ambiente, ensinam nas escolas as crianças e em casa são uma desgraça (nem pensam em separar ou produzir menos) se eu mandasse apetecia-me a partir de hoje dizer "cada um que destrua o seu lixo". Que pena os nossos antepassados aprenderam a dizer "Olha que Deus castiga" em vez de nos dizerem "Olha que a natureza castiga" ou melhor ainda "A natureza devolve tudo que lhe dás" assim talvez a respeitasse-mos mais.
ResponderExcluirbeatriz
Uma vez subi ao alto de Montmartre, em Paris, e não pude deixar de ficar espantado com a vista. Mas, curiosamente, o que me marcou na vista nem foi tanto a beleza urbana que se me apresentava: havia cidade a perder de vista.
ResponderExcluirO que me marcou mesmo (e ainda hoje, passados oito anos, recordo com nitidez) foi pensar: onde irá toda esta gente buscar energia, alimentação? onde irão parar os desperdícios desta gente toda?
ABRAÇO!
João.