Desde o campeonato nacional de pentatlo dediquei-me empenhado à preparação para a maratona de Hong Kong (próximo domingo, 28/Fev). Corri uma média de 90 km por semana durante 8 semanas, chegando a 110 na de maior volume. Nunca tinha preparado uma maratona com tantos kms! Fiz toda a preparação sem percalços, sem lesões, cumprindo tudo o que o meu treinador (um tal de Buli) tinha planeado.
E comecei as duas semanas de taper (termo técnico para o período de descanso em que o corpo recupera do esforço acumulado nas semanas de treino mais pesado, construindo forma para o grande dia). Estava e estou em super forma. Os treinos longos tinham sido relativamente fáceis, sentia algum cansaço devido aos kms acumulados, mas estava confiante na recuperação até dia 28. As temperaturas em Hong Kong tinham estado baixas (perto dos 10ºC) o que me deixava ainda mais animado para conseguir um bom tempo. Parecia-me possível algo próximo das 3 horas, possivelmente abaixo, e quem sabe até recorde mundial buliano, batendo as 2h57'51" de Nova Iorque 2008?
Até que na terça-feira passada, descalço como sempre quando estou em casa... trungas! Bati com o dedo mindinho do pé esquerdo no pé da cama. Dor lancinante durante um segundo, até equanimemente conseguir assumir o controlo, observar a dor (sem palavrões!) e dissipá-la. Pensei que o dedo ia doer durante um dia e que nem sequer teria de abdicar do treino seguinte (dois dias depois). Descalço, o dedo até estava óptimo. Mas tentei calçar ténis para correr na quinta-feira e o dedo doía muito. Não corri.
Na sexta-feira (há uma semana) tive que andar de sapatos e passei a tarde a coxear. Até aí eu ainda estava convencido de que teria tempo para recuperar e correr a maratona. Só quando uma amiga me disse "vê lá se não partiste o dedo" é que percebi que talvez não pudesse correr! Pensei que ia ficar frustradíssimo, mas não: aceitei a possibilidade de não correr com muita equanimidade! Que poderia fazer? Comprar um dedo novo?
Nem fui ao médico. Segundo a minha pesquisa no google, o tratamento a dar em caso de fractura é repouso e atar o mindinho ao dedo do lado, para o ajudar a soldar-se direito. Gelo e elevação do pé são recomendáveis nos primeiros dias, para diminuir a inflamação. E é o que tenho feito. Para quê ir ao médico? Para ele fazer um raio-X e me dizer se há ou não há alguma coisa partida? Não preciso da confirmação: basta saber que tenho de descansar até o dedo estar bom.
Se eu conseguisse correr descalço até talvez desse para fazer a maratona, porque o dedo só dói quando estou calçado... mas ainda não desenvolvi essa habilidade.
Escusado será dizer que o meu treinador acha que esta história é mas é uma grandessíssima tanga!
Fiquei a pensar nas boas e más razões para conseguir não ficar frustrado com esta situação:
- Na verdade, no meu subconsciente, eu estava com medo de ter de provar que estava em super forma e fazer um super tempo! (é possível - uma maratona não é propriamente uma coisa fácil, há sempre alguma dor física envolvida...)
- A minha equanimidade está realmente bem desenvolvida (acho que vai melhorando, mas pode ser sempre melhor!)
- Já estava com ideias de correr outra maratona em Junho, e correr esta poderia atrasar o início dos treinos para a seguinte
- Treinar para mim é parte do caminho da vida. Não é simplesmente um meio para ficar em forma (muito menos um sacrifício!) para um evento especial (a maratona). E estas 8 semanas de treino valeram imenso por elas próprias: descobri que consigo correr mais de 100 kms por semana sem ficar lesionado e descobri óptimas trilhas para correr no McRitchie Reservoir e no parque Bukit Timah. Antes achava que Singapura não era uma ilha amigável para corredores, mas mudei totalmente de opinião!
Não deixa de ser irónico que, depois de centenas de kms a pisar pedras e raízes arriscando torcer um tornozelo, a passar ao lado de lagartos e cobras coloridas arriscando uma mordidela, quase entrar em áreas de tiro livre dos militares singapurenses arriscando um tiro... não possa correr porque bati com o mindinho em casa!!
Irei a Hong Kong apoiar a minha miúda, que vai correr a meia-maratona, e depois vamos passear uns dias em Macau. Tenho pela frente mais um mês no "estaleiro" (zero corrida, mais natação) até o dedo ficar bom. E depois é voltar à estrada e às trilhas para preparar uma boa classificação na primeira maratona de Dili!!
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
sábado, 20 de fevereiro de 2010
Sou emigra
Sou um emigra de visita à terrinha quando...
Certamente, estas impressões não são nem exclusivas de emigras nem características de todos eles. Quais são as tuas?
- fico emocionado sempre que passo por cima de Lisboa antes de aterrar
- gosto de ver que o país está muito cosmopolita, com abundância de sotaques, outras línguas, cores e feições diversas
- me irrita o xenofobismo e os nacionalismos egoístas
- preciso pensar para ter a certeza de quem é o presidente da república
- ninguém fala bem do primeiro-ministro... mas ele foi eleito há poucos meses
- não reconheço ninguém na capa das revistas "sociais"
- não conheço nenhum jogador ou treinador de futebol, e presidente só o Pinto da Costa (ainda é ele, certo??)
- penso que ainda existem os "três grandes" no futebol nacional
- parece que os Xutos celebram cada ano mais 5 anos de existência
- fico a saber que os Delfins vão acabar
- reparo que o Fadigas (baixista dos Delfins) está a ficar gordo e careca
- não acredito que o julgamento da Casa Pia ainda não acabou
- percebo com tristeza que a corrupção está booming em Portugal
- observo que a "indústria bancária" também está booming: encontram-se quase tantas agências bancárias como pastelarias
- fico chocado com a infantilidade dos deputados na Assembleia da República
- reparo que os noticiários continuam cheios de telenovelas inconsequentes
- abomino o tratamento por "Doutores" e "Engenheiros"
- acho que temos todos nomes e apelidos a mais
- me dizem repetidamente "Ah, estás muito bem em Singapura! Isto aqui está muito mal!"
- concordo que os salários soam baixos e os recibos verdes escandalosos
- ouço alguém reclamar da fuga aos impostos e a seguir justificar-se por os sonegar
- já me tinha esquecido de como a auto-estima do país é baixa
- fico surpreendido ao ver bandeiras portuguesas nas janelas
- não entendo o que aconteceu no fenómeno social "Euro 2004"
- fico a pensar se o futebol é a única coisa que une e motiva os portugueses
- parece que se está a fumar menos em Portugal (ou os fumadores andam menos chatos/agressivos/invasivos)
- o aeroporto finalmente é algo próximo de "livre de tabaco"
- o meu estômago reclama da alimentação nos primeiros dias
- mato saudades da sopa da minha mãe
- como bacalhau dia sim, dia não
- penso em pegar num garfo e numa colher para comer
- sinto falta de comer arroz duas vezes por dia
- me esqueço de pôr sal ao cozinhar arroz
- reparo que em Portugal há uma pastelaria a cada 20 metros
- fico fascinado com a variedade de pães e bolos nas padarias e pastelarias
- passo uma vez por semana nos pastéis de Belém
- compro castanhas assadas na rua
- não é fácil comer vegetariano nos restaurantes
- depois de uns dias sinto falta de uma água de coco
- me descalço ao entrar em casa
- preciso de fichas adaptadoras para ligar o computador à corrente
- falo em dólares em vez de euros
- ainda penso em contos
- faço pagamentos com um cartão de crédito brasileiro
- mudo para o BIG porque a Caixa cobra taxas de manutenção por ter lá poucos Euros
- o banco em que tinha uma conta pequena esquecida mudou de nome (mas existe!)
- não me lembro exactamente qual é a rua do Arsenal
- visito museus, igrejas, parques e outros pontos "turísticos"
- tiro fotografias
- fico fascinado com os moínhos de energia eólica espalhados pelo país
- acontece ficar surpreendido ao ouvir falar português
- de vez em quando, a primeira palavra que me vem à cabeça é em inglês
- já não sei se é facturação ou faturamento
- hesito entre a esquerda e a direita ao cruzar-me com pessoas no passeio
- corro numas das melhores trilhas quase urbanas do mundo: Estádio Nacional
- percebo que já não existem provas de corrida grátis
- vou de bicicleta para todo o lado
- descubro satisfeitíssimo que agora há ciclovias em Lisboa
- acho que os transportes públicos em Lisboa são muito bons
- preciso consultar os percursos dos autocarros para decidir qual apanhar
- ignoro o "7" à frente dos números de sempre dos autocarros
- tenho que investigar como se pagam os transportes públicos de cada vez que volto
- descubro que a linha vermelha do metro já vai até S. Sebastião
- acho que Portugal tem auto-estradas a mais
- vejo demasiados carros novos e caros (enquanto todos reclamam da "crise")
- parece que toda a gente tem ou quer ter carro
- piso excrementos de cão no passeio
- passo o tempo a encontrar, do lado errado, ruas de sentido único
- acho que Lisboa é uma cidade pequena
- nem me passa pela cabeça que possa ser assaltado (nota: vindo de Singapura)
- passo um mês preenchidíssimo com família e amigos, ao pequeno-almoço, almoço, lanche, jantar, "café", desporto, night - e não consigo estar com todos
- tenho o reflexo de estender a mão para cumprimentar uma rapariga
- reparo que entretanto passou um monte de tempo e há miúdos que já estão na faculdade, ou já a acabaram, ou já casaram e têm filhos
- passo o tempo a encontrar velhos amigos na rua por acaso
- me faltam ideias sobre onde combinar um jantar com amigos
- já não sei onde moram os amigos
- já não me lembro de quase nenhum número de telefone
- o meu número de telemóvel foi desactivado por falta de uso
- aprecio o frio do inverno
- passo o inverno sem pôr um casaco
- penso que Lisboa tem provavelmente o melhor tempo do globo
- vou à praia (e entro na água!) no inverno
- acho lindo correr ou pedalar à beira Tejo
- adoro percorrer a Marginal até Cascais e reparar no percurso
- reparo como Lisboa é uma cidade (cada vez mais) espectacular (e Coimbra também! e até o Porto! e muitos outros lugares)
- fico com saudades ao partir!
Certamente, estas impressões não são nem exclusivas de emigras nem características de todos eles. Quais são as tuas?
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