segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Nómada

“¿Usted dónde vive habitualmente?”

Pela terceira ou quarta vez em poucos dias a mesma pergunta complicada!

Desta vez menti sem qualquer pudor: “Em Portugal”.

Afinal, tenho passaporte português e neste momento não sou emigrante legal em nenhum país (fora do espaço Schengen). Não chego a ser o que os estado-unidenses chamam um “illegal alien” já que tenho andado a passear pelo mundo com visto de turista, sem violar prazos nem condições.

E quando o rapaz no check-in para o voo Barcelona-Nova Iorque me fez a recurrente pergunta não convinha responder “em nenhum lugar” (a minha sincera resposta habitual) e muito menos “em Nova Iorque” (verdadeiro nos últimos dois meses, mas terrivelmente suspeito para alguém que me pode negar o cartão de embarque para os Estados Unidos).

Como alguém comentou um destes dias, desde 2003 é necessário um GPS para acompanhar o meu paradeiro. Até há pouco tempo não tinha pensado quão estranhos podem parecer os meus hábitos nómadas. De facto, depois de reparar nas perguntas e olhares intrigados de várias pessoas, incluindo amigos próximos, percebi que se eu não me conhecesse tão bem também teria dificuldade em entender como é que alguém pode mudar tão frequentemente de “casa” (“casa” definida como o lugar no qual passo a maior parte do meu tempo). Decidi listar onde vivi nos últimos seis anos (lugares em que passei pelo menos a maior parte de cada mês) e fiquei surpreendido ao verificar que não fiquei mais do que uns seis meses em cada lugar.





Porquê viver assim, sempre de um lado para o outro?
Porque sim, porque gosto de viajar, de conhecer novos lugares e culturas. Sim, tenho saudades da família e dos amigos em cada ponto do globo, especialmente em Portugal, mas a novidade e as experiências fantásticas pelo mundo, a aprendizagem, as interacções com as pessoas, amigos ou desconhecidos, continuam a alimentar o meu nomadismo. E como é bom voltar de vez em quando a Lisboa e apreciar como nunca a cidade espectacular, os amigos de sempre e para sempre, a proximidade com a família.

Como é possível viver assim? Essas viagens não ficam muito caras?
Não é tão complicado do ponto de vista financeiro; antes pelo contrário, o nomadismo pode até ser uma forma de poupar. Passei grande parte dos últimos anos a trabalhar como consultor em projectos com duração de um a seis meses. Sempre me voluntariei para fazer projectos “fora de casa”, para poder conhecer novos lugares. Fui a trabalho a Timor-Leste, Afeganistão, Brasil, Porto Rico, México, El Salvador, Dubai, Chile, Colômbia, Itália, Portugal, Espanha, Estados Unidos, Índia... Os voos, alojamento e alimentação nesses lugares foram obviamente reembolsados, dado tratarem-se de viagens de trabalho, portanto pude poupar grande parte do meu salário.

Quando é que vais parar?
Quando me cansar. Quando concluir que prefiro estar parado a estar em constante mudança. Vejo algumas vantagens em parar (e algumas desvantagens), como poder estar mais com quem queira estar (desde que partilhemos o mesmo lugar – será complicado estar com pessoas de diferentes nacionalidades), ou poder comprometer-me mais em projectos profissionais, desportivos ou outros que exijam estabilidade geográfica (mas ficar mais limitado para aqueles que exigem mobilidade). Por enquanto, as vantagens da vida nómada superam claramente as desvantagens.

Onde é que vais parar?
Não faço a mínima ideia... Talvez no cemitério? (Mas preferia ser incinerado, depois de reciclado o mais possível.) Vamos ver onde a vida me leva!






Marcha dos Desalinhados - Delfins

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