Nós, iberoamericanos, somos internacionalmente famosos pelos nossos nomes compridos, carregados de apelidos dos nossos pais, avós, bisavós e por aí fora. Como o de Pablo Picasso, para um exemplo famoso: Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Mártir Patricio Clito Ruiz y Picasso. Imaginem a tortura do pobre Pablito, quando na escola lhe pediam para preencher múltiplas fichas com o nome completo! Talvez ele tenha criado logo ali a assinatura curtinha?
Muito mais grave que um nome comprido parece-me a tradição machista com que os apelidos se vão transferindo de homem para mulher e de geração em geração:
A esposa geralmente adopta o apelido do marido (e raramente isso é recíproco, acho que só conheço um caso)
O apelido paterno do pai passa aos filhos e filhas como “principal”, que depois é passado aos filhos dos filhos, e aos filhos dos filhos dos filhos... mas já não aos filhos dos filhos das filhas
Porque não acabar com estas duas discriminações? A minha proposta:
A esposa adopta o apelido paterno do esposo como “apelido secundário”
O esposo adopta o apelido materno da esposa como “apelido secundário”
Os filhos herdam o apelido do pai como “principal”
As filhas herdam o apelido da mãe como “principal”
Hmmm... Assim estabelece-se uma linha genealógica patriarcal e uma outra linha matriarcal... Talvez fosse preferível transmitir os apelidos de forma cruzada, perdendo-se qualquer linha genealógica sexista, não? Muito melhor assim:
Os filhos herdam o apelido da mãe como “principal”
As filhas herdam o apelido do pai como “principal”
Exemplo prático: Maria Silva Ribeiro (Silva é o apelido do pai, Ribeiro apelido da mãe) casa com Manuel Pereira Fonseca (Pereira é o apelido da mãe, Fonseca apelido do pai).
Os respectivos nomes completos passam a: Maria Fonseca Ribeiro e Manuel Ribeiro Fonseca.
Eles têm dois filhos, a quem chamam: Ana e Joaquim.
Os respectivos nomes serão: Ana Ribeiro Fonseca, ou, numa versão minimalista, Ana Fonseca e Joaquim Fonseca Ribeiro, ou simplesmente Joaquim Ribeiro.
Nem é uma proposta muito radical, certo? Não estou a questionar toda esta historia de apelidos, admitindo que pode ser uma forma interessante de identificar famílias... talvez? Por isso mesmo, é também muitas vezes uma forma de perpetuar estatutos sociais, identificando castas pelos respectivos apelidos. Então talvez não seja assim tão inócuo.
Porquê escrever sobre isto? Há muitas mensagens explícitas ou implícitas que diariamente nos recordam que homem é melhor que mulher, que a mulher é de algum modo um ser inferior, menos importante. Este protocolo pouco contestado dos apelidos é só mais uma forma de transmitir essa mensagem. Outros exemplos:
Em várias línguas é comum usar o masculino como género gramatical neutro. Uma das vantagens que vejo no inglês (que não é língua que aprecie demasiado, mas funciona bem como língua franca) é que permite uma linguagem bastante mais neutra que o português
Só três das 44 monarquias que sobram no mundo têm mulheres monarcas. (Países “avançados” como a Suécia, Holanda, Noruega e Bélgica só nos últimos 20 a 30 anos declararam primogenitura igualitária: o descendente mais velho do monarca, homem ou mulher, ascende ao trono.*)
Nas várias religiões do mundo há vários exemplos de funções vedadas ou dificultadas às mulheres (ex., sacerdócio no catolicismo, judaísmo ou islamismo), e deus é frequentemente masculinizado ou comunica privilegiadamente com homens (ex., Cristo, 12 apóstolos; principais deuses hindus – Brahma, Vishnu e Shiva – tipicamente representados como homens; Abraão, Moisés & Cia.**; Maomé; Buda***)
Não advogo a masculinização da mulher – simplesmente que se lhe dê o direito de ser o que quiser ser. Podemos continuar a chamar os nossos filhos o que a tradição sugere, ou, melhor ainda, o que quisermos. Mas vale a pena sermos conscientes das mensagens subtis (e não tão subtis) que muitas vezes abafam os nossos valores e reforçam funcionamentos talvez não ideais da sociedade.
*E nem vou discutir aqui o anacrónico conceito de monarquia, cuja maior "utilidade" talvez seja encher páginas da Hola! **Por outro lado, é verdade que os judeus têm uma tradição de transmissão matrilinear do judaísmo: um filho é judeu, ou uma filha judia, se e só se a mãe for judia, sendo indiferente o que o pai seja (o que na verdade talvez seja novamente um peso exactamente para as mulheres: num casal amigo meu, marido judeu, mulher não-judia, ela está a completar um técnico, moroso e complicado processo de judaização, dissociado de qualquer tipo de conversão religiosa, simplesmente para que mais facilmente os eventuais filhos se possam integrar na sociedade israelita) ***É discutível se Buda era um mensageiro divino, mas o argumento é o mesmo: também o budismo privilegia o macho sobre a fêmea – nunca ouvi falar de uma mulher que atingiu o nirvana (mas é provável que exista)
Na semana passada li o artigo “How Casinos Can Find and Target Their Favorite Customers: The Biggest Losers” (“Como podem os casinos identificar e mirar os seus clientes favoritos: os maiores perdedores”) na Knowledge@Wharton, publicação de Wharton (uma das mais conceituadas escolas de negócios americanas, repetidamente no top dos rankings de MBAs, que conta entre os seus alumni gente tão ilustre como Warren Buffet, Donald Trump ou eu próprio). O artigo descreve um estudo de dois professores de marketing de Wharton e um colega da New York University que criaram um modelo que identifica os frequentadores de casinos que mais dinheiro perdem, permitindo definir estratégias de marketing para aumentar as perdas desses maiores perdedores e maximizar o lucro do casino. Espectacular, não? A conclusão destes senhores professores é que é claramente possível identificar esses (literal e figuradamente) “losers”, e perguntam-se porque é que os casinos não estão já a utilizar essas ferramentas.
Fiquei pasmado ao ler o artigo. Não podia acreditar que fosse mesmo esse o tema do estudo. Tal como a ciência, o capitalismo não é bom nem mau por natureza – é amoral. É simplesmente um sistema económico, um esquema possível para lidar com “riqueza”. A sua aplicação, aquilo que cada um de nós faz com ele, é que pode ser moral ou imoral. A moralidade acontece ao nível do indivíduo, do nosso comportamento, das nossas decisões. E o que estes senhores fizeram parece-me profundamente imoral: como ajudar agentes “do mal” (usando uma expressão bushiana) a aproveitarem-se da desgraça alheia para acumular mais riqueza suja. É discutível se um estudo académico pode de facto ser imoral, já que na verdade não implica necessariamente acção e portanto não tem impacto directo em ninguém. Ok, talvez seja um estudo tão amoral como o desenvolvimento teórico da bomba atómica, ou de armamento em geral. Estudos dos quais nada de bom pode vir e que permitem fazer o mal parecem-me bastante imorais. Se uma das mais prestigiadas escolas de negócios na economia mais “desenvolvida” do mundo publica sem qualquer questionamento um estudo destes, fica fácil perceber onde é que os grandes homens de negócios não aprenderam como se deveriam comportar.
Casino Lisboa, Macau
Capitalismo amoral
André Comte-Sponville, no seu livro “Le capitalisme est-il moral ?” (que eu não li, li esta interessante entrevista e mais algumas coisas que o Google me trouxe) propõe um conjunto de “ordens universais” que parecem fazer algum sentido para analisar o mundo:
A ordem técnico-científica (o que é possível vs. o que não é possível) – onde se inclui o capitalismo
A ordem político-jurídica (o legal vs. o ilegal)
A ordem moral (o bom vs. o mau)
A ordem ética ou do amor
A ordem do divino (o autor é ateu, portanto para ele esta quinta ordem não existe)
Se bem entendo, o autor sugere que cada ordem deve ser controlada pela ordem que se lhe segue: o que é possível tecnicamente (p.ex., escravidão) controlado pelas leis (p.ex., direitos humanos), por sua vez controladas pela moral (o que é legal não é necessariamente bom), por sua vez controlada pelo amor, por sua vez controlado pelo divino (tenho de ler o livro para perceber tudo isto melhor). O capitalismo, estando na primeira ordem, é amoral, só diz respeito ao que é possível ou não fazer, sem preocupações legais, morais, éticas ou espirituais. Daí serem necessárias as outras ordens para lhe colocarem ordem e assegurarem uma boa aplicação do que o capitalismo permite.
O curioso é que, talvez exactamente por o capitalismo ser amoral, para muita gente torna-se quase um sinónimo de legal (no sentido corrente e no sentido brasileiro), bom, sinal de amor, talvez até de vontade divina. Acumular riqueza! Este fim absoluto justifica quaisquer meios. Porque é assim que o mundo funciona, sejamos realistas. Para quê questionar?
Casinos imorais
Tudo a ver com o artigo de Wharton e com enriquecer por quaisquer meios, uma das grandes questões da nação singapurense nos últimos anos tem sido: “Casinos: sim ou não?“ O jogo legal em Singapura estava até há pouco tempo limitado às lotarias e afins geridas pelo Estado. O debate sobre os casinos pesou os benefícios económicos, ao atrair turismo e gerar emprego, diversificando a economia do país (tradicionalmente dependente da exportação de produtos de tecnologia), contra os problemas sociais que poderão crescer (vício do jogo, crime organizado, prostituição, ...). Ao bom estilo autoritário singapurense, o Governo acabou por decidir (“we had no choice”, declarou o primeiro-ministro), não sem polémica, permitir a construção de dois mega-casinos, a estrear este ano. IR (Integrated Resort) é o eufemismo, análogo a IVR (Interrupção Voluntária da Gravidez), pelo que já são conhecidos os dois empreendimentos da perdição.
A decisão do Governo de Singapura revela uma razoável dose de cinismo: fazer crescer a economia nacional à custa da desgraça de quem perde dinheiro no jogo, minimizando os problemas sociais internos através de obstáculos ao vício singapurense: nacionais e residentes pagarão uma taxa de S$100 (50 Euros) para entrar nos casinos, e existe desde 2005 um National Council on Problem Gambling que, entre outros poderes e iniciativas, tem autoridade para impedir o acesso de singapurenses com problemas de jogo aos casinos, a pedido dos familiares. Se forem chineses, malaios, indianos, tailandeses, indonésios ou outros “biggest losers”, não há problema – venham lá essas fichas!
(Recomendo este resumo para quem quiser saber mais sobre esta nova “indústria” singapurense.)
Os casinos parecem-me uma aplicação claramente imoral do capitalismo. Basta entrar num para perceber que não se passa lá nada de bom. Acho que deveriam ser ilegais ou pelo menos muito mais regulamentados. Se há um país em que a regulamentação pode ser bem pensada e bem aplicada é Singapura – estou curioso de ver onde isto vai dar.
Visitei o site de um dos novos casinos, Resorts World at Sentosa, e não pude deixar de me impressionar ainda mais com a hipocrisia desta “indústria”, patente nestas duas declarações na área de “responsabilidade social corporativa” do site:
"Resorts World at Sentosa is in the business of bringing families closer and delighting our customers. We pride ourselves in developing a successful business built on ethical values, integrity and best practices."
"Resorts World at Sentosa is committed towards promoting responsible gaming and will not exploit guests who have a gambling problem."
Perdão??!
Consultoria imoral
Na minha vida de consultor tenho tido a feliz oportunidade de trabalhar com várias empresas com princípios e valores decentes. Também encontro de vez em quando tristes exemplos de óbvia aplicação imoral do capitalismo amoral. Uns colegas meus estavam a trabalhar para um banco, ajudando a rentabilizar a área de crédito ao consumo. Através de uma pesquisa descobriram que os clientes de baixos rendimentos não entendiam o significado dos “juros” – avaliavam o custo do crédito simplesmente pelo valor da mensalidade a pagar. Qual foi a recomendação? “Temos de dar formação financeira aos clientes!” Obviamente que não... Essa seria a recomendação moral. A verdadeira recomendação foi: “Se eles não sabem o que são juros, então vamos aumentar brutalmente os juros, estender os prazos de pagamento, e manter as mensalidades baixas!” E assim se fez, com fantásticos resultados para o banco e efusivas felicitações aos consultores – mais um case study de sucesso! E os pobres (em todos os sentidos) clientes do banco? Provavelmente continuam a pagar a televisão que já lhes custou várias televisões nos últimos anos.
Bancos imorais
Em São Paulo conheci uma vítima da sua própria ingenuidade e de um banco sanguinário, talvez aconselhado por igualmente ou ainda mais sanguinários consultores, o Itaú (que por acaso é onde tenho as minhas poupanças... certamente usadas para práticas louváveis como a que vou descrever... o que me faz pensar sobre o que deveria fazer ao dinheiro... colocá-lo debaixo do colchão? Não é fácil ser responsável...) Ao levantar dinheiro no caixa automático, apareceu a esta rapariga uma mensagem do tipo: “O Itaú oferece-lhe 1000 reais! [uns 380 Euros na altura] Quer aceitar?” (provavelmente a mensagem era mais próxima de “Você tem um crédito pré-aprovado de 1000 reais!”, talvez com alguma menção a juros e prazo de pagamento, mas é fácil ler outras coisas quando a pessoa é muito optimista ou ingénua). Ela, pensando que o Itaú “estava sendo legal” para ela, claro que aceitou! Acontece que ela já tinha créditos acumulados de 2000 reais, portanto passou a dever 3000 reais ao banco, pagando juros de 6%... ao mês (cerca de 100% ao ano!). Se os créditos fossem todos a 36 meses, ela estava a pagar ao banco uns 200 reais por mês. Ao fim de 36 meses teria pago mais de 7000 reais... para usufruir dos seus 3000 reais hoje. Se tivermos em conta que ela ganhava talvez 500 reais por mês... nem dá para imaginar como é que ela conseguiria pagar despesas básicas mais os créditos. Como é possível que o Itaú, onde ela tinha todos os créditos anteriores e onde recebia o salário (portanto não havia possível desculpa de falta de informação), pudesse oferecer mais crédito, quando ela já devia quatro meses completos de salário??! Ainda por cima através de um canal impessoal (o caixa automático), que impossibilitaria qualquer esclarecimento ou verificação de que a cliente sabia em que é que se estava a meter!!
Curiosamente, o Itaú tem agora no seu site uma secção chamada “Uso Consciente do Dinheiro”, com conteúdos de sensibilização para a boa gestão das finanças pessoais: “Mais do que oferecer produtos financeiros, o Itaú orienta você a usar o dinheiro de maneira consciente”. Hipocrisia? Sinceramente e com muita pena, acho que sim. Os conteúdos do site parecem-me muito bons, mas quem tem acesso à Internet? Quem ganha mais e já tem melhor educação financeira, não quem ganha o salário mínimo ou pouco mais e está sujeito a este créditos absurdamente usurários. Além disso, se o Itaú não mudar os incentivos das suas tropas de inpingimento de crédito (o pessoal das agências bancárias e de crédito ao consumo, mas também o pessoal “virtual” dos caixas automáticos e correios promocionais), por muita campanha que faça, vai continuar a fazer mal ao mundo. E eu, se não tirar o dinheiro do banco, vou continuar a contribuir para tudo isto.
Marketing imoral
Este trecho da reportagem canadiana “The Corporation” (disponível integralmente para download, espero que legal, aqui) mostra outro chocante exemplo de amoralidade nauseantemente imoral. Vale a pena ver pelo menos os 20 segundos a partir de 4'55”, em que Lucy Hughes, responsável de um estudo sobre como pôr as crianças a chatear os pais para comprarem coisas, revela os seus sólidos princípios:
"Someone asked me: 'Lucy, is that ethical? You're essentially manipulating these children' Well, yeah, is it ethical? I don't know. But our role at Initiative is to move products. And if we know you move products with a certain creative execution placed in a certain type of media vehicle then we've done our job."
Será que esta senhora não merecia ser... sei lá.. presa? Ou pelo menos forçada a um curso vitalício de ética, de consciência? Ou condenada a passar o resto dos seus dias a assistir aos anúncios televisivos dos seus clientes?
e-business imoral
A internet tem proporcionado inúmeras novas oportunidades de negócio. É cada vez mais fácil e custa cada vez menos criar um negócio online com boa aparência. Infelizmente, é tão fácil e barato criar negócios online bem-intencionados como mal-intencionados. Quando passei por Portugal nos últimos meses chamaram-me a atenção uns anúncios que teimavam em interpelar-me nas minhas deambulações internéticas. Acabei por clicar para ver de que se tratava.
Começavam por uma pergunta parva ou um desafio para chamar a atenção (geralmente associado a gráficos vistosos, de boa estética): “Estás a ser explorado?” “Quanto tempo te resta para viver?” “Será que o teu QI é maior que o da Madonna?“ “Testa os teus conhecimentos sobre o Sporting!” Fui respondendo, para ver onde aquilo ia dar, até que me é pedido o meu número de telemóvel, para me enviarem os resultados do teste. Hmmm... qual será o truque? Só então, e não imediatamente, reparo nas letras miudinhas, no fundo da página, colocadas de forma a exigir um scroll-down para aparecerem:
“Fica a saber quanto devias ganhar e desafia os teus amigos a fazerem o mesmo. Deixa de ser explorado e confronta o teu chefe com o resultado. Subscrição de 4€ semanais, automaticamente renovada a cada semana. Cancelar? Envia um sms com o código sair para o 3456. Alguma dúvida podes sempre ligar para o 707 30 3456 ou enviar um e-mail p/ ptclientes@movilisto.com. Serviço disponível para > 16 anos. iTouch Movilisto Portugal. Rua Vítor Cordón n.º37 6.ºEsq. 1200-482 Lisboa.”
Entretanto visitei de novo os sites e o texto das letras miudinhas aumentou consideravelmente. Provavelmente para melhor “cumprir a lei”. Certamente, além de gestores competentes e designers inspirados, há bons advogados a colaborar neste merditório negócio. Bem alinhado com recentes declarações do Bastonário da Ordem dos Advogados. Estou a ficar muito enjoado...
Que forma asquerosa de fazer dinheiro fácil, explorando a distracção e ingenuidade dos internautas! Imaginem a quantidade de putos que cai na esparrela, para não falar de adultos distraídos! Pior fiquei quando comentei sobre estes anúncios com um amigo e ele me disse que conhecia alguém que dirigia esta empresa (ou uma empresa semelhante) – um tipo assim como nós, com boa formação académica, uma carreira em gestão de empresas... este era só o seu projecto actual, como outro qualquer. Explicou-me que a estratégia deles era “norte-sul”: lançavam o negócio em países do norte, onde rapidamente eram criadas leis que tornavam a prática ilegal e então passavam para países mais a sul, onde as leis estivessem menos avançadas. Estavam agora na fase sul da Europa, onde esperavam que a prática fosse proibida em breve e por isso começavam a avançar mais para sul, para grandes países como China, Índia, Brasil... Bonito, ein? Estes meninos devem estar muito orgulhosos dos seus feitos. Só dá vontade de lhes vomitar em cima (leitores mais susceptíveis, desculpem a imagem eventualmente desagradável).
(Não coloco aqui links para os sites para não contribuir para o negócio. Se alguém tiver especial curiosidade em visitá-los, veja o endereço na imagem ou escreva-me a perguntar. Se alguém se tiver inscrito num destes esquemas e estiver com dificuldades em sair, veja este link que explica como sair de vários destes negócios sujos.)
Esperança
Enfim... Haverá esperança para a humanidade? O modelo proposto pelo André Comte-Sponville dá boas pistas. O capitalismo amoral (assim como a ciência e companhia) precisa de ser regulado pelo Estado (p.ex., proibindo ou regulando “indústrias” destrutivas como as drogas, casinos, etc., proibindo práticas sanguinárias como a oferta de crédito por caixa automático, ou a oferta de crédito ao consumo em geral), que por sua vez precisa de ser regulado pela nossa responsabilidade individual de defender valores íntegros e fazer o bem, distribuindo amor, vivendo em equilíbrio com o mundo, com a natureza, com os outros, com Deus. Se criarmos uma massa crítica de pessoas que querem viver a sério, conscientes e responsáveis, acredito que se gerará um ciclo virtuoso, uma bola de neve que atrai cada vez mais pessoas para construírem um mundo melhor. Há esperança.
E fico a aguardar ansiosamente as próximas edições da Knowledge@Wharton, onde certamente se tratarão outros temas tremendamente críticos para criar um mundo melhor, como por exemplo:
How Drug Dealers Can Best Recruit High School Customers: Location, Location, Location
Double Hours, Halve Salaries: Solution for the Crisis without Job Cuts
Key Success Factors for Pimps in Latin America: Power, Network and Location
Save The Arms Industry: Boosting Demand by Catalyzing Conflict in Sub-Saharan Africa
The 10 Best Barely Legal Tricks to Avoid Taxes: Advice from S&P 500 CFOs
Concordas? Discordas? Nem por isso? Infelizmente, há tantos outros exemplos de aplicações imorais do capitalismo amoral... Convido-te a partilhar os teus nos comentários. E também ideias para moralizar as práticas capitalistas!
Interessante caso de dupla personalidade. De que lado estás tu? Eu simpatizo com alguns argumentos dos dois lados, outros parecem-me bastante falaciosos. De qualquer modo, bem feito e divertido. Leve, mas a fazer pensar em algumas grandes questões.
Há dias li em algum lugar (que não recordo mesmo, e só por isso não lhe dou aqui o devido crédito) um conselho de auto-ajuda tão simples e tão básico que quase não reparei nele: “Sorri”! Junto ao conselho era sugerido um teste: “Repara como é impossível ter qualquer pensamento negativo enquanto sorris.” Pareceu-me evidente que fosse assim, que um sorriso (verdadeiro e aberto; sorrisos amarelos não são sorrisos) neutralizasse quaisquer energias negativas, e por pouco não reparava que nunca antes tinha reparado nessa evidência e no poder de tal constatação! Quer dizer que sempre que estiver chateado, mal disposto, zangado, frustrado, desanimado, triste... basta sorrir e fica tudo resolvido??! Talvez não fique tudo resolvido como por magia, mas provavelmente as coisas sem importância deixam de parecer importantes e fico em melhor estado para lidar com as realmente importantes: atitude positiva, de resolver o que há a resolver, de andar para a frente, em vez de me lamuriar, de me sentir incapaz, impotente. Tenho experimentado seguir o conselho de vez em quando e o efeito é brutal: só me vêm à cabeça ideias e momentos agradáveis, divertidos, bons. Carrego-me de energias positivas e começo imediatamente a radiar algumas em minha volta. (Tenho que experimentar isto na próxima vez que estiver a acabar uma maratona ou um triatlo longo!)
Então aqui fica o meu sorriso e este conselho tão simples e tão poderoso: Sorri!!!
Quando vim para Singapura há um ano, a cara deste senhor era ubíqua: aeroporto, metro, autocarro, foodcourts, jornais... Disseram-me que era um pretenso terrorista islâmico, fugido de uma prisão de alta segurança singapurense. O seu caso distraiu os singapurenses por bastante tempo, com extensa cobertura nos media, produção de t-shirts alusivas, grupos nas redes sociais, jogos online, vídeos de humor discutível, etc.
Até me ir embora, em Setembro, os anúncios não tinham desaparecido, e a travessia terrestre da fronteira para a Malásia continuava demorada, para as forças de segurança passarem a pente-fino todos os veículos.
Quando regressei a Singapura há cerca de um mês voltei a ver os anúncios. "Como é possível que o tipo continue em fuga?", pensei. "A esta altura já pode estar em qualquer lugar."
Para minha surpresa, esta semana soube-se que, finalmente, Mas Selamat bin Katari foi apanhado no início de Abril, mais de um ano depois de ter escapado. Estava em JB (Johor Bahru), a cidade malaia logo ali do outro lado da fronteira (tão perto que há dias fui lá de bicicleta).
A notícia levou-me a ler um pouco mais sobre o assunto. Para quem estiver interessado, o artigo da wikipedia parece resumir bastante bem, e com boas fontes, o que se sabe sobre este senhor. É divertido ler as notícias sobre a caricata fuga, pela janela da casa-de-banho de uma prisão de alta segurança, e sobre a travessia do estreito para a Malásia, com a ajuda de um "objecto flutuador improvisado" (não é uma grande distância, faz-se bem a nado). Mas realmente interessante é o facto de ele ter estado preso sem julgamento, ao abrigo de um tal "Internal Security Act", que dá ao governo singapurense o direito a manter pessoas presas sem julgamento, aparentemente por tempo indefinido (a wikipedia descreve alguns casos em que este Act foi aplicado). E mais interessante ainda é como essa situação não parece ser alvo de qualquer polémica.
Se eu fosse singapurense (como ele), ou de um país que não dê muita atenção aos seus cidadãos, e inocente (que não sabemos se não é, consta que não, mas então não deveria ser difícil provar de que é culpado!), teria tentado escapar também: entre ficar indefinidamente preso e a baixa probabilidade de conseguir escapar... há que dar chances à sorte.
Como é possível que se aceite tão facilmente a prisão de um cidadão? Singapura tem muita coisa boa (eu sou um fã!), mas não é famosa pela liberdade de expressão ou democracia. Nem pelo activismo dos seus cidadãos. Provavelmente uma situação de "ovo ou galinha?"
Acredito que a propaganda oficial sobre a ameaça do terrorismo ajude a aceitar muita coisa. No ano passado também reparei nos filmes que passavam continuamente no metro, sensibilizando os cidadãos para se manterem alerta e avisarem as autoridades sobre quaisquer pessoas ou comportamentos suspeitos.
Os filmes continuam, mas nota-se uma subtil (ou não tão subtil) escalada na mensagem: além dos filmes que existiam no ano passado, que tinham um final razoavelmente "feliz", agora existe uma versão que termina com a explosão do metro, complementada com imagens reais de atentados aí pelo mundo nos últimos anos.
"The threat is real"... Fundamentado? Talvez, não trabalho para nenhuma agência de "inteligência" e tenho tendência a ser algo ingénuo. Mas não posso deixar de me lembrar do 1984 (se não leste estás à espera de quê?? aqui em filme) e outros cenários de regimes totalitários lavadores de cérebros. E é melhor ficar por aqui, antes que me recusem o visto que ainda nem solicitei. :)
Tenho utilizado a bicicleta como meio de transporte em Portugal e em Singapura. Até agora pensava que existiam duas "personalidades" possíveis para uma bicicleta em ambiente urbano: peão ou parte do trânsito, muitas vezes em conflito. Este vídeo abriu-me os olhos para uma emocionante alternativa... a não experimentar em casa!
Buli twits As bulicenas usam língua e ortografia ao gosto do autor Aqui podes escrever para as bulicenas. Click here for an automatic translation to English.