domingo, 19 de julho de 2009

De GADES a GADEH!

[Não, não andei a passear em algum lugar estranho das Arábias, foi mesmo "só" mais uma viagem interior... ou, como brasileiros tiradores de sarro poderão sugerir, mais uma viagem na maionese :) ]

Não é raro suspirarmos ou ouvirmos suspirar “Ah... finalmente sexta-feira!” ou, mais penosamente, “Já só vivo para o fim-de-semana...”, ou, numa perspectiva de médio prazo, “Estou desejoso de que venham as férias!”, ou ainda, para quem tende a olhar para o longo prazo, “Como será bom chegar à reforma e finalmente poder gozar a vida!”

Em inglês, este sentimento é muitas vezes partilhado através da expressão “Thanks God It's Friday!” (que até deu nome a um franchising internacional de comida calórica de salubridade duvidosa), ou do respectivo acrónimo TGIF, que podemos traduzir por “Graças A Deus É Sexta-feira!” ou GADES.



Por vezes, estas expressões reflectem apenas um cansaço saudável, de quem trabalhou de forma dura mas motivada durante a semana laboral e está a precisar de um descanso para recarregar baterias e voltar ao ataque na segunda-feira, ao trabalho realizador, cheio de sentido. Outras vezes, é mesmo uma reclamação de alguém que não gosta do que faz mas não se sente mal o suficiente para decidir deixar de o fazer (pode ser que se trate do pior emprego do mundo). Em casos extremos, a pessoa está no limite das suas energias, motivação, capacidade de encaixe, o quer que seja que a mantém naquele trabalho, e está prestes a desistir.

Em alguns momentos da minha vida (felizmente poucos) ficou muito claro que estava a viver para o fim do dia, para o fim da semana, para o fim do projecto... Não era cansaço saudável: doía a cabeça, o coração, até a barriga. Possivelmente um pior emprego do mundo a manifestar-se finalmente, para minha salvação, como mau. Na última vez que me senti assim, reparei que ninguém me estava a apontar uma pistola à cabeça. Eu estava ali porque queria. Então por que é que eu queria? Por que é que estava ali? Esclareci as razões das minhas opções, denunciei as falsas e destaquei as válidas. Recusei a visão negra que me tinha encandeado ultimamente e sintonizei um novo canal, com uma nítida visão positiva (mas consciente dos pontos fracos e dificuldades, impossíveis de resolver imediatamente, ou de ignorar). Escondi a imagem do copo meio vazio colando por cima a do copo meio cheio (bem mais cheio do que eu pensava!). Parei de reclamar e de me desculpar com factores externos e responsabilizei-me pela minha própria situação. Tomei as rédeas e tomei decisões. Parei de viver para o futuro, que nunca mais chegava, para me concentrar no presente (que estava sempre ali, como o próprio nome indica: presente). Efeito milagroso: na prática a minha situação não tinha mudado nada (e só mudaria meses depois), mas as dores físicas desapareceram. E as do coração, mente e espírito também. De um dia para o outro. Sem drogas.

Tinha acabado de fazer a viagem de GADES a GADEH: Graças A Deus É Hoje! Um passo importante para tentar deixar de separar a vida entre trabalho e fora do trabalho e aprender a viver a 100% aquilo em que escolho investir o meu tempo e energias. É uma aprendizagem sem fim (como já comentado na aula de felicidade) e tive algumas recaídas de volta a GADES. Mas naquele dia descobri a auto-estrada para regressar rapidamente a GADEH!

Vida é vida, em cada momento. A dormir ou acordado, no trabalho ou fora dele, sozinho, com a família, amigos, colegas ou desconhecidos, aqui ou ali, em casa ou em viagem, enérgico ou cansado, saudável ou doente, faça chuva ou faça sol. E para procurar viver cada momento a sério, a estação seguinte a GADEH é GADEA: Graças A Deus É Agora!!

Vivamos o presente, e é provável que sejamos mais felizes!

2 comentários:

  1. Muito boa esta reflexão!
    Tb muitas vezes me arrepio com os desabafos que se faz e com a promoção do espírito "GADES".

    Por exemplo: acho que é na RFM (ou na Comercial?) que até têm um single qualquer que põem à 6ªfeira a celebrar o facto de ser 6ªfeira:
    apesar da brincadeira parece-me que é claramente sintomático da cultura "GADES". E, como tal, é um humor perigoso porque nos forma nesse sentido.

    ABRAÇO e obrigado!
    João.

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  2. é verdade!!! que maravilha seria ninguem sofrer disto (desejar ansiosamente o fim de semana) infelizmente, tem pessoas que fazem dos locais de trabalho, espaços tão "conspurcados" de maus sentimentos que aos "subditos" só dá vontade de, desesperadamente desejar o fim de semana, esta reflexão leva-me a dar Graças pelo que tenho e elevar meu pensamento por aqueles que sofrem deste GADES

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