domingo, 11 de outubro de 2009

5 C's

Os 5 C's são uma forma popular de medir o sucesso de um homem (não só o potencial de atrair mulheres) em Singapura: cash (dinheiro, ou carteira), carro, condomínio, cartão de crédito e country club. Às vezes ouço mencionar um sexto C também relevante: carreira.

A Orchard Road ao domingo é uma excelente amostra deste modelo de sociedade materialista em funcionamento. À semelhança da zona de Belém em Lisboa (pelo menos na minha infância - hoje talvez o Colombo tenha tomado esse lugar?) ou do parque Ibirapuera em São Paulo (mais para o popular), a Orchard Road é destino dominical para massas de gente de todos os estratos socioeconómicos. Com raras excepções, cada prédio desta rua é um centro comercial (incluindo os primeiros andares de vários hotéis). Outdoors, montras, ecrãs de vídeo gigantes, luzes, amostras, folhetos, promoções... Tudo chama a atenção para marcas de roupa e acessórios, perfumes, e outras inutilidades. Das acessíveis às "estpssoaltássapassar!". Comprar é um dos dois desportos nacionais de Singapura (logo a seguir a comer). Devem acontecer milhões de transacções em cash e cartão de crédito num domingo na Orchard Road. Quem não está a comprar está a pensar no que acabou de comprar, no que vai comprar, ou no que gostaria de comprar. Quem tem carro (não são muitos em Singapura) aproveita para desfilar o seu símbolo de status e capacidade financeira. Há quem chegue ao ridículo de possuir um Ferrari ou um Lamborghini neste país com menos de 50 km de uma ponta à outra e um total de 160 km de auto-estradas (com limite de velocidade de 90 km/h). O hotel Hilton na Orchard Road parece ponto de encontro habitual para estes estranhos seres.



Quem quererá ser um sucesso numa sociedade assim?

Orgulhosamente, sou um completo falhado:
  • Até tenho umas poupanças, mas a maior parte está em depósitos não tão líquidos numa conta no Brasil à qual não tenho tão fácil acesso, portanto não se pode dizer que eu tenha muito cash

  • Nunca tive carro na vida, e tenciono nunca vir a ter (especialmente em Singapura - ilha de 700 km2 bem servida por excelentes transportes públicos, à qual consigo dar a volta em bicicleta em perto de 4 horas)

  • Vivo num HDB - prédio de "habitação social" singapurense - e não num condomínio (construção privada com mais luxos, tipicamente incluindo piscina, courts de ténis, ginásio, garagem...)

  • Devido à falta de rendimentos estáveis, não sou elegível para obter um cartão de crédito em Singapura (a não ser fazendo um depósito de segurança de 10.000 Euros)

  • Continuo a correr e pedalar pelas ruas e estradas de Singapura, e a utilizar as excelentes piscinas públicas - não sou sócio de nenhum ginásio e muito menos de um country club

  • Reformado aos 32... é difícil argumentar que tenho algo que se possa chamar uma carreira... e sinceramente nunca me ocorreu querer ter uma

4 comentários:

  1. E' giro que e' sempre mais facil vermos as maradices das sociedades alheias 'a nossa propria, nao e'?

    Que gente marada!!

    Beijinhos,
    Teresa

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  2. Olá

    acho que é um excelente conceito a forma como vives, todavia, alguem tem de tocar a sociedade para a frente e acredito que o facas a tua maneira, provavelmente em projectos pro-bono.

    eu planeio bastante a minha vida e sempre planeei bastante os meus gastos, talvez porque nunca fui rica e so neste ano tive um ordenado um pouquinho acima da média do qual poupei bastante

    talvez por isso o facto de me terem tornado redundante ja para o final de Outubro, nao me assuste ainda... todavia, está nos meus planos um dia ter um filho e aí o teu plano de vida ja se torna um pouco mais utopico

    beijinhos

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  3. Como sou mulher, acrescento-lhe um sexto "C", de Cara. Ou deves achar que um rico, de Ferrari, mas com uma ganda pança, um bigode à taxista e verrugas no nariz tem muita saída....
    (a menos que tenha um Coração de ouro, claro, e é aqui que entra o sétimo C)

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  4. Pois eu até não me importava de ter o dito Lamborghini, em Singapura.

    Claro que seria um Lamborghini Miura, para o asfalto... E um Lamborghini LM002, para fora dele...! E um Riva Aquarama, para a água... Obviamente que não me sentiria sequer digno de existência sem um discreto Westland Augusta, para o ar...
    :-)

    Como sou um ser poupado e gosto de partilhar com o povo a minha humilde existência, utilizaria a comum aviação comercial para chegar e sair da ilha... muito discretamente, em 1ª superior...
    :-)


    Just kiding!

    Um grande abraço

    Luís de Matos

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