sábado, 18 de abril de 2009

Folha Forreta

No seguimento da bulicena sobre cobertura financeira, gostaria de partilhar uma ferramenta muito simples mas tremendamente útil:

Folha Forreta®

A Folha Forreta é um ficheiro de Excel que serve para registar todas as despesas e receitas de uma pessoa (ou de um agregado familiar).

Registar todas as despesas?? Para quê??! Obviamente, para optimizar a gestão das nossas finanças. Se achas que podes melhorar a forma como geres as tuas, e tens interesse e motivação para investir no assunto (é perfeitamente legítimo decidir que não vale a pena), recomendo:

1. Durante um mês (no mínimo), regista exaustivamente toda e qualquer despesa e toda e qualquer receita, classificando-as em categorias e sub-categorias. Só este exercício já terá o efeito provavelmente benéfico de te tornar consciente de todas as tuas transacções (e talvez te fartes tanto do exercício que por vezes desistas de uma compra só para não a teres de registar!) – primeiro passo para as poderes analisar e questionar. A ideia não é fazer-te sofrer, mas sim positivamente tomares as rédeas das tuas finanças pessoais. Algumas dicas:

  • Para os mais distraídos, apaga os dados que incluí na Folha (são só para exemplificar como poderia ser o preenchimento e que tipo de relatórios são gerados)

  • Não registes receitas se não vires benefício nisso (eu não costumo registar... mas também não tenho tido nada para registar)

  • Obviamente, adapta ao teu gosto as minhas sugestões de categorias e sub-categorias, pré-incluídas na Folha Forreta (folha 'DADOS', colunas L e M)

  • Evita “esconder” despesas agrupando-as em coisas como “factura do cartão de crédito”. Pode ser mais rápido registar de forma consolidada, mas não obterás muita informação que te permita actuar. Até a “conta do supermercado” pode valer a pena esmiuçar, por exemplo separando alimentos de não alimentos, ou detalhando ainda mais. Se optares por agrupar despesas, fá-lo consciente de que ou a informação não é de facto relevante para este exercício ou te estás a tentar enganar

  • Na mesma filosofia, sugiro que coloques numa sub-categoria separada despesas que suspeitas que poderias reduzir ou eliminar, para melhor as vigiares. Por exemplo, no início eu agrupava supermercado e restaurantes em “Alimentação” e não sabia quanto vinha de cada fonte de despesa. Por isso decidi começar a separá-las e rapidamente concluí que andava a gastar demasiado em restaurantes

  • Uma categoria bastante interessante é a categoria “Trabalho”, onde podes incluir coisas como a roupa comprada exclusivamente para trabalhar, os custos de transportes associados ao trabalho, as refeições fora de casa que não farias se não fosses trabalhar, custos de saúde devido aos efeitos do trabalho, custos de férias mais elevados por teres de marcar com pouca antecedência e em época alta... Pode ser interessante calcular o verdadeiro salário líquido, depois de descontar tudo isto, e reavaliar a relação custo-benefício da tua actual opção.

2. Ao fim de um mês (ou ao fim de cada mês, por exemplo, se decidires manter o registo por bastante tempo) analisa as tuas despesas, aproveitando os relatórios na folha 'RELATORIOS'. Procura padrões que mereçam análise e talvez uma alteração no teu comportamento (recorda as dicas na Cobertura Financeira). Observa:

  • Quais são as categorias com mais despesas?

  • Quais as sub-categorias mais relevantes, dentro das categorias mais dispendiosas?

  • Que despesas contribuem para essas sub-categorias? Quão necessárias são? Quanto contribuem realmente para o teu bem-estar? Será que as podes reduzir, ou até eliminar? Haverá alternativas mais baratas para obter o mesmo benefício?

  • Na tabela detalhada ('DADOS'), que despesas, mesmo pequenas, são totalmente dispensáveis? Que tal, então, dispensá-las? Mesmo que seja, por exemplo, apenas um Euro por semana, imagina a poupança acumulada ao fim do ano! E da vida?

Desde que me reformei em Abril de 2008 registei quase todas as minhas despesas (talvez 99%), o que me permitiu identificar claras oportunidades de poupança. Tenho a certeza de que tu também descobrirás boas oportunidades, algumas até surpreendentes. As que representarem simplesmente "fugas" de dinheiro (dinheiro que sai do bolso sem que haja um benefício muito óbvio) serão, talvez, facilmente eliminadas. Outras saltarão à vista como boas candidatas, mas hesitarás em abdicar do benefício correspondente ou em disciplinar-te seriamente para as eliminar... as compras impulsivas... os jantares menos baratos com os amigos... os fins-de-semana fora... as provas desportivas... os DVDs... aquele vício que nunca mais largas e na verdade nem decidiste ainda se queres largar... A decisão é tua. O importante é que seja consciente e pondere bem os prós e os contras.

Espero que a Folha Forreta possa ser útil. Se decidires utilizá-la, fica à vontade para me solicitares consultoria financeira personalizada. Teria todo o gosto em bisbilhotar o teu registo (ou apenas os relatórios, de forma menos invasiva) e fazer sugestões de estratégia forreta.

Boas decisões! Viva o forretismo!


[Nota 1: Para os mais técnicos, “despesa” e “receita” aqui são sinónimos de “saída” (incluindo investimentos) e “entrada” de dinheiro. Por exemplo, se eu comprasse um carro a pronto, colocaria apenas uma despesa na data da aquisição. Contabilisticamente seria mais correcto colocar a depreciação mensal em cada mês de vida do carro (e em geral associar a cada mês as despesas que correspondem a um benefício nesse mês), mas provavelmente será complicação a mais.
Nota 2: Na verdade, a Folha foi feita em Calc, do OpenOffice.org – um "excel" grátis que recomendo vivamente. Espero que a compatibilidade seja total – por favor avisa-me se encontrares algum problema.
Nota 3: “Folha Forreta” é, está claro, uma hipálage – quem é Forreta não é a Folha, mas quem a utiliza.]

Nenhum comentário:

Postar um comentário