domingo, 12 de abril de 2009

Pai Nosso 2.0

Suspeito que o "Pai Nosso" não é rigorosamente a oração que Jesus nos ensinou:

  • Segundo a oração, Deus é “Pai”. Entendo o significado positivo, próximo, criador, que nos ama... mas não deixa de ser uma perspectiva humanizadora e masculinizadora do transcendente (como habitual, o homem – macho mesmo, não humanidade – cria deus à sua imagem e semelhança)

  • Deus é “nosso”. Não posso deixar de me perguntar quem somos “nós”: não estaremos a excluir algo ou alguém da divina paternidade?

  • Deus está “no Céu”. Não sei bem onde isso fica, mas parece longe. Porque não aqui, em todo o lado?

  • A oração é vergonhosamente passiva, tudo na segunda ou terceira pessoa, um descarado peditório: "venha...", “seja feita...”, “dai-nos...”, “perdoai...”, “não nos deixeis...”, “livrai-nos...”. Humildade é uma qualidade importante, mas não nos faria mal um pouco de iniciativa e responsabilidade!

  • A única parte na primeira pessoa é no plural (óptimo para rezar em comunidade mas também para diluir a responsabilidade – o que é de todos não é de ninguém) e representa uma troca comercial: “perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Que lata pretender exigir reciprocidade a Deus, não?!

  • Em português, na versão comum da oração, Deus é tratado por "Vós", a pessoa mais distante e anacrónica da língua portuguesa. Com o devido respeito, que tal um pouco de intimidade? (há alguns anos adoptei o “tu” usado em espanhol e no evangelho de São Mateus)

Proponho renovar esta oração que já tem uns aninhos (quase 2.000) e:

  • Reconhecer Deus de forma mais católica, ou seja, universal

  • Aproximar Deus, tanto astrográfica como linguisticamente

  • Tornar a oração activa, responsabilizadora, um momento de conversão através de positivas profecias auto-realizadoras, através da decisão incondicional de nos reformarmos, de nos fazermos sempre melhores

Que tal algo como:

Deus de tudo, que estás em tudo,
eu te respeito, santifico e agradeço;
procuro a tua vontade e faço-a minha;
trabalho, incansável, para alimentar
corpo, mente, coração e espírito;
amo e respeito todos e tudo:
humanidade e natureza, amigos e inimigos;
vivo cada vez mais consciente e com mais atenção,
para não gerar infelicidade, minha ou alheia;
reparo prontamente as minhas faltas
e espalho amor e boas energias à minha volta;
Amen!

(GLP! Será que tenho coragem para rezar isto mesmo?!)


Se acreditarmos que pelo menos 20% dos cerca de 2 mil milhões de cristãos rezam o “Pai Nosso” semanalmente, são no mínimo 60 milhões de “Pai Nossos” rezados todos os dias – que potencial de transformação! Melhor do que propor uma nova fórmula, porque não renovar continuamente a oração? Para que, mais do que um mantra de meditação, cada “Pai Nosso” represente um exercício consciente para uma nova Páscoa: uma passagem sempre para uma vida melhor. E melhor e melhor. Caminhada infinita (com altos e baixo mas tendência positiva) para a inalcançável perfeição!


[Aí pela net, gostei bastante de como este “Pai Nosso” desenvolve a fórmula tradicional. Noutra onda, há mais de 20 anos que os Xutos poderosamente apresentam uma forma alternativa de oração, como mostra o vídeo abaixo. Imaginem uma actuação destas quando Bento XVI visitar Portugal! Algo a propor ao Departamento de Marketing da Igreja Católica.]



5 comentários:

  1. Ola',

    Olha, no's ca' em casa nao rezamos o Pai nosso todas as noites, rezamos o seguinte e cada pessoa diz uma frase:

    God, my father,
    We come to say:

    Thank you for your Love today,
    Thank you for my family
    and all the friends you give to me.
    Guide me in the darkest night
    and in the morning send your light.
    Amen.
    In the name of the Father,
    the Son
    and the Holy Spirit
    Amen.

    E depois cada pessoa agradece alguma coisa boa que aconteceu nesse dia, ou pede bencaos para alguem que precise de alguma coisa, nos dias que nao temos agradecimentos nem pedidos especiais, pedimos paz no Mundo, e a Violeta pede gosta imenso de fazer pedidos especiais pelas criancas do mundo (para terem comida suficiente, para poderem brincar, e das coisas que ela se vai lembrando).

    Mas gostei muito da tua oracao, acho que vou ver se da' para fazer um link para meu blog.

    Beijinhos

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  2. Olá, Nuno.

    Não alteraria nem uma letra do Pai-Nosso tradicional, com a excepção do "Vós", dado que "Tu" se enquadra bem mais na imagem que Cristo nos dá do Abbá-Paizinho. Não Paizinho como nome meloso que damos a um pai que minimizamos. Paizinho como o Pai-Autoridade que também é Pai-que-admiramos e Pai-que-amamos e Pai-em-quem-confiamos.

    O teu Pai Nosso, perdoa a sinceridade, mas sabe-me demasiado a panteísmo e pelagianismo. E como convertida adulta que no passado subscreveu, entre outras coisas, o panteísmo e o pelagianismo, hoje fujo deles a sete pés...

    Novamente perdoa a sinceridade, que não pretende ser ofensiva. Tu conheces-me, penso que compreenderás, mas se quiseres que falemos mais sobre isso, envia-me um email.

    Beijinhos,

    Tânia Rocha (a da LEFT99)

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  3. Bem, por outro lado a oração da Margarida e família fica guardada no caderno de oração (long story: muitas vezes só por escrito consigo concentrar-me para orar). É uma bela oração de acção de graças, simples que chegue para crianças e profunda que chegue para adultos. E ortodoxa que chegue para as minhas fraquezas de convertida. ;-)

    Para a Margarida: dei um pulo ao teu blogue e gostei, acho que vou começar a segui-lo também!

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  4. Obrigado pelos comentários, Tânia! Compreendo que não tenhas gostado. Claro que não é ofensivo dares a tua opinião!

    Também gostei muito da oração da Margarida!

    E obrigado pelos "ismos"! Há dias tive uma discussão com um neozelandês cristão (aparentemente bastante radical) que me queria classificar em alguma teoria filosófico-religiosa e estava complicado. Eu não consegui ajudar a encontrar os "ismos" certos (dá sempre jeito ter um à mão para nos classificarmos ou classificarmos os outros... nem sempre correctamente porque afinal cada indivíduo tem a sua identidade) mas talvez panteísmo e pelagianismo (este tive de perguntar ao google o que era, portanto tenho só um conhecimento básico wikipedesco) se apliquem bastante bem ao que sinto cada vez mais. Não consigo acreditar que a humanidade seja uma parte especial do universo (para Deus; claro que somos especiais para nós próprios) e não consigo acreditar que estejamos condenados à nascença (pecado original??! não há ser mais puro que um recém-nascido...) e que precisemos de baptismo ou intervenção activa divina para nos salvarmos. Acredito que somos tão importantes como uma lagartixa, uma vaca, uma barata, um pinheiro, uma mosca... (ainda tenho de ver o que penso sobre as partes sem vida do universo, talvez o mesmo) e que é nossa responsabilidade vivermos em paz, em equilíbrio, em harmonia com tudo e com Deus e "salvarmo-nos".

    Espero que não fiques horrorizada com as heresias!

    O meu irmão jesuíta é que pode comentar a seguir e "dar-me porrada" :) Ou então pode esperar pelos estudos em teologia para participar com credenciais ainda mais elevadas (e eventualmente de forma mais esotérica :) ).

    Beijinhos!

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  5. Fico à espera da "porrada! do teu irmão :P

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