domingo, 21 de março de 2010

Simply the best!

Não podendo participar, fomos assitir e apoiar os aventureiros que decidiram enfrentar o desafio de nadar 1,9 km, pedalar 90 km e correr 21 km (distância que percorri, pela primeira e única vez até agora, há mais ou menos um ano no Porto Santo), no Meio Ironman de Singapura.

Como o leitor mais atento pode ter notado, ando a aprender a ser público. É fascinante e altamente enriquecedor!

Um par de conhecidos iam fazer a prova. O plano era dar-lhes apoio mas também incentivar as outras centenas de "loucos" anónimos. Os atletas de elite não importavam demasiado. Interessante vê-los fazer a prova a alta velocidade (menos de 4 horas), mas nem sequer os vimos cruzar a meta, de tão ocupados a ver e apoiar os atletas amadores.

Muitíssimo mais interessante é ver pessoas normais alcançando feitos excepcionais:
- Vários senhores e senhoras acima dos 60 (i.e., com idade para ter juízo, diria o meu pai) sem parar até ao fim
- Um par que parecia pai (de 50+ anos) e filha, pedalando um atrás da outra (na verdade, contra os regulamentos que não permitem pedalar "na roda", i.e., no túnel de vento do atleta da frente - mas quem os iria desclassificar?)
- O senhor Endicott, de 65 anos, com boa pedalada e impressionante passada, que completou a prova em 7h09min - um minuto menos que um amigo meu 30 anos mais novo...
- O senhor Peñaloza, 51 anos, de Hong Kong, que caminhava determinado depois de 7 horas de prova (faltavam-lhe ainda 2 horas para chegar à meta!)
- O meu amigo Nick, que, seguindo a filosofia da Sílvia, decidiu fazer a prova praticamente sem ter treinado (e terminou 1 minuto depois do senhor Endicott)
- Um rapaz derretido em suor, a passo, provavelmente no 7º de 21 km de corrida, que olhou para mim e partilhou, meio incrédulo, meio jocoso, "E paguei eu para fazer isto!!"
- Um par de quarentões que caminhavam e conversavam com ar relativamente descansado e perguntaram "Tens cerveja?"
- E outras centenas de pessoas normais que decidiram acreditar que conseguiam fazer um meio Ironman



Cinco horas em pé a aplaudir e gritar palavras de apoio: "Boa!", "Força!", "Até ao fim!", "Vamos lá!", "Muito bem!", "Bom ritmo!", "Não pares!", "Tu consegues!" (algumas em português mesmo - naquele contexto qualquer grito serve para animar).

A certa altura, pernas cansadas, sentei-me ao lado do percurso e continuei a aplaudir e a gritar. Mas dois minutos depois senti que aquilo poderia ser ofensivo: passavam por mim atletas que já tinham feito 1,9 km de natação, 90 km de ciclismo e metade da meia-maratona final... e eu é que estava cansado?? Levantei-me e rapidamente deixei de me sentir cansado.

Interessante exercício de, nos poucos segundos em que cada atleta passava ali à frente, tentar injectar-lhes um shot de energia instantânea. Passavam muitos hipnotizados pela missão de chegar ao fim, possivelmente com princípios de hipoglicemia, aparentando não perceber que existia mundo à sua volta para além de alguns metros de percurso. Passavam outros mais lúcidos e/ou menos focados que agradeciam o apoio e batiam palmas de volta. Vários reagiam claramente aos aplausos e gritos, enchiam-se de determinação e recomeçavam a correr mesmo ali à frente. Um, provavelmente depois de nos ter visto três ou quatro vezes, gritou sorridente "Vocês estão em todo o lado!", outro "Óptimo apoio!", e ainda outro deu-nos o prémio de melhor público: "You're the best!"

Mas, sem lugar para dúvidas, os atletas é que eram simply the best!



Acabámos o dia com um escaldão, pernas cansadas, braços doridos de tanto bater palmas, mas com excelentes energias, apesar de termos passado horas a tentar transmiti-las aos atletas! A energia humana será talvez a única que não segue as leis da física e pode ser gerada do nada? E que sendo transmitida é ao mesmo tempo recebida? Cada vez mais acredito que sim!

Tenho de passar a ser público de outro tipo de iniciativas, não só desportivas, e apoiar mais pessoas normais a realizarem feitos excepcionais no seu dia-a-dia: Força aí! É isso mesmo! Tu consegues! Vamos lá! Sem parar! Até ao fim!! Tu és simplesmente o melhor!!!!

Um comentário:

  1. É isso mesmo!
    As pessoas normais a fazer coisas excepcionais.

    Aliás: é uma das qualidades que melhor distingue um bom líder: saber potenciar o potencial que há no outro. Deveríamos praticar mais este tipo de liderança (que está à mão de todos).

    ABRAÇO!
    João.

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