quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Homem-pássaro

Em dia típico de balanços do ano e da vida, e de resoluções para o próximo ano e resto da vida, nada como deparar com novas realidades para desafiar os nossos paradigmas.



Obrigado The Science of Sport


Será que é a este tipo de actividades que o meu pai se refere quando diz "Tu vê lá, não te estiques!"? Pode ficar descansado que não estou a pensar meter-me em cenas destas! Desportivamente, em 2010 tenciono ficar-me pelos habituais pentatlos, triatlos e maratonas.

Interessante como este tipo de vídeos ou reportagens nunca referem taxas de mortalidade, ou pelo menos horas de treino e energia gasta para chegar ao nível de terminar ileso um salto destes. De qualquer forma, estas "maluquices" podem sempre despoletar pensamentos úteis e aplicáveis a todos:

  • Será que sofro de excessiva sanidade mental, auto-limitando-me ao acreditar que determinadas actividades ou objectivos na vida são demasiado difíceis ou mesmo impossíveis e assim criando profecias auto-realizadoras negativas?

  • Estarei a investir o meu ser, a minha existência (o tempo, energias, disponibilidade mental, etc.) de forma adequada para atingir os meus objectivos na vida?

  • Sou capaz de discernir quais são os saltos que devo dar e aqueles que devo evitar?

  • Tenho tido a coragem e a confiança para avançar quando estou à beira do abismo e o caminho certo é em frente?

  • Quando voo a 200 à hora na vida, sei quando tenho de virar à esquerda ou à direita para continuar no bom caminho, ou quando tenho de abrir o pára-quedas e fazer uma pausa?


O que é que me impede de voar, de ser homem-pássaro na minha vocação?

Feliz 2010, com muitos voos de sucesso! Ou pelo menos muitos "treinos" em direcção a grandes voos!



Quem quiser saber mais sobre estes homens-pássaro e/ou começar a voar:



foto: Raise the Sky (recorde dos EUA de formação de homens-pássaro: 68)

domingo, 20 de dezembro de 2009

Buli vice-campeão de pentatlo!

Fiquei em segundo lugar no campeonato nacional de pentatlo moderno! (resultados completos aqui)



Foi o meu melhor resultado no campeonato desde 1998, quando fui campeão nacional. Devo muito deste segundo lugar ao desempenho no hipismo e na esgrima: fiquei em primeiro lugar nos dois eventos, em ambos ex aequo com o campeão nacional.

A excelente prova de hipismo, sem penalizações, aconteceu graças à espectacular colaboração da minha equina companheira de equipa, Panema. Tivemos alguns desentendimentos iniciais nos 20 minutos de aquecimento, com ela a expressar com algumas cangochas que não estava a gostar de me levar em cima. Mas lá nos conseguimos entender melhor e encontrar sintonia para uma prova razoável, em que ela se portou melhor que eu, safando-nos de um par de situações em que eu não preparei a abordagem aos obstáculos da melhor forma. Felizmente, quando teve opção de escolher saltar ou não saltar, a Panema escolheu o salto. Obrigado, Panema!

Campeonato Nacional Absoluto 2008



O resultado na esgrima foi muito bom, mas não livre de deslizes. Fiquei muito satisfeito por conseguir colocar-me num espírito guerreiro, assertivo e confiante, e também pelos momentos de inspiração em que saíram toques automáticos, produto de lições de esgrima feitas no século passado. Há coisas que ficam registadas no nosso corpo e cérebro e se revelam nos momentos mais oportunos!

Mas pentatlo são cinco disciplinas - não basta montar a cavalo e esgrimir, há que nadar, atirar e correr também!

A natação (200 metros livres) foi melhor do que esperava dado o reduzido treino dos últimos meses: 2'37". Mais 20" que o meu melhor tempo de sempre (feito há 10 anos) e menos 14" que o pior tempo dos últimos anos.

O combinado de tiro e corrida é um novo formato de competição no pentatlo desde o início deste ano. Consiste em correr cerca de 20 metros, disparar 5 tiros, correr 1 km, 5 tiros, 1 km, 5 tiros, 1 km e acabou. Total de 3 kms corridos e 15 tiros. Este novo formato exige um tiro o mais rápido possível, menos preciso que anteriormente. Treinei um par de vezes e esta foi a minha segunda prova. Verifiquei rapidamente que não é fácil ser rápido e preciso, especialmente com o coração acelerado após 1000 metros corridos em pouco mais de 3 minutos. Acho o novo formato divertido e parece que é apreciado pelo público. Não posso deixar de sentir que se perde bastante do tiro de precisão a que me habituei nos últimos... 15 anos de pentatlo, mas vejo que existe um bom novo desafio para os pentatletas de todo o mundo. A prova de combinado correu razoavelmente e consegui ser o segundo atleta mais rápido (com um tempo bastante lento, consequência especialmente do duríssimo percurso de corrida, com subidas brutais).



Não posso dizer que tudo isto tenha sido resultado de treinos intensivos. Desde que me "reformei" do pentatlo competitivo há 10 anos tenho corrido bastante (mas mais distâncias longas, em preparação para maratonas e triatlos, por isso tenho perdido velocidade) e nadado de vez em quando. Disparei muito pouco e desde 2003 só faço esgrima e hipismo em provas (menos de 10). É interessante ver como as disciplinas técnicas não se esquecem tanto assim e como são as disciplinas físicas que requerem maior disciplina para me manter em forma.

Estes resultados deixam-me sempre a pensar que deveria concentrar-me mais no treino para o pentatlo, correndo e nadando mais rápido (em vez de mais longe, como nas maratonas e triatlos), e treinando mais esgrima e tiro (o hipismo está bom assim), para ser mais competitivo. Mas rapidamente surgem tentações de triatlos, maratonas, corridas de aventura e orientação... que me desviam por outros caminhos. O meu problema é que sou demasiado ecléctico mesmo e não me consigo especializar. Nem num desporto já por si tão ecléctico como o pentatlo!


Gostaria de agradecer ao Alex a amizade e o apoio de sempre, incluindo transportes, treinos, inscrições e equipamentos diversos. Sem a tua ajuda não seria possível aparecer de repente nestas provas, por vezes directo do aeroporto, e conseguir entrar em acção imediatamente! E muito obrigado pelos fantásticos duelos de combinado, que temos de continuar a fazer!

Obrigado também aos organizadores e árbitros, por continuarem a pôr provas de pé, para nós, atletas, disfrutarmos e nos superarmos.

Parabéns a todos os atletas por terem dado o seu melhor neste campeonato, e ao Afonso por nos ter batido a todos! Continuem a treinar, que para o ano há mais... e no seguinte, e no outro e no outro... Contem com o Buli em acção por muitos e bons anos!

domingo, 6 de dezembro de 2009

Tralhas da Vida

Tenho o privilégio de ver frequentemente caírem na inbox mensagens novas da minha prima Xica, que ela envia para a mailing list da família. Assunto invariavelmente estranho, como por exemplo "Socorro: piropo em vias de extinção" ou "Se não fossem os telegramas eu não era nascida", obrigando a urgente leitura.

No corpo do e-mail, fantásticas crónicas, textos, cenas, tralhas - o que lhes queiramos chamar. Partilhas, memórias, sentimentos, histórias de amigos e familiares, observações sobre a sociedade, a natureza humana, xicosofias... Tudo condimentado com fina perspicácia, umas pitadas de humor aqui e ali, e emoção a gosto.

Apesar de muitos textos parecerem à partida interessar mais a quem trata a Xica por tu, os 549... perdão, 550 fãs (and counting!) no Facebook atestam o interesse geral que as crónicas de Francisca Prieto despertam. A tal ponto que uma editora decidiu compilar num livro as tralhas publicadas de Março a Outubro.



Podes e deves comprar o livro "Tralhas da Vida" online no site da editora e/ou seguir as frequentes novidades nas "Tralhas da Vida" no Facebook. Se quiseres receber tralhas por e-mail, vais ter de pertencer à família... Se não é o caso mas estiveres disponível, talvez sobre por aí alguém solteiro que se candidate a dar-te entrada?

Xica: livra-te de deixares de precisar de terapia da escrita! Conto com mais tralhas a caírem de vez em quando no e-mail por muitos anos!


[Actualização a 11/Jan: artigo no i sobre as Tralhas. E já são 743 fãs... and counting...
Actualização a 28/Jan: 1056 fãs... qualquer dia é declarada epidemia pela Organização Mundial da Saúde!]

foto com a autora no lançamento oficial (atrás, montra decorada de "Tralhas")

sábado, 5 de dezembro de 2009

Natal - marca registada

“O papa entrou no escritório da organização mundial da propriedade intelectual, preencheu o formulário e tirou uma senha. Quando chegou a sua vez dirigiu-se ao balcão sete, Quero registar o natal, por favor, Como, perguntou o funcionário, Registar o natal, insistiu o papa...”

(Talvez o Saramago queira começar assim um livro um destes dias? Já estou a imaginá-lo a descrever as sempre incrivelmente verosímeis reacções humanas a acontecimentos improváveis. Ups... Saramago e Natal na mesma bulicena... já começamos mal :) )

Como é que as igrejas cristãs ainda não se lembraram desta: registar a marca Natal®! Em todo o mundo e em todas as línguas!





Para quê registar o Natal®?

Primeiro que tudo, para proteger o Natal® de apropriações nefastas, controlando o uso da palavra e do conceito. Nesta altura do ano é impossível não ser bombardeado por todas as direcções e sentidos com invasiva publicidade a dizer “Campanha de Natal”, “Catálogo de Natal”, “Promoção de Natal”... Mas quem deu o direito a estas empresas todas, de telecomunicações, electrónicos, roupa, supermercados, etc., etc., de fazerem o que quer que seja “de Natal”?? Por quê deixar estas empresas abusarem de um conceito de origem claramente imputável ao nascimento de Jesus Cristo, e portanto, penso eu de que, passível de registo de propriedade por quem consiga argumentar que é “herdeiro” de tal acontecimento? E parece-me que os herdeiros naturais serão as igrejas cristãs. (Há certamente seguidores de Cristo não associados a estruturas organizadas, mas acredito que não ficariam muito incomodados se as igrejas se apropriassem do conceito. Ou talvez gerasse bastante polémica especialmente se desse origem a astronómicas receitas para os donos da marca.)

Segundo, se assim for decidido, para lucrar (sim, financeiramente) com tão poderosa marca! Registar o Natal® poderia abrir incríveis oportunidades de financiamento para as igrejas, talvez permitindo dar uma nova escala às obras realizadas e ao impacto no mundo. Imaginem se houvesse um royalty a ser pago aos donos da marca de cada vez que lêssemos ou ouvíssemos Natal® (e suas derivações: natalício, natalino...) utilizado para fins comerciais .





A gestão que o Comité Olímpico Internacional (COI) faz da marca olímpica (uso das palavras, dos anéis olímpicos, etc.) pode servir de inspiração. Os objectivos do marketing olímpico (página 5 do último relatório de marketing do COI, publicado na semana passada) podem ser facilmente adaptados e adoptados como objectivos do marketing natalício:
  • Garantir a estabilidade financeira independente da igreja, e promover a religião e o Natal® globalmente

  • Criar e manter programas de marketing de longo prazo para assegurar o futuro da igreja e do Natal® e outras iniciativas

  • Aproveitar as actividades de sucesso desenvolvidas ao longo do tempo e evitar recriar a estrutura de marketing em cada novo Natal®

  • Assegurar uma distribuição equitativa das receitas por toda a igreja em todo o mundo e apoiar financeiramente a religião em países emergentes

  • Assegurar que o Natal® pode ser vivido pelo máximo número de pessoas por todo o mundo

  • Controlar e limitar a comercialização do Natal®

  • Proteger o valor inerente à imagem e ideal do Natal®

  • Recrutar o apoio de parceiros de marketing do Natal® na promoção dos valores natalícios


Segundo o mesmo relatório de marketing, o COI teve receitas de marketing de 5,45 mil milhões de dólares no quadriénio 2005-2008. Uma ninharia para as grandes igrejas (parece-me, já que estive à procura de informações e parece bem difícil encontrar o Relatório e Contas da Igreja Católica, por exemplo). Mas as iniciativas (Jogos Olímpicos) e fontes de receitas do COI poderiam inspirar as igrejas: direitos televisivos (47% da receita), patrocínios (44%), bilheteira (5%), licenciamento (3%).

Assim de repente não me ocorre um mega-evento natalício que justifique direitos televisivos milionários, como acontece com os Jogos Olímpicos. Mas consigo imaginar uns bons milhares de milhões a serem pagos por empresas que se queiram tornar “parceiras do Natal®” ou licenciar o Natal® para poderem usar nas suas campanhas nesta época do ano. E receita de bilheteira? Na maior parte das igrejas em que tenho entrado aí pelo mundo não é cobrada entrada. Parece-me bem que não se cobre entrada a quem vai rezar ou participar numa cerimónia religiosa. Mas por que não cobrar aos turistas? Há duas semanas estive na Catalunha onde detectei uma tendência a cobrar por entrar em igrejas. Por exemplo, para visitar a catedral de Girona (que como o próprio nome indica é uma cidade muito gira) e o seu museu pagavam-se 5 Euros. Parece-me muito bem.

Com tudo isto, o uso consumista do Natal® provavelmente seria reduzido, visto que as empresas teriam de começar a pagar por ele. Provavelmente recorreriam ao truque de mudar o foco para a secular Passagem de Ano ou de começar a chamar outra coisa ao Natal® (em inglês usa-se o ridículo “happy holiday season” quando se quer ser “religiosamente correcto”; acho que em português ainda não se inventaram mariquices dessas – ou sou eu que ando muito distraído? ... Sou realmente distraído: claro que temos a mariquice das "Boas Festas"!).


Riscos

Claro que há sempre o risco de as igrejas cristãs, ao se enfiarem em terrenos sujos, se sujarem. Já estou a imaginar o Bento XVI a ocupar 99% do seu tempo a tomar decisões financeiras, a aprovar contratos de licenciamento, a passar tempo com patrocinadores... Pior que gastar o tempo com temas tão mundanos poderá ser a tentação de aproveitar um pouco de tal fartura – em vez de escândalos de padres pedófilos passaríamos talvez a ouvir falar de padres corruptos. E mesmo que os religiosos não se deixem corromper, existe o sério risco de as igrejas se venderem, deixando não só que o Natal se torne (ainda mais) um evento tremendamente comercial, como também que outras partes das igrejas e das suas actividades se deixem infectar por essa comercialização. (O COI ainda vai mantendo os espaços desportivos dos Jogos Olímpicos limpos de publicidade... mas é difícil concordar que os Jogos Olímpicos não estão profundamente comercializados.)


Dificuldades

Se as igrejas cristãs decidirem que as vantagens compensam os riscos, não será fácil registar a marca Natal® e geri-la adequadamente. Além da tradicional, milenar inércia da Igreja Católica e suas primas, a principal dificuldade é que as igrejas cristãs terão de entrar em acordo! Talvez uma boa oportunidade para reverter os cismas que foram fragmentando a igreja ao longo dos últimos 2000 anos? Ainda mais difícil do que um entendimento entre as grandes igrejas (Católica, Protestantes, Ortodoxa) será chegar a acordo com organizações não tão grandes como os Mórmon, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), a Maná, entre outras.

No cenário improvável em que as várias igrejas cheguem a um acordo, não será tarefa simples convencer a Organização Mundial da Propriedade Intelectual da legitimidade do registo da marca.

No cenário ainda menos provável de se conseguir registar a marca Natal®, a sua gestão não será nada fácil. Não só devido às prováveis diferenças de interesses e preferências entre as várias igrejas gestoras, mas especialmente porque elas não são propriamente reconhecidas internacionalmente pelas capacidades de marketing do seu pessoal (com a excepção da IURD e concorrentes com posicionamento e estratégia semelhantes). O Vaticano devia era mandar alguns padres fazer MBAs. Já tentei convencer o meu irmão, mas ele não parece entusiasmado com a ideia.

Talvez ele me consiga ao menos arranjar o e-mail de Bento XVI, para ver se partilho estas consultorias?

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Sufocado por saco de plástico

Nos últimos anos, alguns governos baniram ou aplicaram impostos sobre sacos de plástico (bom artigo sobre a tendência aqui). Por que não todos?

Eu evito trazer sacos do supermercado, mas às vezes passo lá despreparado e, apesar de doer um pouco trazer mais um saco, ainda não dói o suficiente para não o trazer. Se o supermercado não tivesse sacos ficava o problema resolvido: ou voltava noutra altura ou levava as coisas na mão se fosse urgente.

Há dias reparei que o Carrefour em Espanha (perdão, na Catalunha!) deixou de ter sacos de plástico (e tem um site todo ecológico). Nem oferecidos, nem à venda. Até ao fim do ano ainda oferece sacos biodegradáveis, para ajudar os clientes mais distraídos na transição. Em 2010 ou o cliente leva um saco de casa ou leva as compras na mão.




Mas não deveria ser preciso o governo ou o supermercado tomar a iniciativa. Como é possível que eu seja incapaz de abolir os sacos de plástico?? Será preciso morrer sufocado por um saco de plástico (por exemplo, durante a prova de natação de um triatlo)?


Para quem se pergunta por quê acabar com os sacos de plástico, talvez (re)ver esta bulicena ou ler esta ajude a sensibilizar.

domingo, 29 de novembro de 2009

O egoísmo de Teresa de Calcutá

Tinha (e acho que ainda tenho) a teoria do egoísmo generalizado: tudo o que fazemos - todos nós, incluindo a Madre Teresa de Calcutá - é, em última análise, egoísta, mesmo que seja para bem alheio. Podemos querer ajudar o próximo, mas a motivação para o fazermos é sabermos, no fundo, no fundo, que isso nos vai fazer sentir bem, felizes, mesmo que a acção em si nos possa custar. Nesta teoria, um egoísta de horizontes largos, que sofre de baixos níveis de cegueira (e portanto vê mais do que o seu umbigo) e reduzida estupidez (portanto toma boas decisões), pode e deve ser feliz, mesmo tendo de passar por grandes sofrimentos.

Esta semana li (ou reli - a minha memória é curta) um artigo sobre a "vida secreta de Madre Teresa de Calcutá", a propósito do lançamento do livro Mother Teresa: Come Be My Light em 2007.



fonte: TIME


O artigo descreve como ela passou quase 50 anos sem sentir a presença de Deus (mais ou menos desde a fundação das missionárias da Caridade até à morte em 1997). Em alguns momentos parecia até duvidar da existência de Deus. Aparentemente ela continuava a fazer o seu trabalho no dia-a-dia, motivando as pessoas em sua volta, conseguindo esconder com sorrisos aquilo que lhe ia na alma, mas profundamente triste.

Fiquei a pensar... Será que Teresa era infeliz, apesar do bem que fazia ao próximo? O artigo descreve uma Teresa que não soa realmente muito feliz... Será que a teoria do egoísmo generalizado está errada? Ou é a "excepção que confirma a regra"? (Aquela frase sem lógica nenhuma frequentemente usada para não ter de explicar algo que não encaixa nas teorias vigentes.)

Talvez Teresa fosse, além de uma mulher de iniciativa e imensamente generosa, algo neurótica? Por quê stressar tanto com isso de "sentir Deus"? Afinal, o que significa "sentir Deus"? Sendo Deus transcendental, parece algo ambicioso querer "senti-lo" (em termos de seis sentidos, ou mesmo da razão ou do coração). Consta que no juízo final Deus dirá "sempre que fizeste isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizeste." [Mt 25,40] Por que não lhe haveria de bastar sentir o carinho dos “pequeninos” com quem interagia no dia-a-dia?

Provavelmente não importa se Teresa era ou não feliz – espero e acredito que fosse, mas não posso fazer nada sobre isso agora. O que importa é se eu sou feliz. Se tu és feliz. Se as pessoas à nossa volta são felizes.

Não acredito em juízo final, nem em Céu nem em Inferno: isso é tudo demasiado longínquo, e portanto difícil de ponderar nas decisões do dia-a-dia. Facilmente me torno um egoísta cego se forem essas as minhas referências. Acredito em céu e inferno aqui e agora. Nesta vida. No presente. Céu é ser feliz, inferno é ser infeliz. Não há juízo final – sou julgado a cada instante da minha vida. E acredito que recebo da vida aquilo que procuro. Vazio se procuro vazio. Felicidade se procuro felicidade.

Chegar à felicidade (ou simplesmente estar vivo) costuma implicar algum tipo de dor – física, emocional, mental, espiritual... Mas dor não tem de implicar infelicidade: posso e devo, equanimemente (algumas ideias sobre desenvolver a equanimidade em “A arte de viver”), com serenidade, observar a dor – “hmm... dói-me...” – aceitando que ela está presente e que provavelmente desaparecerá mais cedo ou mais tarde. E reconhecer que aquilo que estou a viver é em grande parte responsabilidade minha, deriva das opções que fiz, decisões que tomei, ajuda a relembrar o caminho de felicidade que escolhi, que possivelmente exige determinadas privações e provações. E que sentido faz sofrer com aquilo que não está ao meu alcance mudar?

Um exemplo extremo de felicidade que passa pela dor é o de Jesus Cristo quando, pelas três da tarde de uma sexta-feira na Páscoa de um ano próximo do 33, antes de se apagar, gritou "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" [Mt 27,46]. Acredito que, apesar do sofrimento, Jesus homem estava também egoisticamente a procurar a sua felicidade (sim, espalhando felicidade). Em última análise, meteu-se naquela alhada porque decidiu que era o caminho certo, o caminho da felicidade, mesmo que trouxesse tantas dificuldades.

Não estou a sugerir que é fácil ser um egoísta de horizontes largos, antes pelo contrário. A tendência de desvalorizar o futuro e obter rápida satisfação torna-me muitas vezes cego. E mesmo que não esteja cego, por vezes a minha inteligência está em baixo de forma e nem sempre tomo as melhores decisões. A bulinova sobre a teoria do egoísmo generalizado oferece algumas ideias para tentar seguir o bom caminho: totalmente egoísta, mas comprometido com a tarefa constante de reduzir a cegueira e a estupidez.

Sê feliz e espalha felicidade!


sábado, 7 de novembro de 2009

Timor em mudança

Voltei a Timor-Leste! (depois das visitas em 2003 - exaustivamente documentada nas bulinovas -, 2006 e 2008)

Em 2008, talvez influenciado pelo facto de haver campos de refugiados em vários pontos proeminentes de Dili (ainda efeitos da crise de 2006), pareceu-me que a cidade estava mais ou menos igual a 2003. Os mesmos edifícios em ruínas desde a destruição pós-referendo em 1999, os mesmos buracos nas ruas e passeios, provavelmente já com uma prole digna de uma família timorense, os táxis decrépitos a ameaçar desmantelar-se a qualquer momento enquanto circulavam a 15 km/h...


Mudanças

Desta vez, passado um ano, Dili pareceu-me bastante diferente, em geral para melhor. São certamente impressões superficiais de alguém que só passou uma semana em Timor e não saiu da capital. Mas desejo que as coisas boas que são visíveis a um visitante sejam reflexo de mudanças mais profundas e positivas para os timorenses, que lhes permitam viver vidas mais confortáveis, com mais oportunidades, mais escolhas, mais felizes.

A primeira mudança em que reparei são os táxis amarelos. Não só foram pintados de amarelo como me parece ver menos táxis à beira da morte, alguns até talvez quase novos!



E o trânsito está bastante mais intenso: o número de automóveis deve ter aumentado significativamente. Agora até há filas de trânsito, que abrandam o trânsito dos habituais 20 km/h para uns 10-15 km/h.

Na minha primeira corrida matinal, ao reparar nas mudanças na cidade e no trânsito, não sei por quê, pensei "só faltava ver aqui um BMW!" E uns minutos depois passou por mim um BMW, daqueles com ar de poder ter sido utilizado num James Bond há uns 8 anos. Bastante sobrenatural.

A segunda mudança, evidente para quem anda a pé pela cidade, é a dificuldade em encontrar um buraco onde possa cair! Posso andar muito mais distraído que o habitual sem arriscar a vida a cada dez passos (agora é só a cada 500 passos, talvez?). Não só as estradas estão melhor alcatroadas como foram construídos passeios por toda a cidade.

E a outra mudança muito evidente em que demorei mais a reparar: a cidade está muito mais limpa! E a praia da Areia Branca, ali a 4 kms, também. Explicação: a resolução do Governo declarando sexta-feira de manhã período de limpeza para funcionários públicos de todos os níveis.



No ano passado já existiam alguns semáforos, mas este ano pareceram-me muitos mais. Ultra-modernos, até com contagem decrescente para mudança de cor.



Muitos edifícios foram (ou estão a ser) construídos ou renovados. Até um moderno centro comercial está a ser construído na estrada de Comoro (segundo este artigo, no valor de $30 milhões... quantos anos vai demorar a dar retorno??).

Palacio Presidencial

Igreja de Motael

Secretaria de Estado da Juventude e Desporto

Procuradoria Geral da República

Casa Europa

Banco australiano ANZ



Parques que no ano passado eram campos de refugiados foram arranjados e agora são frequentados para lazer dos dilianos.



A Timor Telecom domina o mercado publicitário, com razoável poluição visual da cidade. As boas notícias são que uma ligação Internet de banda larga já só custa $49 por mês.



No desporto, em Agosto aconteceu a primeira Volta a Timor. Em bicicleta de montanha, claro.



E a federação de futebol em breve vai inaugurar a FIFA House - um dos edifícios mais vistosos da cidade.

FIFA House - Campo da Democracia


Parece-me que há bastantes mais restaurantes de variadas gastronomias. Neste momento é possível experimentar em Dili, pelo menos, comida timorense, indonésia, portuguesa, brasileira, chinesa, tailandesa, vietnamita, japonesa... Até abriu mais um estabelecimento de fast food (em 2006 já havia um restaurante de hambúrgueres) quase com aspecto de McDonald's.



Outras coisas não mudam

O Hotel Timor continua a ser o centro da actividade social e provavelmente política da cidade e do país. Passei lá um dia à hora do almoço e encontrei, sem qualquer combinação, provavelmente todos os meus conhecidos (não timorenses) num raio de 2000 km: cinco pessoas, uma das quais eu pensava que estava em Adis Abeba e não em Dili!

Os governantes continuam muito acessíveis. Por trabalho reuni com o Secretário de Estado da Juventude e Desporto e com o Presidente da República. Também encontrei o Primeiro-Ministro, brincalhão e informal como sempre, na cerimónia de abertura da taça do 18º aniversário do 12 de Novembro (acho um pouco estranho isto de comemorar datas de massacres, mas enfim...), onde ele até jogou futebol.



O catolicismo continua forte. No Dia de Finados (feriado em Timor) não deve haver quase nenhum timorense que não vá ao cemitério levar flores e rezar pelos antepassados, por vezes em distritos a várias horas de viagem. Pelo menos todos aqueles com quem falei tinham ido ou iriam mais tarde, e durante a minha corrida matinal a zona em volta do famoso Cemitério de Santa Cruz parecia tão activa - mas por melhores razões - como nas imagens do 12/Nov/91.


Reflexões

É impossível passar por Timor (ou outro país em semelhante grau de desenvolvimento económico) e não reflectir sobre como se pode viver num país em que há tão pouco. Em que quase nada pode ser dado por garantido. E comparar com a forma como se vive noutros países, em que ao termos quase tudo reclamamos do quase nada que não temos. Esquecemos que todo este conforto não existe por termos nascido com direitos vitalícios especiais. Esquecemos que a água e a electricidade vêm de algum lugar. Que as frutas e legumes não nascem no supermercado. Que o carro e o telemóvel não são apêndices que crescem em quase todos os seres humanos adultos. Que o lixo não se evapora do mundo quando o deitamos no caixote. Em Timor parece mais fácil dar valor a coisas tão simples como um caixote do lixo. Água para matar a sede. Uma brisa para aliviar o calor. Estar vivo.

Também não posso deixar de recordar os muitos anos em que a situação de Timor representava para mim a injustiça do mundo, a opressão dos mais fracos, a causa perante a qual ninguém poderia ficar indiferente. E especialmente recordo o mês de Setembro de 1999, há 10 anos, quando enquanto tentava acabar o meu trabalho final de curso ia vendo as terríveis notícias que chegavam aqui de tão longe. E os portugueses activos como nunca (ultimamente consta que só saem à rua durante Europeus ou Mundiais de futebol), entre concentrações, cordões humanos, flores na água, roupas brancas, faxes, e-mails, destaques em todos os meios de comunicação... Todos por Timor. [aqui uma excelente compilação dos acontecimentos desse mês]

Por que será que parece ser preciso um Timor para nos importarmos com alguma coisa?

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Alegre volta ao mundo dançando


Where the Hell is Matt



Obrigado Matt! Óptimas energias! Feliz Natal!!


[Mais sobre o Matt no site oficial e em especial no about e nas FAQ.]

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Morte ao Pai Natal!

Há alguns anos que tenho o privilégio de responder "Nada" quando alguém próximo pergunta o que é que preciso (para o Natal, aniversário, ou alguma outra ocasião em que se convencionou oferecer coisas). Agradeço a recorrente pergunta, apesar de por vezes demasiado insistente, porque me faz sempre ficar consciente da minha privilegiada situação num mundo em que tanta gente vive com tantas dificuldades.

Na verdade, a minha resposta não pode ser tomada de forma absoluta: tenho de admitir que preciso de oxigénio, água e alimentos para viver. E não sei o que é viver sem uma casa, um abrigo. Nem sem uma razoável liberdade. E saúde também dá muito jeito. Ou os respectivos cuidados na falta dela. Pensar como não me posso queixar da falta de nada disto (nem alguma vez pude em 33 anos de vida) aviva a noção de vida privilegiada. E faz-me pensar em quem não tem a mesma sorte. Sorte mesmo: não posso reclamar qualquer mérito por ter nascido nesta família, onde e quando nasci, por ter estudado onde estudei, trabalhado onde trabalhei... Claro que tive de fazer algumas opções ao longo da vida, mas tive a sorte de as poder fazer.

Tudo isto para, saindo um pouco da linha positiva e amigável que espero que as bulicenas costumem seguir*, declarar

morte ao Pai Natal! :)

quadro: Robert Cenedella


O Pai Natal é a metáfora para esse estranho costume das prendas natalícias materiais e materialistas. A grande maioria das pessoas a quem damos alguma coisa não precisa de coisa (material) nenhuma. A maioria das coisas que damos (excepto os mais criativos!) provavelmente não tem significado especial para quem recebe. (Nem para quem dá?) Muitas vezes são até opressivas, gerando um incómodo sentimento de reciprocidade "se ele me deu isto, agora tenho de retribuir". "Alimentam a economia", justificam alguns. Que raios é suposto isso querer dizer?? Qualquer compra, por mais estúpida que seja, "alimenta a economia". Isso faz dela uma compra boa?? Não, antes pelo contrário: uma compra estúpida alimenta estupidamente a economia. Gera desperdício, abuso desnecessário dos recursos do planeta.

imagem: Urban Army


Por solidariedade pelos desprivilegiados, por ecologia, por vergonha na cara, proponho aniquilar o Pai Natal. Ou simplesmente esquecê-lo. Ou transformá-lo? Por quê pedir-lhe egoisticamente coisas para mim? Por que não pedir a mim próprio para ajudar a quem precisa? E responder ao pedido.

Como de costume, nenhum leitor das bulicenas conte com prendas materiais da minha parte neste Natal (nem em qualquer outro). Espero que possam contar com a minha amizade e boas energias. E vou tentar dar prendas a quem precise mais, por exemplo fazendo um donativo a organizações que andam a ajudar as vítimas das recentes catástrofes naturais por estes lados: terramoto em Padang, inundações em Manila, maremoto em Samoa. Se alguém tiver uma vontade incontrolável de me oferecer alguma coisa, ofereçam-me por favor uma ajuda a quem precisa!

Feliz Natal!


*Na verdade não é uma declaração tão agressiva assim, pois consta que o senhor das barbas brancas vestido de vermelho não existe. Para quem acredita, as boas notícias são que o Pai Natal foi preso no ano passado. Talvez este ano me safe finalmente de receber prendas?

domingo, 11 de outubro de 2009

5 C's

Os 5 C's são uma forma popular de medir o sucesso de um homem (não só o potencial de atrair mulheres) em Singapura: cash (dinheiro, ou carteira), carro, condomínio, cartão de crédito e country club. Às vezes ouço mencionar um sexto C também relevante: carreira.

A Orchard Road ao domingo é uma excelente amostra deste modelo de sociedade materialista em funcionamento. À semelhança da zona de Belém em Lisboa (pelo menos na minha infância - hoje talvez o Colombo tenha tomado esse lugar?) ou do parque Ibirapuera em São Paulo (mais para o popular), a Orchard Road é destino dominical para massas de gente de todos os estratos socioeconómicos. Com raras excepções, cada prédio desta rua é um centro comercial (incluindo os primeiros andares de vários hotéis). Outdoors, montras, ecrãs de vídeo gigantes, luzes, amostras, folhetos, promoções... Tudo chama a atenção para marcas de roupa e acessórios, perfumes, e outras inutilidades. Das acessíveis às "estpssoaltássapassar!". Comprar é um dos dois desportos nacionais de Singapura (logo a seguir a comer). Devem acontecer milhões de transacções em cash e cartão de crédito num domingo na Orchard Road. Quem não está a comprar está a pensar no que acabou de comprar, no que vai comprar, ou no que gostaria de comprar. Quem tem carro (não são muitos em Singapura) aproveita para desfilar o seu símbolo de status e capacidade financeira. Há quem chegue ao ridículo de possuir um Ferrari ou um Lamborghini neste país com menos de 50 km de uma ponta à outra e um total de 160 km de auto-estradas (com limite de velocidade de 90 km/h). O hotel Hilton na Orchard Road parece ponto de encontro habitual para estes estranhos seres.



Quem quererá ser um sucesso numa sociedade assim?

Orgulhosamente, sou um completo falhado:
  • Até tenho umas poupanças, mas a maior parte está em depósitos não tão líquidos numa conta no Brasil à qual não tenho tão fácil acesso, portanto não se pode dizer que eu tenha muito cash

  • Nunca tive carro na vida, e tenciono nunca vir a ter (especialmente em Singapura - ilha de 700 km2 bem servida por excelentes transportes públicos, à qual consigo dar a volta em bicicleta em perto de 4 horas)

  • Vivo num HDB - prédio de "habitação social" singapurense - e não num condomínio (construção privada com mais luxos, tipicamente incluindo piscina, courts de ténis, ginásio, garagem...)

  • Devido à falta de rendimentos estáveis, não sou elegível para obter um cartão de crédito em Singapura (a não ser fazendo um depósito de segurança de 10.000 Euros)

  • Continuo a correr e pedalar pelas ruas e estradas de Singapura, e a utilizar as excelentes piscinas públicas - não sou sócio de nenhum ginásio e muito menos de um country club

  • Reformado aos 32... é difícil argumentar que tenho algo que se possa chamar uma carreira... e sinceramente nunca me ocorreu querer ter uma

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Eficiência singapurense

Brrr brrr brrr, toca o telefone.

- Alô?

- Boa tarde. Senhor Da Fonseca?

- Sim, sou eu...

- Daqui fala do seu banco. Você perdeu o seu cartão bancário.

- Ah sim? [enquanto levo a mão ao bolso a verificar] Hmmm... é possível...

- Por motivos de segurança acabamos de cancelar o cartão e vamos cobrar S$5 pela perda. Estou a ligar para confirmar alguns dados para emitirmos um novo cartão...

E antes que eu conseguisse processar a notícia estava tudo resolvido.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Minimalismo radical

mnmlist.com. Fascinante. Identifico-me com muitas ideias. Dá uma olhada, p.ex.:
- O verdadeiro custo das coisas (100% d'acordo!)
- Liberta-te das metas (tenho de pensar nisto!!)
- Desafio das 100 coisas (desafiante!!!)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A Era da Estupidez

Pode ser visto amanhã, 22 de Setembro, num cinema perto de si (Portugal, Brasil, outros).



Mais um "alarme" (científico, segundo o site do filme) sobre as mudanças climáticas e a contribuição humana para elas. Vi o trailer e fiquei a pensar quão horrível poderia ser um mundo cheio de refugiados, incluindo eu, sem casa, sem comida, sem ordem, sem tantas coisas que dou por garantidas, que nem sequer reparo que existem. É muito fácil ver cataclismos na TV ou na Internet e "ter pena" de quem sofre, quem sabe até enviar um donativo, ou voluntariar tempo para ajudar. Não deve ser tão fácil viver um cataclismo. Em 2055 eu posso muito bem ainda estar vivo, portanto até posso pensar em mudar alguma coisa em mim e no mundo nem que seja por puro e cego egoísmo. Talvez valha a pena pensar nisto? Ou melhor ainda: fazer alguma coisa? O quê?


The Age of Stupid Global Premiere Trailer from Age of Stupid on Vimeo.

sábado, 19 de setembro de 2009

Aulas de canto

Ni hao!

Comecei a fazer aulas de mandarim! Finalmente venci a inércia de enfrentar este pesado desafio, novamente graças ao Myngle e mais uma promoção Back to School: aulas diárias de 30 minutos (privadas, por skype) durante 30 dias por 95 Euros. Recomendo vivamente (e não ganho comissão)!



Era vergonhoso nem sequer tentar aprender a língua estando nesta região e num país em que grande parte da população é de origem chinesa e fala mandarim. Parte da inércia vinha do facto de ter amigos que estudam mandarim há bastante tempo e não parecem sentir-se à vontade para grandes conversas. Pensando bem, eu não tenho pressa... então há-de chegar o dia em que consiga falar mandarim com alguma fluência.

Por enquanto, as primeiras aulas parecem aulas de canto, já que passo o tempo a tentar acertar no tom certo para cada sílaba! E chinês continua a parecer-me... chinês.

sábado, 12 de setembro de 2009

Legal alien

16 meses após o meu visto de trabalho na Índia ter caducado, depois de um período razoavelmente nómada, dezenas de passagens em postos de imigração, especialmente nos EUA e Singapura, volto a ser um imigrante legal! Obtive um EntrePass – um visto de empreendedor, que me permite trabalhar em Singapura como director da empresa que abri há poucos meses.




Já não preciso de me preocupar com a possibilidade de me vedarem a entrada em Singapura e, ao preencher formulários de imigração, posso deixar de mentir dizendo que moro em Portugal (já que até agora não tinha visto para residir em outro país além do único que se digna a dar-me o livrinho ridiculamente valorizado que dá pelo nome de passaporte).

Felizmente as autoridades singapurenses não pediram para ver comprovativos dos meus salários dos últimos 12 meses e aceitaram como comprovante de morada em Portugal a carta de condução (válida até 2041, portanto há-de continuar a salvar-me em situações semelhantes!). Mas fizeram-me assinar um papel



em que declaro não ter tuberculose nem sida e reconheço que terei de sair do país se contrair uma das doenças (poderia ser pior: poderiam querer privar-me de casar, ter filhos, trazer família, como acontece com as empregadas domésticas). E o visto só é válido por um ano: imagino que a empresa tenha de apresentar resultados (e pagar impostos em Singapura!) para justificar a minha existência aqui.

As fronteiras são, claramente, um descomunal desperdício de recursos e humanidade: muros, arame farpado, postos fronteiriços, sistemas de vigilância, balcões de imigração, armas, polícias, militares, funcionários do governo civil e consulados, papéis, carimbos, filas de espera, ...

Consciente de que me repito (e de que me voltarei a repetir): migração livre para todos, já!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Direitos Não-humanos

Num quente fim de tarde em Maio, enquanto deambulava pelas ruas de Paris em busca de alojamento barato para uma noite, passei pela porta de um café onde estava afixado um cartaz parecido com este (mas em francês):



Fascinante! Ali estava um conceito deveras avançado! Muito à frente mesmo!! Claro que existe a protecção animal, ecologistas, etc., mas nunca tinha ouvido falar de alguém defender os direitos "não-humanos" sugerindo que eles merecem ser tratados com IGUALDADE!! O café estava fechado e o cartaz não continha mais informação. Assim que pude, claro que fui perguntar ao google o que seria aquilo. Talvez um grupo com quem pudesse partilhar ideias anantropocêntricas?

Rapidamente me desiludi ao descobrir que era parte da estratégia de marketing viral de um novo filme: District 9. Mas não pude deixar de achar inteligente e despertadora de curiosidade a forma como tinham sido produzidos sites razoavelmente realistas para a empresa privada MNU em destaque no filme, para um blog de extraterrestres a favor da igualdade de direitos, um site com ar antiquado com referências a extraterrestres...

Encontrei o trailer do filme, que me deu uma ideia do enredo:



Não vi o filme. Mas provavelmente apreciaria, porque facilmente gosto de mundos de ficção científica que despoletam a minha imaginação, especialmente se estimularem a introspecção, se incluírem alguma autocrítica ou crítica social.

Fiquei a pensar qual seria afinal o tema do filme. Discriminação? Os extraterrestres seriam talvez uma metáfora não tão subtil para povos e seres refugiados, oprimidos, subjugados? Será que o Distrito 9 é muito diferente da Faixa de Gaza? Ou dos múltiplos campos de refugiados à volta do mundo - gente em fuga de conflitos genocidas, inocentes prisioneiros em países vizinhos, não aceites pelos locais, privados de liberdade de movimentos, de contacto com familiares, de trabalho? Ou, mais profundamente ainda, como aquele cartaz no café parisino tinha sugerido, os extraterrestres representam os seres vivos com quem partilhamos o planeta e a quem não respeitamos demasiado.

O que nós, humanidade, merecíamos era mesmo que aparecessem por cá uns extraterrestres super-avançados. O suficiente para nos ignorarem e nos tratarem, com toda a justiça, como nós tratamos os outros seres. Mas não tão avançados que nos tratassem com respeito e quem sabe até igualdade.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Puquê??

No ano passado fui uns dias até Phuket - famosa ilha tailandesa, supostamente um paraíso de praias imaculadamente brancas, águas quentes, mar azul transparente. E talvez seja assim na época alta. Mas estávamos em época de monções: dias a tender para o triste, chuvas intermitentes, ventos fortes, praias desertas. E sem turistas ninguém se dava ao trabalho de limpar a areia do lixo orgânico e sintético trazido pelas marés vivas. Além dos cocos, troncos e ramos de árvores, conchas e outros restos de origem não humana, o areal da praia de Karon encontrava-se generosamente adornado por (em ordem de maior a menor frequência) palhinhas, tampas de garrafas, garrafas de plástico, garrafas de vidro, embalagens e sacos de plástico, escovas de dentes, lâmpadas eléctricas, chinelos... Uma beleza!





Na mesma onda (não literalmente), bastantes quilómetros a leste de Phuket, flutuavam e flutuam cada vez mais restos plásticos não biodegradáveis: a maior lixeira do mundo.


Encontrado nos blogs do sempre pertinente Worldwatch Institute


(Faz lembrar aquela campanha dos free range studios contra os sacos de plástico.)

Mas tudo isto se passa lá longe na Ásia, ou nos Estados Unidos, ou no meio do Pacífico (nem sequer é no Atlântico!). Coisas dos consumistas e poluidores americanos e chineses. Por isso nao é nada com os europeus, certo?

É com certeza comigo. Fico horrorizado com a quantidade de lixo que produzo. Certamente posso esforçar-me mais por reduzi-lo. Habituei-me a dizer "Não preciso de saco, obrigado" quando compro alguma coisa. Tento ir ao supermercado sempre com uma mochila, para não trazer de lá mais embalagens (para além dos produtos excessivamente embalados que não consigo evitar comprar). Mas de vez em quando passo por lá sem mochila e trago mais uns sacos que vou acumulando sem lhes conseguir dar uso. Apesar da fantástica Singapura não parecer estar muito avançada em recolha selectiva de lixo (o que se reflecte nas reduzidas taxas de reciclagem de lixo tipicamente doméstico), consegui descobrir onde deixar o meu lixo separado em papel, plástico, latas e vidros. Assim ganhei maior consciência da brutal quantidade de papel e plástico que deito fora diariamente. É terrível. Onde vai parar tudo isto?? Parece que aqui em Singapura o lixo é incinerado e mandado para uma ilha-aterro. A propaganda oficial é tão potente, que só encontro referências bastante positivas sobre este sistema - será mesmo assim tão bom?

O lixo desaparece facilmente dos meus olhos... mas algo me diz que ele anda por aí, e que deve ser cada vez mais difícil escondê-lo. A habitual miopia adulta leva-nos a acreditar que sempre foi e tem de ser mesmo assim, que é inevitável, é a vida!

Talvez precisemos de voltar a ser crianças, como o Gui, irmãozinho da Mafalda, e voltar a fazer perguntas: Puquê?? Mas puquê?!?! Por que será que tivemos de criar esta sociedade brutalmente lixógena? Como podemos torná-la mais limpa? Ou acabar com ela? Ou sair dela?

sábado, 29 de agosto de 2009

Comer com as mãos

Comer com as mãos... O sonho de qualquer criança! Mas em tantas sociedades “civilizadas” desde tenra idade nos ensinam que comer com as mãos “é feio”, “não se usa”, “não fica bem”... E só raramente nos concedem uma excepção: um pique-nique... aquela pizza ou batatas fritas em ambiente informal...

Não me esqueço, na minha primeira viagem à Índia há 5 anos, quando fiquei em casa dos pais de um amigo em Pune. Às refeições a mesa estava posta de forma bastante internacional, com pratos e talheres. O meu amigo e a mãe comiam com talheres, tal como eu e o amigo japonês com quem viajava. Mas o pai comia com as mãos. E eu não me cansava de olhar para ele e admirar a limpeza com que o fazia. Era claramente o mais “educado” àquela mesa. Conseguia agrupar pequenas quantidades de arroz misturado com os legumes e variados caris das deliciosas refeições vegetarianas, com uma técnica totalmente digital: usando apenas as pontas de três dedos da mão direita – polegar, indicador e médio. Com uma serenidade gandhiana, aproximava a comida à boca, fazendo uma colher com as pontas do indicador e do médio. O polegar empurrava com maestria a comida da colher digital para a boca, sem qualquer percalço, sem qualquer sujidade observável a olho nu, quer nos dedos quer à volta da boca. Uma limpeza!

Durante os dias naquela casa não ousei experimentar comer com as mãos, consciente de que estava a anos-luz da “civilização” do senhor e de que poderia chocar a família com os meus modos totalmente bárbaros. Mas no resto da viagem pela Índia, o amigo japonês e eu aproveitámos todas as oportunidades para praticar aquele modo alternativo de comer. Pelo menos da minha parte, acho que era um misto de querer viver uma outra cultura de forma mais completa com a rebeldia adolescente de cortar com os condicionalismos irracionais da minha educação.

Modéstia à parte, penso que desenvolvi uma técnica razoável de comer com as mãos (mas não imaculada, e é verdade que os meus dedos ficam bastante tempo a cheirar a caril), inclusive gabada por um dos chefes do escritório onde trabalhei na Índia no ano passado, que um dia ao ver-me almoçar disse “Já comes como um indiano!” (para os leitores mais cépticos ou preconceituosos: era um elogio!).

Em Singapura, passo de vez em quando pela Little India onde me permitem praticar sem olhares estranhos a deliciosa arte de comer com as mãos. Mas tenho de admitir que continuo a anos-luz do pai do meu amigo de Pune.


sábado, 22 de agosto de 2009

Controlo calórico

Mantinha há bastante tempo o projecto de criar um programa ou tabela em Excel para registo de alimentos ingeridos, permitindo calcular o total de calorias, quantidade de gordura, proteínas, hidratos de carbono, vitaminas, minerais, colesterol, etc. etc. A ideia seria também registar as calorias dispendidas em diferentes actividades físicas, não por preocupações de peso (que não tenho) mas por curiosidade em entender o meu balanço calórico (e analisar até que ponto eu como quando e quanto preciso ou simplesmente por hábito).

O projecto tem sido adiado, especialmente porque daria bastante trabalho obter ou criar uma tabela de composição de alimentos que servisse de base ao programa. Suspeitava que, como tudo na vida, alguém já teria criado algo semelhante... e claro que assim é: o FitDay é exactamente aquilo que eu tinha imaginado (ou, haja modéstia, provavelmente muito melhor)!


Permite, entre outras coisas:
. registar os alimentos ingeridos diariamente, seleccionando de uma base de dados razoável (infelizmente é preciso saber os nomes em inglês, nem sempre fácil) ou criando novos alimentos
. registar as actividades físicas realizadas e calcular as calorias dispendidas num dia, somando o consumo em actividades mais intensivas a uma estimativa de consumo basal
. definir metas de peso e acompanhar progresso ao longo do tempo

Requer um certo investimento inicial a seleccionar os nossos alimentos habituais, mas pode valer bem a pena para quem por diversas razões precisar de analisar os seus hábitos alimentares e de actividades físicas e criar algum tipo de disciplina (p.ex., aumentar ou baixar peso, reduzir a ingestão de gorduras ou colesterol, etc.).

Comam bem e gastem bem essas calorias!

domingo, 9 de agosto de 2009

Singapura: saudáveis 44!

Feliz aniversário, Singapura!

Singapura fez hoje 44 anos e continua a desenvolver-se forte e saudável! Provavelmente contra todos os prognósticos de quem viu esta pequena ilha (700 km2) tornar-se um país independente em 1965, como sugere o livro (que ainda tenho de ler) do primeiro primeiro-ministro Lee Kuan Yew (o "pai da nação"), Singapura passou em apenas uma geração do terceiro ao primeiro mundo. Provavelmente devido à minha miopia de só conseguir ver o mundo como ele é hoje, não conheço história semelhante em qualquer outro ponto do mundo ou do tempo.

Hoje em dia toda a gente em Singapura parece ter acesso a comida barata, casa, cuidados de saúde, instalações culturais e desportivas (espectaculares centros comunitários e complexos desportivos espalhados pela ilha), emprego (a taxa de desemprego explodiu dos habituais 2% para 3.3% devido à crise), segurança, paz. Tudo isto com impostos em geral baixos (mas ainda assim o povo reclama, claro), altos quando deve ser (automóveis, tabaco, álcool). Há certamente muita coisa a melhorar, nomeadamente o défice democrático (o People's Action Party tem dominado a história política do país, o que leva a receber com algum cinismo a menção sobre democracia no "compromisso nacional" abaixo) e o tratamento desumano dado a trabalhadores estrangeiros (como as empregadas domésticas).

Poderia ser ainda melhor (p.ex., anacionalista, para incluir também quem não é cidadão de Singapura), mas identifico-me bastante com o compromisso nacional de Singapura [como é que se traduz "pledge"?]:

"We, the citizens of Singapore
pledge ourselves as one united people,
regardless of race, language or religion,
to build a democratic society,
based on justice and equality,
so as to achieve happiness, prosperity and
progress for our nation."

Todos os anos o Dia Nacional é celebrado com uma parada monumental, digna da abertura de uns Jogos Olímpicos. Ainda não foi desta que assisti às cerimónias, mas foi inevitável ver parte dos ensaios nas semanas antecedentes, helicópteros e aviões militares a circularem activamente em volta da ilha. Aqui fica um vídeo com a canção oficial deste ano:





Muitos estrangeiros (e até alguns singapurenses) surpreendem-se quando digo que sou fã de Singapura: "O quê? Mas isto é tão 'sem sal'... uma Ásia sem sabor a Ásia... tão aborrecido..." Podem ter alguma razão (toda esta ordem pode por vezes sentir-se algo monótona), mas aqui há bastante sabor a Ásia e a tantos lugares e culturas. A não ser que se passe o tempo todo de restaurante em restaurante, de bar em bar, de shopping em shopping, de ar condicionado em ar condicionado. Há pedaços de Índia, de China, de Malásia, de "Ocidente". Comida de todo o lado - só pensando num foodcourt aqui perto: malaia, chinesa, indonésia, tailandesa, indiana, japonesa, coreana, "ocidental"... mais barata do que em casa. Pedaços de hinduísmo, islamismo, budismo, judaísmo, cristianismo de todas as cores, templos sortidos uns ao lado dos outros. Gente de todos os tons, tamanhos e feitios. Um arco-íris de humanidade. (Não admira que as canções oficiais do Dia Nacional tenham títulos como "We Are Singapore", "One People, One Nation, One Singapore", "Together", "One United People" - um pouco de propaganda pode ajudar a criar um espírito de unidade, de nação.)

Majulah Singapura!

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Espirros, tosse, arrotos e peidos

[Alguns leitores já estão talvez a entrar nesta bulicena com um pé atrás: “Que mau gosto escrever sobre estes assuntos! De que é que este tipo se lembrou desta vez??” Como sempre, quem não quiser ler - e for minimamente racional - não lerá!]

É curioso como quando alguém espirra é esperado, em muitas culturas, que as pessoas em volta lhe dêem uma palavra de apoio, desejando por exemplo saúde, longa vida ou bênçãos (p.ex., “saúde” ou “santinho” em português, “jesús” em espanhol, “bless you” em inglês). Por outro lado, quando alguém tosse não é esperado que se diga nada (ou talvez a mãe ou a avó mostre preocupação pela nossa saúde). Após um par de décadas de condicionamento, decidi há algum tempo deixar de dizer “santinho” ou “saúde”, para acabar com esta irracional discriminação (também poderia ter optado por desejar “saúde” em ambos os casos, mas então também deveria fazê-lo quando visse alguém coxear, ou com uma dor de cabeça ou algum outro incómodo – prefiro não ser tão consciente dos problemas alheios, não só para ter capacidade de me manter atento a outras coisas como para não ofender ninguém por desejar ou deixar de desejar “saúde”).

O arroto é considerado indelicado na maioria das sociedades que conheço. Consta que é uma forma de mostrar apreço pela comida em várias culturas asiáticas e africanas, mas sinceramente não recordo nenhum país em que tenha notado intenso recurso ao arroto nesse sentido (como admitido em outras ocasiões, é verdade que sou bastante distraído) . Fui educado para evitar arrotos espontâneos e nem sequer imaginar a possibilidade de ponderar a ideia de talvez, quem sabe, eventualmente, cometer a atrocidade de provocar um arroto (excepto em algum momento da minha infância em que estava com dores de barriga e a minha mãe generosamente me ensinou a provocar arrotos).

Há dias estava na silenciosa biblioteca do INSEAD, reputada instituição de ensino internacional, frequentada por jovens formados nas mais conceituadas universidades de todo o mundo, quando de repente se ouve um sonoro peido. As quatro pessoas ali perto olham para a quinta pessoa (não, não era eu – os meus condicionamentos não me permitem ser tão espalhafatoso), de onde tinha vindo o som e, quando parecia ter sido garantida audiência, ouve-se um novo sonoro e longo peido. Quatro pessoas reprimiram gargalhadas, a quinta continuou à procura dos seus livros, e a biblioteca voltou ao silêncio.

O espirro provoca tipicamente palavras positivas, de consideração, de apoio. Tosse, quando não ignorada, gera preocupação pela saúde de quem tosse. Arrotos e peidos costumam ser mal vistos, actos de manifesta falta de educação. Por quê esta discriminação entre diferentes fenómenos corporais? São fenómenos de diferente natureza mas com bastantes semelhanças. Todos implicam emissão de sons e expulsão de gases: ar com mais dióxido de carbono que o normal nos três primeiros, metano no último. A mistura dos peidos é geralmente mais fétida. Espirros e tosse (curiosamente os menos mal vistos) costumam expelir secreções potencialmente transmissoras de doenças. O metano, sendo altamente inflamável e causa de efeito estufa, poderia justificar a discriminação contra o peido por razões de segurança e/ou ambientais. Mas será que o espirro e a tosse não deveriam ser muito mais regulados, por questões de saúde pública (especialmente em épocas de pandemias de gripes asiáticas, aviárias, suínas, etc.)?

Como em muitas outros aspectos da vida, podemos escolher ver estes fenómenos corporais de forma positiva, negativa ou neutra. Não sou fã de maus cheiros alheios, mas parece-me justo que quem está com gases alivie o seu mal-estar (idealmente de forma discreta e sem incomodar o próximo, mas nem sempre isso é possível) e acho arrotos e peidos fenómenos bastante mais higiénicos e até divertidos do que espirros e tosse.

Por exemplo, diverti-me bastante com este vídeo do “Homem Peido” (apesar de provavelmente fraudulento, tendo em conta que o metano dos peidos é inflamável).

Melhores ainda sãos os dois vídeos seguintes, divertidos e educativos:



(ver também os restantes filmes em The Animals Save the Planet)


Mensagem: Comamos menos (ou nenhuma) carne, para diminuir a procura por vacas, e portanto o número de vacas no planeta, e consequentemente os peidos das vacas, o metano emitido e o efeito estufa provocado (extrapolando, comamos menos feijão e outros alimentos flatulentos, para reduzir as nossas próprias emissões de metano).



fonte: coughsafe


Mensagem: O hábito “educado” de pôr a mão à frente da boca ao tossir ou espirrar não é muito higiénico. Muito melhor seria se passássemos todos a tossir e espirrar para as mangas.


Engraçado como funcionam as convenções sociais, determinando de forma tirana e irracional (mas tantas vezes incontestada) o que é "de bom tom", de bom gosto, aceitável... Quem me dera que fumar estivesse classificado pelo menos a par do coitado do peido. A pressão sobre os fumadores tem aumentado significativamente ao longo dos anos (quem diria que o pesadelo de fazer 12 horas num avião com fumadores em volta nunca mais se repetiria?), mas é ainda insuficiente para eu ter pena deles. Estamos longe de se olhar para um fumador com o mesmo ar de censura com que se olha para alguém que sorve ruidosamente a sopa ou acaba de soltar um sonoro arroto ou peido.